quarta-feira, 22 de setembro de 2021

O ministério do Espírito Santo na criação, na graça comum e na salvação


O Espírito Santo na história da igreja

O conceito de Trindade não se encontra nas Escrituras, e sim na produção teológica da igreja pelos séculos, sendo certo que encontrou seu ápice no conflito entre Ário e Atanásio.  Havia pouca clareza sobre a triunidade de Deus na Igreja Primitiva, e principalmente, havia pouca clareza acerca do Espírito Santo.

É certo que o Espírito Santo não ocupava lugar de importância nas discussões da igreja, de forma que a definição da sua divindade apareceu pela primeira vez no Credo Niceno-Constantinopolitano (381 d.C.), mediante o trabalho dos Pais Capadócios, e, em especial, Basílio, o Grande. O teólogo considerava os pneumatômacos que rejeitavam a divindade do Espírito como apóstatas e declarava:

"Pelo Espírito Santo vem a restauração ao paraíso, a ascensão ao reino do céu, a volta à adoção como filhos, a liberdade de chamar Deus de Pai, sermos feitos participantes da graça de Cristo, sermos chamados filhos da luz, compartilharmos da glória eterna e, em poucas palavras, sermos levados a um estado de toda a "plenitude da bênção",  tanto neste mundo como no mundo porvir."

As discussões acerca do Espírito Santo também foram a razão da separação da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa, na controvérsia acerca da Cláusula Filioque inserida no Credo de Niceia pelo Sínodo de Toledo, ocorrido em 589 d.C.

A despeito das discussões acerca do Espírito serem tão recentes na história da humanidade, a pessoa do Espírito, sendo Deus, está presente desde a eternidade. A ascensão de Cristo ao céu não é o marco inicial da ação do Espírito Santo na história da criação, e Seu ministério não é limitado ao período histórico posterior ao episódio da Festa de Pentecostes narrado em Atos 2.

Conforme podemos constatar na Palavra de Deus, o Espírito Santo sempre teve Sua participação na economia trinitária, desde a criação, até mesmo na graça comum e na salvação da humanidade, a qual não se restringe à obra do Pai e do Filho.

O Espírito Santo na criação

O relato de Gênesis apresenta Deus Pai como agente primordial, o qual inicia o ato da criação. Quanto ao Filho, vemos em João 1:3 que sem Ele nada do que existe teria sido feito. Jesus, portanto, é o agente eficaz que executa os planos e as ordens do Pai acerca da criação e da salvação. 

Quanto ao Espírito Santo,vemos em Gênesis 1:2, que o mesmo "pairava por sobre as águas". A Bíblia de Estudo de Genebra, ao comentar o versículo, nos diz que "o poderoso Espírito transformou a terra emergente num habitat para os seres humanos e, depois, deu-lhe o sábado para o descanso".

Os materiais teológicos acerca da participação do Espírito Santo na criação são escassos, e teólogos como Wayne Grudem afirmam que a narrativa bíblica aponta para uma função preservadora, sustentadora e regente.Tal posição, conforme veremos nos tópicos seguintes, encontra respaldo nas demais atribuições do Espírito, em especial no plano da salvação, no qual desempenha um papel primordial desde a conversão individual de cada cristão até o retorno de Cristo.

O Espírito Santo na graça comum

Uma vez que Deus é criador de todas as coisas, e sustenta a eternidade em Suas mãos, conclui-se logicamente que a ação do Espírito Santo não se restringe às ações que conduzem o homem à salvação. Se Paulo nos ensina, em Romanos 8:34, que Cristo ressuscitou dentre os mortos e está a direita do Pai intercedendo por nós, podemos concluir que é função do Espírito Santo operar tanto a graça salvifica quanto a graça comum, manifestando a presença ativa de Deus no mundo, e em especial na igreja.

A Graça comum pode ser considerada como a bondade do Senhor que é derramada sobre toda a criação, e não apenas sobre a Sua igreja. Um bom exemplo da graça comum mediante o Espírito Santo pode ser encontrado na história da fuga dos hebreus no Egito, onde se evidencia que o Senhor endurece o coração de Faraó antes de efetivamente fazê-lo autorizar a saída do povo após a última praga. 

Vide que em sentido contrário, é o Espírito Santo que refreia todo o potencial lesivo do pecado dos homens, e, ao evitar que o ser humano cometa os pecados mais pífios do íntimo do seu ser, está abençoando crentes e descrentes igualmente. Ao levantar José para preservar o povo hebreu da fome no Egito, preservou também os próprios egípcios, sendo um claro exemplo da graça comum.

O Comentário dos 28 Artigos da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo aborda a obra do Espírito Santo no pecador (Art. 1º) e dispõe que o Senhor "possui sabedoria, poder e bondade tão vastos que os homens não os podem compreender; conforme Sua soberana e livre vontade governa todas as coisas".

Durante esse governo eterno, suas obras e criaturas manifestam não apenas a Sua existência, como também Seus atributos, conforme Romanos 1:19-20. Infere-se, portanto, que a perdição é a condição natural do homem, e a condenação não decorre da incapacidade de receber a graça salvífica, e sim na incapacidade de reconhecer ao Senhor na graça comum.

O Espírito Santo na salvação

Se há um um capítulo na história da relação de Deus com a criação, é na obra da salvação que a ação do Espírito Santo é mais clara, afinal, é o Espírito Santo quem opera o chamado eficaz e a regeneração. Conforme as palavras do próprio Jesus Cristo em João 16:7-11, o Espírito Santo é o Conselheiro que convence o homem do pecado, da justiça e do juízo.

No plano da salvação, há um renovo espiritual que habilita o homem para atender ao chamado de Cristo, a regeneração do pecador, que conforme Ezequiel 36:26-27, ocorre através da habitação do Espírito no coração do homem, para que ande nos estatutos do Senhor. A regeneração operada pelo Espírito Santo é um processo espiritual pelo qual o Senhor remove a dureza do coração do homem, trazendo vida nova.

Neste sentido, vemos o próprio Jesus ensinar Nicodemos acerca da necessidade do novo nascimento através do Espírito, conforme João 3:5-8. Vide também que em Atos 10:44 o Espírito Santo foi derramado sobre os gentios que receberam a pregação de Pedro, de forma que o batismo não poderia ser negado aos mesmos.

No plano da salvação, o Espírito Santo é responsável por conceder ao homem o discernimento da realidade espiritual, conforme Paulo em 1 Coríntios 2:12-14. Fica evidente no texto do apóstolo que o homem em seu estado natural é incapaz de compreender a existência e obras de Deus, muito menos o plano da salvação executado por Jesus Cristo. Para estes, o evangelho é uma loucura, pois necessitam de um discernimento espiritual, o qual é concedido pelo Espírito Santo.

Dentro do plano da salvação, o Espírito Santo é responsável não apenas pela regeneração, como também pela santificação. Compete ao Espírito Santo guiar o cristão, fazendo-o desenvolver o fruto do Espírito, conforme Gálatas 5:22. A partir do momento que somos regenerados como filhos de Deus passamos a ser guiados pelo Espírito Santo, conforme Romanos 8:14. Paulo compreende que somos passivos, e dependentes da obra do Espírito para viver uma vida de santificação.

Por fim, no plano da salvação o Espírito Santo é responsável pela preservação dos santos: todos os filhos de Deus serão preservados por Deus até o final da vida. Compete ao Espírito Santo nos selar até o fim dos tempos, como nosso penhor, nos termos de Efésios 1:13-14.

Conclusão

Ao analisarmos o ministério do Espírito Santo, resta-nos evidente o papel que Ele exerce na economia trinitária. Compete ao Pai definir o plano da salvação, ao Filho executá-la no Seu próprio sacrifício, e ao Espírito Santo efetuar a manutenção dessa obra.

Conforme mais evidente nos dons distribuídos para a igreja, compete ao Espírito Santo manifestar aos homens a existência e o poder de Deus, o que também ocorre na dispensação da graça especial e da graça comum, na criação de todas as coisas, na regeneração, santificação e preservação do cristão até o fim dos tempos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

Olson, Roger E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas / Roger E. Olson; tradução Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida, 2001.

Berkhof, Louis. História das doutrinas cristãs / Louis Berkhof; tradução de Gordon Chown, João Marques Bentes. - São Paulo: PES - Publicações Evangélicas Selecionadas, 2015.

Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª ed. Barueri, SP : Sociedade Bíblica do Brasil ; São Paulo : Cultura Cristã, 2009.

Carreiro, Vanderli Lima. Nossa Doutrina - Comentário dos 28 Artigos da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo : Rio de Janeiro, Unigevan Editora, 2005, 305p.

A Obra do Espírito Santo na Graça Comum - Parte II (monergismo.com)

Daniel e Eclesiastes 11:9-10

 "Jovem, alegre-se em sua juventude! Aproveite cada momento. Faça tudo que desejar; não perca nada! Lembre-se, porém, que Deus lhe pedi...