quinta-feira, 8 de março de 2018

O que dizer sobre... Inteligência Humilhada

Essa semana eu vou falar um pouquinho do livro Inteligência Humilhada, escrito por Jonas Madureira, pastor da Igreja Batista da Palavra, em São Paulo. O autor é bacharel em Teologia, e Mestre e Doutor em Filosofia. Eu tive a oportunidade de assisti-lo expor o tema semanas antes do lançamento do livro, no Seminário Teológico Congregacional de Niterói, e fiquei encantado!



Desde já deixo consignado que, se porventura discordem dos apontamentos que farei aqui, trata-se da minha análise do livro, logo, sujeita as minhas limitações teológicas e filosóficas. Aos que admiram o trabalho do Pr. Jonas (sou um destes), peço que embainhem a espada antes de começar a leitura.

Desejei muito ter o livro, e me aprofundar um tanto mais no tema, aprendendo sobre a humilhação inerente ao ser humano. Para minha felicidade, o meu pastor, Reverendo Idauro de Oliveira Campos Júnior, Reitor do Seminário, deu-me de presente na ocasião da minha saída da função de secretário do seminário, que ocorreu por motivos acadêmicos.



Só consegui parar para ler nas últimas semanas, e fiquei extremamente satisfeito. O Pr. Jonas não nos enganou quando escreveu que ora teríamos diante de nós um pastor em gabinete, ora um professor na sala de aula. De fato o livro tem essas sutis mudanças, adotando em parte um tom pastoral na exegese dos textos e aplicação, e por outro lado, um tom acadêmico, caracterizado por uma abordagem mais filosófica e apologética.

O livro aborda o conceito de inteligência humilhada. Serei sucinto, por dois  motivos: primeiro, para te incentivar a ler a obra do Jonas; segundo, para evitar a possibilidade de desonestidade intelectual, na hipótese de alguém precisar ler em algum seminário, e buscar aqui um resumo da obra já pronto.

O Rev. Jonas inspirou-se para escrever sobre o tema a partir da leitura do livro X das Confissões de Agostinho de Hipona, e aborda questões cruciais para compreensão da inteligência humilhada, tais como o conflito entre fideísmo e racionalismo, bem como a adoção de uma teologia sinergista ou monergista como fator de influência no entendimento acerca do conhecimento de Deus e das demais coisas, além da necessidade da revelação especial.

Poder-se-ia dizer que o tema é exaustivamente abordado nos dois primeiros capítulos, nos quais apresenta-se a humilhação de nossa inteligência não como um estado oriundo da queda (embora a queda tenha sim seus efeitos noéticos), mas uma característica inerente ao homem (esteja ele consciente disso ou não), que precisa que Deus revele a Si, a verdade sobre nós mesmos e a verdade sobre o mundo. O conhecimento do homem é melhor desenvolvido quando colocado diante de Deus, em postura de reconhecimento de que dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas. A inconsciência do homem quanto a sua dependência de Deus não muda o fato de que o conhecimento adquirido depende dEle, seja na revelação, seja  na obra do Espírito Santo nos dando entendimento. Portanto, teologia é estudar a Palavra diante de Deus,com oração e humildade.

Considero os capítulos 3 e 4 não como essenciais para abordagem do tema, e sim como a apresentação de questões que norteiam o conceito já explicado nos dois primeiros capítulos. Já o capítulo 5 apresenta a traição dos teólogos, não analisando se cabe razão ao teólogo que valoriza mais a doutrina do que ao que valoriza mais as questões sociais, e sim apontando os dois grupos como desvio da cosmovisão cristã.

O livro é muito bom! Diversos conceitos são apresentados para explicar o tema, mas não se preocupem, o autor não teve qualquer ressalva de explicar cada um deles. Entretanto, duas considerações podem ser feitas. A primeira se dá ao fato de que, ao vir apresentar o tema no Seminário Teológico Congregacional de Niterói, o autor informou ter realizado a busca do conceito em diversos autores na história da igreja, como Agostinho e Pascal. De fato tais autores são citados no curso dos capítulos, entretanto, ansiava ao menos por um capítulo no qual o conceito seria explicado através da visão de cada teólogo, de forma que a obra pudesse ser utilizada para consultas posteriores.

Outro ponto que deixou-me com a impressão de estar faltando alguma coisa foi a apresentação da Teodiceia ao abordar a bondade e soberania de Deus em contraste com a existência do mal no mundo. Embora o tema tenha sido discorrido por diversas páginas, senti falta de um fechamento para o mesmo, quase como se a resposta tivesse ficado em aberto (uma resposta que eu sinceramente gostaria de ler por parte do autor). Deixo claro que neste ponto, talvez eu não tenha sido capaz de compreender corretamente, em função do pouco conhecimento que tenho acerca do tema.

Feitas as duas ressalvas, não poderia deixar de elogiar o método do autor, que faz pouco uso de citações e paráfrases, esforçando-se por apresentar o tema em suas próprias palavras. Esse tipo de escrita me agrada muito, e reflete o esforço do reverendo em ponderar talvez dezenas de obras lidas e extremamente necessárias para formulação daquela única frase onde um conceito é apresentado! As citações são usadas para reforçar conceitos que o próprio autor apresentou com suas palavras.

Recomendo a leitura da obra para aprofundamento nas áreas de Antropologia Bíblica, Cristologia e Teologia Propriamente Dita, com uma boa aplicação em estudos sobre Cosmovisão Cristã (principalmente no capítulo 5) e Revelação Especial. Agradeço ao Reverendo Idauro Campos por presentear-me com a obra, bem como ao Reverendo Jonas Madureira por debruçar-se em horas de estudo para escrever uma obra tão bem fundamentada. Agradeço-o por fazer teologia diante de Deus!

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