quarta-feira, 21 de março de 2018

Quais são as qualificações dos presbíteros?

No artigo anterior eu havia falado para vocês acerca dos presbíteros e suas funções. Mas de qual forma tais homens são selecionados (ou ao menos deveriam ser) para o exercício do governo da igreja? A escolha de um presbítero não se dá levando em consideração critérios humanos como influência social, eloquência, posição hierárquica no trabalho ou o valor do dízimo devolvido ao Senhor.

Assim como a vida de cada cristão deve refletir a santidade de Deus, o governo da igreja também deve fazê-lo, de forma que os critérios para eleição dos líderes da igreja levam em conta os atributos comunicáveis do Senhor e a evidência dos frutos do Espírito na vida do candidato à presbítero. Tais características são apresentadas nos texto de I Timóteo 3:1-11 e Tito 1:6-16, transcritos abaixo para consulta do leitor: 

Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja.
Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;

Não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento;
Que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia
(Porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus? );
Não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta, e no laço do diabo.
Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância;
Guardando o mistério da fé numa consciência pura.
E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis.
Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo.
(I Timóteo 3:1-11)

Aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes.
Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância;
Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante;
Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes.
Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão,
Aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância.
Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos.
Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé.
Não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade.
Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes o seu entendimento e consciência estão contaminados.
Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra.
(Tito 1:6-16)

Os textos acima apresentam um rol de qualidades a serem observadas nos candidatos ao episcopado, e, tomando como referência a listagem apresentada no livro "Eu sou chamado?", de Dave Harvey, elenquei 11 características, que são:

  1. Não ser neófito (I Timóteo 3:6)
  2. Ser santo e irrepreensível (I Timóteo 3:2 e Tito 1:6-7)
  3. Ser esposo de uma só mulher (I Timóteo 3:2 e Tito 1:6)
  4. Ser temperante e sóbrio (I Timóteo 3:2 e Tito 1:6)
  5. Ser respeitável e ter bom testemunho dos de fora (I Timóteo 3:2,7)
  6. Ser hospitaleiro (I Timóteo 3:2 e Tito 1:8)
  7. Ser apto a ensinar e fiel à Palavra (I Timóteo 3:3,8 e Tito 1:7)
  8. Não ser intolerante ou arrogante (Tito 1:7) 
  9. Não ser amante do dinheiro e nem cobiçoso de ganho desonesto (I Timóteo 3:3,8 e Tito 1:7)
  10. Governar bem a sua casa, tendo filhos obedientes que são crentes e não abertos à acusação de dissolução ou de insubordinação (I Timóteo 3:4-5 e Tito 1:6)
  11. Não ser dado vinho (I Timóteo 3:8 e Tito 1:7)

Cumpre ressaltar que ter tais requisitos não necessariamente significa que um homem deve ser presbítero, nem que a ausência de alguns deles evidencie que um homem não tem tal chamado. Aliás, essa é a palavra a se observar: Chamado.

As características acima são parâmetros com os quais podemos identificar um homem chamado ao presbitério e ao pastorado, e não possuir todas elas não significa que um homem não tem o chamado de Deus, e sim que precisa desenvolver as demais qualidades durante a sua caminhada com Cristo. Aliás, visto que refletem a perfeição de Deus, tais qualidades devem ser buscadas por todo e qualquer cristão no curso da sua vida.

Não ser neófito

O presbítero não pode ser um novo convertido. Tal disposiçao pode ser analisada pelos seguintes pontos: (1) Pouco conhecimento da Palavra; (2) Falta de maturidade cristã.

Não há um critério temporal para ser considerado neófito, e por esta razão os pontos acima são extremamente necessários. 

Devemos considerar, ainda, a parábola do semeador, e ponderar que há possibilidade de agir sem cautela e eleger um cristão sem raízes como presbítero (Mateus 13:5-6,20-21). Isso acontece caso consideremos alguém para presbítero em razão do impacto inicial da Palavra no homem que a recebe com alegria, o qual, vindo as tribulações e aflições, esmorece na caminhada.

Outrossim, o conhecimento da Palavra por si só não basta para não ser considerado neófito, visto que tal conhecimento sem ação do Espírito Santo poderá ser instrumento do diabo para ensoberbecer o homem. Neste caso, é mais seguro analisar o conhecimento de tal homem acerca da sua própria salvação. Um homem que compreende a Teologia da Cruz é aquele a quem podemos considerar um cristão maduro, e tal compreensão poderá levar, em alguns casos, dois anos; em outros, dez.

Logo, observamos se um homem é neófito não por seu tempo na igreja, e sim por sua compreensão da Palavra e o que ela ensina acerca de Cristo. Podemos também, considerando a maturidade cristã, observar os frutos do Espírito que evidenciem que tal homem é filho de Deus.

Ser santo e irrepreensível

É necessário que o presbítero seja santo, ou seja, separado para Deus, separado do poder do pecado. Neste mesmo sentido, o presbítero tem que ser um homem irrepreensível, no sentido de ser um homem sem culpa.

Ser santo e irrepreensível é não ser escravo do pecado, e nem ter pecados não confessos que não foram apresentados diante de Deus em uma atitude de arrependimento. Logo, não pode ser um homem "culpado".

Um presbítero tem sobre si os olhos dos demais cristãos da igreja, que o imitarão em busca do reflexo de Cristo naquele líder (I Corintios 11:1). Logo, a necessidade de santidade e ausência de culpa se analisa no exemplo a ser dado perante a igreja e os de fora.

Não esqueçamos também que as ações da liderança com culpa são pedra de tropeço e razão de escândalo para o mundo e para os demais. A necessidade também se fundamenta na qualidade do testemunho.

Ser esposo de uma só mulher

Neste ponto, há quem defenda que o presbítero deve ser o homem que casou apenas uma vez. Assim, viúvos e homens que se divorciaram, ainda que na hipótese biblicamente permitida, não estão habilitados para ser presbíteros.

Tal posição não merece prosperar, visto que o que Paulo aponta é a necessidade de ter apenas uma esposa. Paulo estava vetando homens que viviam em poligamia (comum na época da igreja Primitiva). Há de se considerar também que, ao analisarmos as características do presbítero, todas elas são apresentadas no tempo presente, ou seja, qualidades que o mesmo possui ao tempo da eleição, e não que já possuiu ou virá a possuir (como se a ordenação revestisse o homem com tais atributos). Podemos considerar também que, se a intenção fosse falar de um único casamento, Paulo poderia ter reestruturado a frase de outra forma, como "casado só uma vez".

Ser temperante e sóbrio

O presbítero deve ser um homem moderado, equilibrado. Um homem impulsivo pode comprometer a igreja agindo por paixão (entendida como excesso de sentimento, seja ele qual for), da mesma forma que um líder apático e omisso poderá comprometer a igreja por não posicionar-se perante a sociedade ou mesmo perante a própria igreja para sustentar as decisões tomadas e lidar com a oposição.

É necessário que haja equilíbrio para ouvir a voz de Deus e fazer aquilo que o Senhor exigir.

Ser respeitável e ter bom testemunho com os de fora

Outro aspecto a se observar em um candidato ao presbitério ou pastorado é o testemunho não apenas dentro da igreja, mas também do lado de fora dela, de forma que haja coerência entre o que se vive e o que se prega.

O igreja deve procurar saber se o candidato é coerente com o Evangelho em sua vida familiar, acadêmica ou profissional, e perante a sociedade como um todo, da mesma forma que é na igreja em suas atividades eclesiásticas.

Cabe ressaltar que bom testemunho e respeito não significam aceitação e agrado, e sim coerência de vida testemunhável ainda que por pessoas que não concordem, visto que a nossa tendência é andar na contramão do mundo,  e não em conformidade com ele (Romanos 12:2). Um bom exemplo de respeitabilidade sem conformidade seria o do pregador John Knox e a Rainha da Inglaterra, Maria a Sanguinária, que chegou a declarar:

"eu temo mais as orações de John Knox do que os exércitos de dez mil homens contra nós"

Hospitaleiro 

A hospitalidade sempre foi um traço da comunidade judaica e da igreja Primitiva. Podemos ressaltar que não se trata meramente do presbítero abrir as portas da sua cada aos demais a todo momento, e sim guardar as condutas inerentes a ser hospitaleiro, como ser atencioso, generoso e acolhedor com os seus visitantes e hóspedes.

A hospitalidade, portanto, pode ser atestada na realização de cultos domésticos, nas visitas ou no acolhimento de um irmão no lar, e não simplesmente em hospedar aos demais.

Apto para ensinar e fiel à Palavra

Conforme podemos concluir pela leitura da carta de Paulo para Tito, o presbítero deve ser um homem apto a ensinar a Palavra: (1) visto que este será responsável por admoestar os membros da igreja de suas incorreções (2), para ser capaz de defender as Escrituras daqueles que se opõem (3) e combater falsos mestres e doutrinas.

Uma igreja saudável necessita de conhecimento da Palavra, cabendo as presbíteros precipuamente o ensino da mesma. Há de se deixar claro que o Senhor, ao dispensar os dons à igreja, capacitará alguns com o dom do ensino, o que não necessariamente significa que tal cristão tenha um chamado para ser presbítero da igreja. Dom de ensino e aptidão para ensinar tem extensões diferentes: o dom é a excelência dada por Deus para edificação da igreja, a aptidão para o ensino é a capacidade de ensinar de maneira correta; todo homem com o dom de ensino é apto para ensinar, mas nem todo homem apto para ensinar tem o dom do Espírito para isso.

Logo, nem todo presbítero terá o dom do ensino, mas todo presbítero tem que ser capaz de ensinar a Palavra corretamente. Todo presbítero tem necessidade de ser teólogo e conhecer a Palavra, a fim de não ensinar incorretamente. Tal disposição encontra fundamento na própria prerrogativa do presbítero de repreender os membros da igreja em seus pecados, o que demonstra no mínimo o conhecimento de que a conduta de tal membro é pecaminosa.

Não apenas apto para admoestar a igreja, o próprio presbítero deve ser fiel àquilo que ensina. Sendo constante e zeloso no seu proceder de acordo com a Palavra de Deus.

Visto que principados e potestades desejam causar o maior dano possível à igreja e seus membros, numa tentativa maligna de embaraçar a proclamação do Evangelho, surgem no seio da igreja falsos mestres e doutrinas, devendo o presbítero ser conhecedor da Palavra, a fim de combatê-los, como Paulo recomendou que fizessem os presbíteros que seriam eleitos na igreja de Creta.

Não ser intolerante ou arrogante

A intolerância é uma evidência da dificuldade de amar ao próximo (que é o segundo grande mandamento), sendo incabível cogitar um presbítero incapaz de compreender o próximo e que haja com repulsa diante daquilo que lhe seja contrário. O líder da igreja encontrará sempre pessoas com valores e ideias que divergem das próprias, devendo ter o coração aberto para ouvir, julgar e reter aquilo que for de acordo com a Palavra, ainda que isso signifique quebrar seus próprios conceitos.

Já a arrogância é um evidência da falta de humildade, de um orgulho agudo, sendo certo que tal característica não pode ser encontrada em um presbítero (ou qualquer cristão), visto que o Senhor rejeita os soberbos (Tiago 4:6). Um homem que tem dificuldade de ser humilde e sujeitar-se ao senhorio de Cristo dificilmente conduzirá a igreja para que assim o faça.

Não ser amante do dinheiro e nem cobiçoso do ganho desonesto

A preocupação com o amor às riquezas terrenas foi motivo de advertências do próprio Senhor Jesus (Mateus 6:19-21 e 24; 19:16-30), razão pela qual o candidato a presbítero não pode mostrar-se demasiadamente preocupado com as riquezas materiais. Podemos considerar a possibilidade de tal tipo de homem não dispensar todos os recursos financeiros necessários à obra pelo desejo maior de guardar dinheiro, ainda que sem razão para fazê-lo. O amor ao dinheiro é idolatria, violação ao primeiro grande mandamento.

Quanto a cobiça de ganho desonesto, podemos considerar o desejo de ganhar injustamente, de tirar vantagem excessiva na prática de serviços e na gestão de seus bens, ainda que isso pressuponha aproveitar-se da boa-fé e inocência alheia. Os homens que tais coisas praticam não devem ser eleitos ao presbitério, visto que desconsideram o agir de forma justa e a dignidade do salário do seu trabalho e dos demais. Vemos o possível exemplo de um homem que praticou e buscou correção de tal postura em Zaqueu, o publicano (Lucas 19:2-10).

Governar bem a sua casa, tendo filhos obedientes que são crentes e não abertos à acusação de dissolução ou insubordinação

Tal disposição tem sua razão de ser visto que, na ordem da criação, ao homem foi dada a responsabilidade de cuidar de sua família antes mesmo da aliança. Um homem que não governa sua casa bem, ou seja, biblicamente, não terá tal capacidade com a sua igreja (I Timóteo 5:8).

Quanto aos filhos, considerando o fato de que a salvação é individual e o chamado de Deus independe da vontade humana, não podemos considerar que um homem esteja desqualificado para exercer o presbitério se um de seus filhos não for cristão. A inteligência do versículo nos leva a ponderar que, quanto aos filhos que são crentes, estes não podem ser abertos à acusação de dissolução ou insubordinação, o que nada mais é que o reflexo da criação recebida de um pai santo e irrepreensível. E, ainda que possua filhos que não são cristãos, estes devem ser subordinados à autoridade do candidato, que, ainda que não tenha poder para converter seus filhos, tem o dever se guiar sua família nos valores morais cristãos.

Fortalecendo o posicionamento acima, consideremos também a hipótese de um candidato solteiro: este regerá bem a sua vida familiar, ainda que não seja o cabeça de sua casa ainda, agindo como o filho obediente, subordinado à autoridade dos pais, honrando-os, da forma que Deus espera dos Seus (Efésios 6:1-3). Não possuir filhos ou esposa não o desqualifica para o exercício do cargo de presbítero, pois, conforme já refletimos, tais recomendações podem não ser totalmente encontradas nos candidatos.

Não ser dado ao vinho

Bem... Esse requisito será abordado em apartado, visto que pretendo me estender um tanto mais no tema!

Concluindo...

Devemos buscar líderes para nossas igrejas dentro daquilo que a bíblia considera importante. Os versículos acima nos apresentaram evidências do chamado de um homem para liderar sua igreja. Não esqueça que somos imperfeitos, e que talvez boa parte das características acima levem uma vida inteira para ser desenvolvidas!


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