terça-feira, 23 de maio de 2023

Mandado Cultural - A relação do cristão com o mundo

Mandado Cultural

A relação do cristão com o mundo


Introdução

A bíblia nos ensina em Gênesis 1:26 que Deus fez o homem a sua imagem, conforme a Sua semelhança. Na prática a gente não pensa muito nisso, e a discussão sobre o que o Senhor quis dizer com isso acaba ficando muito restrita aos círculos de debate teológico, escolas dominicais e sermões expositivos. 

Ocorre que esse conceito é de extrema importância para nossa, e está longe de ser uma mera discussão e conceituação sem implicação prática. Compreender a imagem e semelhança de Deus vai nos ajudar a compreender o que é o mandado cultural, e nos tornar cristãos mais conscientes sobre nós mesmos e nossa relação com o mundo a nossa volta.

O homem à imagem e semelhança de Deus

Imagem (tselem) e semelhança (demût) são dois termos que aparecem na mesma frase, na qual o nosso Senhor informa o seu desígnio de criar uma nova criatura totalmente diferente de todas as demais. Esta nova criatura criada por Deus foi moldada pelo próprio Senhor, que soprou o fôlego de vida em suas narinas e lhe deu uma missão gloriosa. Essa nova criatura divergia das demais, porque ela carregava em si mesma a imagem de Deus. O homem, segundo essas palavras, é similar, porém não idêntico ao Deus que o criou, tendo recebido a tarefa de representá-lo no cuidado do Jardim do Éden.

Como bem se entende hoje, dizer que o homem carrega a imagem e semelhança de Deus significa que Ele foi criado com características do Senhor, para representá-lo em funções semelhantes às que o nosso Deus exerce dos altos céus. Com isso, carregar em si a imagem de Deus significa que o homem possui aspectos semelhantes ao do Senhor, tais quais:
  • Capacidade intelectual
  • Pureza moral (antes da Queda)
  • Natureza espiritual
  • Domínio sobre a terra
  • Criatividade
  • Capacidade de tomar decisões éticas
  • Imortalidade (antes da Queda)
  • Sociabilidade e comunhão
Mesmo a Queda foi incapaz de tirar do homem a imagem de Deus (Gn 9:6 c/c Tg 3:9), mas tirou dele a plena semelhança com o Senhor, tendo em vista que o caráter pecaminoso do homem é incompatível com a santidade de Deus. Assim, o homem carrega em si mesmo a imagem de Deus corrompida pelos seus próprios pecados. Moral, intelecto, vida espiritual; tudo se encontra corrompido pela Queda do homem.

O que são os mandados criacionais?

Embora a imagem de Deus em nós esteja distorcida pelo pecado, ainda representamos o Senhor naquilo que Ele determinou que caberia à humanidade efetuar.  Podemos dividir a forma como o homem representa Deus na sua relação com o cosmos utilizando os três mandados criacionais encontrados desde o início da história humana.
  1. Mandado cultural - o homem precisava cultivar e proteger o Jardim do Éden.
  2. Mandado social - o homem recebeu a ordem de crescer e multiplicar, constituindo família.
  3. Mandado espiritual - o homem precisava se relacionar com Deus.

O que é o mandado cultural?

A criação do homem à imagem de Deus tem como aplicação os mandados criacionais, sendo o primeiro deles o mandado cultural. Ele se realiza através do domínio e sujeição (Gn 1:28) e da guarda e cultivo (Gn 2:15). Basicamente homem e mulher deveriam governar, desenvolver e manter o cosmos através do seu trabalho, que não pode ser interpretado como castigo, mas como um privilégio e responsabilidade. Pelo mandado cultural, compete ao homem cuidar da criação e do seu próximo.

Recebemos do Senhor a missão de reger a criação, portanto, o homem deve se envolver em todas as áreas que impliquem necessariamente no seu dever original de cuidar da criação, tais quais:

  • Política
  • Comércio
  • Artes
  • Trabalho
  • Indústria
  • Tecnologia
  • Lazer
  • Ecologia

Como funciona na prática?

Levando em consideração tudo que já foi dito, fica claro que o mandado cultural está longe de ser um mero conceito. Nele consiste a base da relação do homem com tudo a sua volta.  Se o homem recebeu uma missão desde o Éden que compreendia cuidar do jardim do Senhor, isso mostra a nossa responsabilidade com tudo que ocorre à nossa volta.

É preciso entender como o pecado afetou não somente a imagem de Deus em nós, como também a nossa capacidade de representá-Lo no cuidado do universo. Veja que nosso pecado não afeta somente o planeta terra, e um exemplo muito simples dessa afirmação é o fato de que atualmente nós somos capazes de produzir lixo espacial composto pelo resto de satélites e espaçonaves que lançamos para fora do planeta.

O homem que deveria dominar e sujeitar a natureza com amor e zelo, atualmente o faz de forma predatória, sem qualquer preocupação efetiva com guardar e cultivar aquilo que diariamente consome e destrói para fins de lucro, poder, acumulação de riquezas. Animais e plantas que deveriam ser preservados acabam sendo extintos, o solo que deveria ser cultivado é explorado até se tornar infértil e as árvores que deveriam prover sombra, alimento e recursos são desmatadas violentamente.

Na prática, compreender o mandado cultural é compreender que Deus te deu uma missão desde o início dos tempos. Você precisa representar Ele na forma como interage com o universo a sua volta! Precisa combater os impactos do pecado na natureza a sua volta! Como cristão, você precisa ser um agente de transformação e preservação. Deus não te criou pra destruir tudo a sua volta para satisfazer seus próprios desejos, afinal, você é apenas um servo cuidando da propriedade do seu Senhor. 

É a luta por políticas públicas de preservação e proteção da natureza, seres vivos e outros seres humanos; é o comércio que não explora o mercado de consumo; é a preocupação com a ecologia, com o impacto da indústria no meio ambiente, na forma que as tecnologias afetam nossa relação com o universo. 

Mandado cultural não é só um conceito. É a forma como você se relaciona com o mundo.





sábado, 20 de maio de 2023

O testemunho de João Batista (João 1:15-18)

 "João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou."

João 1:15-18


A partir do momento que João nos apresenta a dupla natureza de Cristo e seus aspectos mais marcantes de vida e ministério, ele passa a escrever a história do ministério de Jesus. Nosso Senhor é apresentado como plenamente Deus (1.1-13), plenamente homem (1.14), e agora nos é apresentado como o Messias esperado (1.15). João Batista é o último profeta, pois ele é o último a profetizar a vinda do Messias (Mateus 11:11-13), sendo seguido pelo próprio Senhor Jesus pregando acerca de Si e do Reino de Deus.

A vida e ministério de João Batista tiveram como objetivo testificar acerca da vinda do Messias,  sendo ele a voz que clama do deserto e que endireitaria o caminho para chegada do salvador. João portanto nos é apresentado nesse texto como aquele que pregou e proclamou abertamente a vinda de Jesus, que iniciou seu ministério de ensino, pregação e martírio depois de seu primo. É por essa razão que o profeta declara que Jesus veio após ele, reconhecendo que mesmo sendo considerado um grande homem, sua vida e objetivo nada mais era do que preparar as pessoas para a vinda de Jesus.

Ainda que fosse alguns meses mais velho que nosso Senhor Jesus, João declara que Cristo foi primeiro do que ele. Isto porque o ministério de Jesus e sua obra de salvação não apenas estão decretadas desde o início dos tempos, como também desde o início todas as coisas foram feitas por meio dEle, e sem Ele nada existiria. No tocante ao ministério de salvação, o do nosso Senhor Jesus não inicia aos 33 anos de idade, após o seu primo, e sim já no seu nascimento, fazendo-se homem como nós, para ser capaz de nos representar na cruz.

Em seguida o autor bíblico afirma que todos nós recebemos da plenitude e graça por graça do nosso Senhor Jesus. Esse conceito de plenitude passa a ser o aspecto de destaque de todas as afirmações seguintes, conforme veremos a seguir.

Em primeiro lugar, recebemos da plenitude do nosso próprio Senhor Jesus. Isso significa que Jesus Cristo deu a si mesmo por completo para nós e em nosso benefício. Jesus foi plenamente verdadeiro acerca de Si mesmo e do Seu ministério, não tendo deixado nada oculto ou restrito para um determinado grupo, como os gnósticos gostavam de afirmar haver um conhecimento secreto de Jesus passado para um grupo restrito de cristãos mais elevados. Todas as coisas acerca de Jesus que os homens precisavam conhecer foram graciosamente reveladas a todos os homens.

Cristo não apenas se deu a conhecer plenamente a todos os homens, como também entregou a Si mesmo de forma integral, sofrendo a morte em nosso lugar. Ele não apenas compartilhou os seus ensinos, como também deu a Si mesmo para sofrer em nosso lugar. Nosso Senhor se entregou ao martírio, sendo torturado e sacrificado por nós.

Em segundo lugar, João declara que recebemos a plenitude e graça de Jesus por graça. É importante deixar claro essa informação, de que Jesus entregou a Si mesmo, completamente, não pelos nossos méritos e merecimento, tendo em vista que nada tínhamos para oferecer a Ele. Jesus se entregou por nós pela sua exclusiva misericórdia e bondade. A graça da nossa salvação nos foi concedida gratuitamente e sem merecimento algum. Mesmo a nossa obediência à Palavra não nos torna merecedores dessa salvação, pois a nossa carne é pecaminosa, e mesmo nossas boas ações podem esconder más desígnios e motivações.

Quando Adão pecou no Éden não havia qualquer mérito nas suas ações e palavras, e já naquele momento o Senhor determinou que enviaria o Seu Filho para reparar o erro do primeiro casal. Deus gratuitamente oferece a salvação para a humanidade condenada por Adão.

Em terceiro lugar, em Cristo está a plenitude da revelação. Os judeus justificavam a si mesmos nas obras com base na Lei. Moisés era estimado e considerado extremamente importante na religião judaica, por ser aquele a quem o próprio Deus revelou a Sua Lei para toda humanidade. Ao criar uma comparação entre Moisés e Jesus, João não está criando uma divisão entre Lei e Graça e Verdade, como se o próprio Moisés e demais pessoas antes da vinda de Jesus tivessem vivido uma mentira.

A Lei em si mesma já possui aspectos de graça, como a possibilidade de expiar por pecados através de um sistema sacrificial, determinações morais, civis e religiosas que demonstram o aspecto cuidadoso do Senhor em relação ao Seu próprio povo escolhido e até mesmo por demonstrar a necessidade de se apresentar santo diante do Senhor. A Lei dada por intermédio de Moisés era verdadeira, pois Deus não é homem para mentir, e nem conduziria Seu povo em engano. Ela servia não para salvar o homem, mas para mostrar ao homem sua necessidade de ser salvo. 

O que João está nos ensinando é que a plenitude da graça e verdade vieram através do Senhor Jesus Cristo. Se no Antigo Testamento era possível expiar cada pecado individualmente através do sacrifício determinado, em Cristo há o sacrifício definitivo para a expiação de não apenas um, mas sim de todos os pecados de todos os indivíduos a quem desejou salvar. A Lei de Moisés é verdadeira ao profetizar a vinda do Messias, sendo Jesus Cristo a própria verdade da Salvação. Jesus não revoga o Antigo Testamento, sendo na verdade Ele mesmo a plenitude da vontade de Deus profetizada.

Antigo e Novo Testamento são igualmente a revelação de Deus para os homens, sendo certo que no AT Deus promete a redenção dos homens e revela Seu plano de salvar a humanidade através do Seu Filho. Em alguns momentos o próprio Jesus aparece aos homens, mas a revelação de fato ocorre com o nascimento o ministério do Filho. O AT revela uma parcela do caráter de Deus, enquanto o próprio Jesus nos permite conhecê-lo por completo.

Nisto consiste o último ponto: Cristo é a plenitude de Deus. João nos declara que ninguém viu a Deus, tendo sido Jesus a revelar quem o Senhor era. É por isso que Ele declara a Felipe que quem vê a Ele, vê ao Pai (João 14:9). Jesus possui a mesma majestade, glória, autoridade e poder que o Pai e o Espírito Santo, sendo consubstancial com os demais membros da Trindade.

E como isso se aplica a nós?

Primeiro, precisamos ter a mesma humildade e discernimento de João Batista e compreender que nossas vidas e ministérios, por mais grandiosos e frutíferos que sejam, não são o mais importante. É preciso proclamar ao Senhor Jesus com todas as nossas forças, fazendo com que Ele cresça e nós sejamos cada vez mais irrelevantes diante da verdade do Evangelho. Se nossas carreiras religiosas e seculares colocam a pessoa de Jesus em segundo plano, elas estão nos conduzindo por caminhos de perdição e engano.

Segundo, não há uma verdade secreta do evangelho escondida para nenhum grupo de pessoas especiais. Todos somos igualmente pecadores, e necessitados do Senhor Jesus. A verdade de Deus não está escondida, mas plenamente revelada na Palavra e na pessoa de Jesus. Nosso Senhor não apenas se deu a conhecer por completo, como também Se deu por completo em nosso benefício, sem ocultar esse fato de ninguém. 

Terceiro, precisamos tomar cuidado com o erro dos fariseus e nos tornarmos legalistas, tomando nossas ações como a nossa própria justiça. A Lei nos mostra que somos pecadores, e se nos atermos simplesmente ao que se deve ou não fazer podemos cair no erro de justificar nossas próprias ações e nos considerarmos justos pelas nossas obras. Além disso, corremos o risco de perder o olhar misericordioso em relação ao próximo, que é igualmente pecador, embora aos nossos olhos nossos pecados são sempre justificáveis. Ao ler a Palavra também precisamos aprender a misericórdia e amor do Senhor Jesus diante da nossa incapacidade de ser perfeitos.

Quarto, se Jesus é a plenitude de Deus não precisamos buscar ao Senhor em rituais, visões e atos proféticos. Se queremos conhecer a vontade de Deus não precisamos buscar novas revelações fora da Palavra: basta aprender com o próprio Jesus Cristo. Deus não se comprometeu a trazer novas revelações, e nem estabeleceu oráculos para atualizar constantemente os homens acerca do que é agradável a Ele. O Senhor nos deixou Sua Palavra, para meditarmos nela e encontrarmos todas as respostas que precisamos.



A humanidade de Cristo (João 1:14)

 "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade."

João 1:14


O Evangelho de João inicia com a declaração de que no princípio era o Verbo, apresentando para nós a divindade de Jesus Cristo, como o Criador e Mantenedor de todas as coisas. Os versículos 1 a 13 tem por objetivo afirmar a divindade de Cristo, o nosso Deus. Já o versículo 14 é uma adição às informações anteriores. Jesus não apenas era o Verbo, Deus da Eternidade, como também se fez homem e habitou entre nós. É portanto uma afirmação da humanidade de Cristo.

Jesus não era um receptáculo que foi possuído pelo Espírito de Deus para realizar uma obra na terra, pois assim fosse, a ação de salvar teria sido realizada pelo Espírito Santo, e não pelo Filho. Também não era uma espécie de holograma espiritual que as pessoas poderiam ver, porém não poderiam tocar, caso assim fosse, a mulher com fluxo de sangue não teria tocado as Suas vestes e sido curada. Jesus também não era dotado de dupla personalidade, como se em seu corpo houvesse um homem chamado Jesus e o Filho de Deus como duas personalidades diferentes que se alternavam conforme o momento. Todos esses exemplos acima dizem respeito à heresias que já foram combatidas na história da Igreja.

O que João está nos ensinando, e que diversos outros textos corroboram, é que Jesus Cristo era plenamente Deus (1-13) e plenamente homem (14). Não havia divisão entre sua humanidade e divindade, e nem uma porção maior em detrimento da outra. A humanidade e divindade de Jesus Cristo eram plenas, e para isso, João nos apresenta algumas informações.

Em primeiro lugar, o Verbo se fez carne. A humanidade de Jesus era necessária para cumprir o plano da salvação. O homem pecou contra Deus, e era incapaz de pagar o preço do próprio pecado. Desde Adão e Eva nunca houve um homem capaz de expiar o preço dos próprios pecados de maneira permanente, de forma que o homem jamais poderia se apresentar diante de Deus santo. A mancha do pecado nos torna incapazes de nos apresentar diante de Deus. Seria como o culpado de um assassinato se apresentar diante do seu próprio juiz segurando a arma do crime, com as roupas ainda sujas do sangue da sua vítima.

A pena de um crime é proporcional ao dano causado, para que haja efetiva justiça e reparação do bem jurídico em questão, e, no caso do pecado, o bem jurídico a ser considerado é a glória do próprio Deus, que é Eterno e Perfeito. Portanto, como seríamos capazes de reparar um crime cuja vítima e glória são eternos e perfeitos? Sendo nós imperfeitos e finitos, a nossa vida como um todo seria incapaz de pagar a dívida que temos com Deus, assim como vemos na parábola do súdito incapaz de perdoar o seu servo (Mateus 18:21-35), cuja dívida não poderia ser paga nem com a totalidade dos seus dias e dos seus filhos. 

Por outro lado, não haveria justiça se um anjo pagasse o preço do pecado dos homens, sendo certo que fora a humanidade quem pecou, e não qualquer das legiões celestiais, as quais ainda conseguem estar próximas do Senhor, mesmo que cubram a própria face com suas asas.  Ninguém pode ser condenado pelo pecado dos outros, de forma que se o homem pecou, o homem deveria pagar o preço do seu próprio pecado.

Assim, Jesus assume a forma de homem, nascendo da virgem Maria e pagando o preço do nosso pecado. Por ser plenamente homem, Ele poderia oferecer a Si mesmo como o Réu pelo crime cometido contra Deus, pois em nada era diferente de Adão, sendo inclusive chamado de segundo Adão, pelo qual veio a justificação. Ao mesmo tempo, sendo plenamente Deus, Ele tinha a totalidade da glória e majestade necessária para perdoar o pecado cometido contra o Rei Glorioso e Eterno.

Em segundo lugar, Jesus habitou entre nós. Ele não apenas assumiu a forma de homem como também viveu como um. Ele sentiu na própria pele tudo aquilo que nós sentimos. Ele teve momentos de alegria e comunhão com seus discípulos, tinha uma rotina e vida de oração, ia para as sinagogas ensinar o verdadeiro significado da Palavra de Deus. Ele teve fome e sede, ele sentiu compaixão, e até mesmo precisou aprender a andar e falar, como qualquer um de nós precisou um dia.

Por outro lado, ele também experimentou a dor, sofrimento e angústia. Ele chorou durante o luto de Lázaro, Seu amigo. O Senhor foi alvo de injustiça e em tudo foi tentado, assim como cada um de nós. Ele não foi homem apenas na sua biologia, como também em toda a experiência de ter uma vida social, sentimental e religiosa. O nosso Senhor Jesus não passou pela terra alheio a tudo que estava acontecendo, pelo contrário, ele se importou com as necessidades das pessoas a Sua volta, alimentando os que tinham fome, curando os que estavam doentes e libertando os que estavam cativos de demônios. 

Em terceiro lugar, a humanidade pode finalmente contemplar a glória do Filho de Deus, o Unigênito do Pai. Mesmo sendo um homem como todos os demais, a glória de Deus finalmente pode ser contemplada pelos homens através da figura do próprio Filho. Havia mais na Sua presença e Suas palavras, pois todas as suas ações e pronunciamentos demonstravam a todos os homens a Sua autoridade divina. João nos afirma a superioridade de Jesus Cristo, incomparável a qualquer criatura nos céus e na terra. Isso porque Jesus é a exata expressão do Ser de Deus, mesmo tendo se esvaziado para viver como todos nós.

Sua glória se manifestava quando o Senhor falava, e Suas palavras paravam tempestades e expulsavam demônios de pessoas cativas. Quando Ele manifestava Sua vontade dizendo "Quero que seja curado", e de fato a pessoa era curada. Quando Ele proferia parábolas que faziam as escamas dos olhos das pessoas caírem e elas finalmente poderem contemplar a vontade verdadeira de Deus para vida delas. Seus sermões e ensinos eram gloriosos, e levavam as pessoas ao arrependimento e conversão genuína, tirando-as das trevas da iniquidade e dos ensinos de homens.

Sua glória se manifestou na vida de perfeita conformidade com a vontade do Pai. Desde a eternidade todos os aspectos da vida de Jesus Cristo foram proféticos, pois foram profetizados na Palavra de Deus do Antigo Testamento. Desde a profecia de que a salvação dos homens nasceria de uma virgem (Isaías 7:14), até mesmo as suas últimas palavras na cruz (Salmos 22:1) foram para cumprir integralmente a Palavra de Deus. Sabemos que nosso Senhor Jesus em tudo foi tentado, mas diferente de nós, Ele nunca pecou. Cristo foi o homem perfeito, o único que existiu, o único capaz de pagar o preço dos nossos pecados, pois era o único que poderia se apresentar diante de Deus sem qualquer pecado. Ele foi obediente até a morte de cruz para ser o Cordeiro sem manchas que aplacaria a ira do Senhor. Jesus foi o sacrifício perfeito.

Em quarto lugar, Jesus foi cheio de graça e verdade. A Palavra de Deus registra diversos milagres e demonstrações do poder de Jesus como Deus, e ainda assim, o que João destaca são suas expressões de misericórdia e verdade. Isso porque a vontade de Deus é que sejamos a imagem e semelhança do nosso Senhor, agindo na nossa vida da forma que o próprio Jesus agiu.

Cristo enquanto homem é gracioso, e todas as suas ações enquanto caminhou conosco foram expressões da Sua misericórdia. Ele jamais curou um enfermo ou libertou um endemoninhado com vistas a ganhar fama, tendo até mesmo em alguns casos se ocultado no meio da multidão ou se afastado de milhares de seguidores de barco, para que as pessoas não o pudessem seguir. Jesus repreendeu aqueles que acreditavam que Ele  havia se manifestado para combater o império romano com seu poder divino e seguidores.

Enquanto esteve na terra Jesus se preocupou em levar misericórdia para todos os homens, por mais odiáveis que eles pudessem ser. Ele cuidou de judeus, samaritanos, publicanos, soldados, mulheres marginalizadas, deficientes, pobres e viúvas. Ele foi cheio de graça, pois não escolhia a quem agir com misericórdia, mas vendo todos os homens como pecadores e ignorantes acerca da vontade de Deus. O nosso Senhor Jesus foi tão misericordioso que no momento da sua morte olhou para todos os homens furiosos que o haviam crucificado e escarneciam deles e pediu ao Pai que tivesse misericórdia, pois não sabiam o que estavam fazendo (Lucas 23:34)!

Cristo também foi extremamente verdadeiro, afinal, Ele é o caminho, a verdade e a própria vida. Jesus tratou a todos com verdade e sinceridade, e não proferiu qualquer mentira, mesmo quando sob risco de morte. A Sua verdade não diz respeito apenas ao fato de que nunca mentiu, mas também por ter ensinado para as pessoas a verdadeira vontade de Deus. Quando Ele ensinava e dizia "em verdade vos digo", Ele estava dizendo às pessoas o que de fato as palavras da Lei de Deus significavam. Ele não destruiu a Lei com um novo ensino, Ele apenas ensinou o que de fato a Lei ensinava. Não era a nova Palavra de Deus, mas sim a Palavra de Deus que estava ocultada pelo pecado e ignorância de líderes religiosos que só se importavam consigo mesmos e achavam que a justiça da sua vida dependia deles mesmos.

Isso nos ensina que:

Você não precisa fazer mais nada, pois o próprio Filho de Deus já fez tudo por você. A vida, ministério,  morte e ressurreição de Jesus cumpriram todos os requisitos para perdoar todos os seus pecados e garantir a sua salvação. Hoje você pode orar para o próprio Deus e falar diretamente com Ele, sabendo que Ele pode (e vai) te escutar. Tudo que você precisa para se apresentar diante de Deus é acreditar no que Jesus fez por você.

Jesus compreende e intercede por você junto ao Pai. Por ter vivido como cada um de nós, Jesus sabe de todas as suas limitações e tentações, e sabe muito bem que você é incapaz de não cometer mais pecados sem a ação do Espírito Santo. Quando você ora, Ele pode consolar o seu coração ferido e angustiado, porque um dia Ele também experimentou dor e angústia. Não há nada que você possa sentir ou sofrer que o próprio Jesus já não tenha sentido ou sofrido. Até mesmo o peso do pecado Ele sentiu, no momento em que carregou os seus na cruz do calvário, mesmo não tendo Ele pecado algum.

Precisamos ser verdadeiros e misericordiosos, assim como nosso próprio Senhor Jesus foi durante toda a Sua vida. O cristão precisa ser imitador do Senhor, guardando o bom testemunho da verdade, misericórdia e santidade em sua vida. Não podemos pregar o que não vivemos, do contrário seremos mentirosos e hipócritas. Não podemos mentir ou agir com dolo, com vistas a ter algum benefício. Pelo contrário, em todas as coisas devemos glorificar ao Senhor.

Por fim, é muito importante compreender que Jesus é totalmente Deus e totalmente homem, porque apenas dessa forma seria capaz de pagar o preço pelos nossos pecados. Negar a humanidade total e divindade total de Deus é colocar em dúvida a sua própria salvação e proclamar uma heresia que foi combatida por centenas de anos. Cristo foi totalmente homem para assumir a nossa culpa, e totalmente Deus para pagar a nossa dívida eterna.

Que Deus abençoe a sua vida!




Daniel e Eclesiastes 11:9-10

 "Jovem, alegre-se em sua juventude! Aproveite cada momento. Faça tudo que desejar; não perca nada! Lembre-se, porém, que Deus lhe pedi...