terça-feira, 9 de junho de 2020

Ko Thah Byu - O Apóstolo dos Karen





Introdução

Na última aula ministrada na disciplina de História das Missões estudamos sobre a história do missionário Adoniram Judson, e nos deparamos com o seguinte questionamento: Adoniram aparentemente não obteve êxito na sua função de missionário, pois só depois de 6 anos conseguiu batizar seu primeiro convertido.

O que nos deixou intrigado, é que o missionário estava enfadado com o seu ministério. Ele se punha a pregar na praça para birmaneses budistas sem muito êxito, entretanto, em 1.831 ele percebeu que um grande avivamento havia começado!

Adoniram Judson decidiu dedicar-se à tradução da bíblia para o birmanês, sem saber que esta seria a base para este grande movimento de Deus. Aliás, um movimento que começou centenas de anos antes, gerações e gerações antes da chegada do missionário.

O Deus do livro perdido

O avivamento da Birmânia é a prova definitiva da misericórdia de Deus e da sua busca pelos seus filhos. Nos deparamos com dez povos diferentes numa região do sudeste da Ásia que partilhavam a fé num Deus Todo-Poderoso, cujos ensinos foram perdidos por seus ancestrais.

A tribo Karen, por exemplo, acreditavam que um dia o “irmão branco” levaria de volta pra eles o livro de Y’wa, perdido por seus ancestrais em tempos remotos. Em mais de mil aldeias karen da Birmãnia, Bukhos (um tipo de mestre, profetas de Y’wa) mantinham os karen conscientes dos caminhos de Y’wa, para o qual precisavam voltar seus olhos.

Já os kachin criam em Karai Kasang, um ser sobrenatural e benigno que excede a compreensão do homem. Esse grande Ser também era denominado Hpan Wa Ningsang – O Glorioso que Cria, e Che Wa Ningchang – Aquele que sabe.

Os lahu mantiveram a tradição de que Gui’Sha – Criador de Todas as Coisas – dera a lei aos seus ancentras em bolos de arroz, que durante um período de grande forme foram consumidos. Assim, afirmavam que a sua lei estaria no seu interior.

O povo wa tinha profetas que surgiam de tempos em tempos, em nome de Siyeh, exortando o povo a abandonar práticas que afrontavam o Deus verdadeiro. As tribos shan e palaung esperavam o cumprimento das profecias de Are-Metaya, o Senhor da Misericórdia.

Os kui esperavam o dia em que um mensageiro de Deus chegaria com o livro perdido, e da mesma forma, o povo lisu também aguardava. As tribos naga aguardavam que Gwang o Deus que tudo sustenta, traria novamente as palavras que deu ao Seu povo em peles de animais, que por não terem sido bem cuidadas, foram devoradas por cães.

Por fim, os mizo da Índia acreditavam em Pathian – que significa Pai Santo – era o Criador de todas as coisas, o Bondoso que deu seu livro aos ancestrais do povo, que infelizmente o perderam. Esse é o contexto que Adoniram Judson e os demais missionários da Birmânia encontraram na sua vida.

Entretanto, pode-se dizer que Judson preparou o caminho para o grande missionário que iniciou o seu trabalho junto da tribo karen, e logo eclodiu por todas as demais tribos que aguardavam sedentas pelo “irmão branco” portador do livro. Seu nome é Ko Thah Byu.

Ko Thah Byu – O apóstolo dos karen

            Podemos concluir que o grande avivamento da Birmânia começou com a obra de tradução da bíblia por Adoniram Judson, mas o missionário responsável pelo boom evangelístico foi Ko Thah Byu, um membro da tribo karen,violento, cruel, e que teria matado mais de 30 homens antes da sua conversão. Em razão dos seus crimes, Ko Thah Byu foi preso pelo governo de Burman e vendido como escravo, tendo sido comprado e liberto por Adoniran Judson.

            Ko Thah começou a trabalhar para Judson, e aos poucos foi aprendendo acerca do evangelho de Jesus Cristo. Começou a questionar sobre os missionários brancos e o livro que traziam do Ocidente, até que foi iluminado pelo Espírito Santo, e toda a sua tradição karen passou a fazer sentido na sua experiência de conversão.

            Um casal de missionários chegou a Rangum para ajudar Adoniram. George e Sarah Boardman iniciaram uma escola para os convertidos analfabetos, e imediatamente Ko Thah Byu se matriculou, pois estava decidido a aprender a ler a bíblia birmanesa. Ciente de que era o primeiro karen a ter conhecimento da chegada do “irmão branco” com a Palavra, assumiu a responsabilidade de proclamar as boas-novas para o seu povo.

George e Sarah Boardman tinham planos para iniciar uma nova missão na cidade de Tavoy, no sul da Birmânia, ao que Ko Thah Byu se voluntariou para ir junto. Chegando ao destino, pediu que fosse batizado por George, e após o sacramento partiu imediatamente para as montanhas ao sul, pregando a Palavra em cada tribo karen que encontrava.

Ko Thah Byu enfrentou os perigos da selva e assassinos pelo caminho, e, em pouco tempo, centenas de ouvintes começaram a aparecer em Tavoy para ver o “irmão branco”. Boardman começou a receber dezenas de convites para visitar as aldeias que aguardavam a sua chegada, para completar o ministério de Ko Thah Byu e levar os ensinamentos de Y’wa, aguardado por gerações.

Uma dessas tribos guardava um exemplar dos salmos e hinos, dado por um muçulmano que a visitou, sem ensiná-lo ou traduzi-lo ao povo. Este exemplar era cultuado liturgicamente, até que Boardman ensinou o verdadeiro evangelho, e a forma de usar aquela Palavra.

Muitos karen das tribos mais distantes vinham diariamente conhecer o mestre branco e ouvir as verdades que ensinava. Sarah Boardman relatou em seus diários que Ko Thah Byu passava dias e noites lendo e explicando a Palavra para as aldeias que encontrava.

O ministério do apóstolo dos karen deu origem à um movimento missionário dentro das tribos. Na mesma medida em que iam sendo batizados, saiam a ensinar a verdade aprendida, conforme Jonathan Wade pode testemunhar a  320km ao norte de Tavoy. Esses missionários se deslocaram 420km a noroeste, de forma que quando os missionários americanos chegaram a Bassein, encontraram 5.000 karens convertidos e prontos para o batismo!

Ko Thah Byu deixou Tavoy e se dirigiu para região central da Birmânia. Por quase não descansar, e em razão das dificuldades da sua empreitada, assim como Judson, o apóstolo dos karen morreu em poucos anos de tanto trabalhar.

Ko Thah Byu morreu de tuberculose, em 09 de setembro de 1840, e no final da sua correira missionária era carregado no leito de vila para vila, pregando a Palavra até o fim da vida. Sua história chega até nós através da biografia escrita por Francis Mason.

Os frutos do ministério de Ko Thah Byu

A morte do grande missionário karen não pôs fim ao avivamento. Os karen haviam recuperado o livro perdido, e agora estavam cientes que os outros povos precisavam receber as boas-novas também. Assim, aquelas tribos isoladas e menosprezadas pelo povo da Birmânia deu início às missões transculturais entre as outras nove tribos.

Ainda que fossem consideradas intelectualmente inferiores pelos povos de tradição budista e taoísta, a Palavra foi compreendida por eles, que era tão numerosos que alcançavam a marca de centenas de milhares de pessoas espalhadas pelas selvas da Ásia menor.

Assim, em 1858 os karen pregaram para os kachin acerca da chegada do livro perdido de Karai-Kasang, de forma que nos anos 90 haviam cerca de 250.000 membros do povo kachin convertidos.

Em 1890, Willian Marcus Young pregou para os lahu e para os ha acerca da Palavra de Gwi’sha. Seus filhos, Harold e Vincent atuaram como professores de escola bíblica, e este último foi responsável pela primeira tradução do Novo Testamento para as línguas lahu e wa.

Conclusão

O cenário e contexto, bem como o trabalho de Ko Thah Byu traz diversas reflexões. Em primeiro lugar, a eficácia da missão não se mede por números, mas por fidelidade à Palavra e vontade de Deus. Adoniram Judson poderia ser considerado fracassado por qualquer cristão com uma visão triunfalista do evangelho. Entretanto, vemos que cabia a ele a tradução da bíblia para o birmanês, a fim de que um dos poucos convertidos do seu ministério pudesse atuar.

Também resta evidente que a missão é da igreja, não do missionário. O que começou com Adoniram ganhou força quando cada cristão assumiu a sua tarefa. Judson traduziu a bíblia, o casal Boardman preparou o obreiro e ensinou os novos convertidos, e Ko Thah Byu foi de cidade em cidade pregando-a para todas as tribos karen.

O mais importante! É Deus quem manda o missionário; é Deus quem prepara o caminho! Judson, os Boardman e demais missionários birmaneses encontraram corações preparados para receber a mensagem do evangelho de Cristo! O mesmo Deus que os enviou, suplantou a fé no coração dos ancentrais daquela tribo, para aguardarem da redenção do seu povo!

Ademais, o evangelho eleva o homem das trevas e da ignorância. As tribos karen eram nômades, isoladas pelas selvas, e após o contato com Cristo, foram alfabetizadas pelos missionários a fim de poderem ler a Palavra. Um povo inculto e nômade, em 1995, haviam fundado uma escola para seus filhos, como a Nichols' Sgaw Karen High School, em Bassein, com aproximadamente 1.400 alunos, cujo diretor e professores não eram missionários estrangeiros, mas cristãos karen. Há outras escolas em Henzada, Tharrawaddy, Toungoo, Moulmein e Rangum.

Por fim, é belo admirar a obra redentora de Cristo na vida de um homem. Ko Thah Byu, assim como Paulo, foi um homicida, um assassino que no tempo certo foi encontrado por Cristo e conheceu a graça de Deus. Não há extensão de pecado maior do que a abundância da misericórdia de Deus e do seu amor para/com os Seus filhos!

Que Deus seja louvado neste trabalho.
Pedro Silva Drumond.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Richardson, Don. O fator Melquisedeque: o testemunho de Deus nas culturas por todo o mundo/ Don Richarson ; tradução Neide Siqueira. – 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2008.

Ko Tha Byu Leads “Stupid Wild Buffalos” to Enlightenment (Ko Tha Byu lidera “búfalos selvagens e estúpidos” para Iluminação), disponível em:

Elder Tha Byu, illiterate but effective evangelist  (Ancião Tha Byu, evangelista iletrado, mas eficaz), disponível em:

Ko Thah Byu: Murderer and Apostle to the Karen (Ko Thah Byu: Assassino e Apóstolo de Karen), disponível em:

Burma and the Karens (Burma e os Karens), disponível em:




segunda-feira, 1 de junho de 2020

Como assim o Filho estava presente no Antigo Testamento?




Algumas pessoas recaem no erro de acreditar que Jesus Cristo, o Filho, só nos é apresentado no Novo Testamento. Lembro-me de um texto do Gregório Duduvier que reflete exatamente esse desconhecimento, chamado “Querido pastor”.

A carta fictícia de Jesus para um pastor afirmava “Caso queira me conhecer mais, saiu uma biografia bem bacana a meu respeito. Chama-se Bíblia. Já está à venda nas melhores casas do ramo. Sei que você não gosta muito de ler, então pode pular todo o Velho Testamento. Só apareço na segunda temporada”.

Não espero muito do referido autor, pois não se trata de um teólogo com base bíblico-teológica cristã. Mas ele reflete bem o meu ponto: restringimos a ação de Jesus ao Novo Testamento, mais especificamente à obra da salvação.

Entretanto, a teologia nos ensina a Triunidade de Deus, de forma que não há como desassociar o Filho do Pai e do Espírito Santo, como se em algum momento Ele não tivesse existido, ou que seu papel se resumisse à morte e ressurreição. O próprio Novo Testamento nos ensina que Jesus estava presente na Criação. Todas as coisas foram feitas por Jesus, o Verbo, e sem Ele nada do que foi feito se fez (João 1:1-4).

Avançando um pouco na criação, vemos então a Queda do homem. O casal no Éden toma do fruto proibido pelo Senhor, recaindo sobre eles e toda a criação a maldição do pecado, da morte física e espiritual. Também é apresentada a esperança: seria posta a inimizade entre a semente da mulher e a semente da serpente. Esta morderia o calcanhar, enquanto  aquela lhe feriria a cabeça (Gênesis 3:15). É o protoevangelho apresentando o Filho como aquele que restauraria a comunhão do homem em razão da Queda.

Sem entrar em detalhes, também podemos citar as diversas teofanias, nas quais o Anjo do Senhor aparece para homens na história do Antigo Testamento. Esse termo, na verdade, não diz respeito a um anjo comum, mas ao próprio Jesus Cristo! Deus, quando se apresentava visivelmente, o fazia através da imagem do Filho!

Mas... Sim! É importante falarmos do plano da salvação que nos é apresentado no Novo Testamento! Paulo sintetiza a obra salvífica do Filho em Romanos 3:23-24, nos apresentando o Seu plano de Redenção. Na medida em que todos pecaram e não podem justificar a si mesmos diante de Deus, Jesus graciosamente nos redimiu, tornando-se maldição em nosso lugar (Gálatas 3:13) e levando sobre Si nossas dores e maldições (Isaías 53:4-6). Jesus Cristo pagou o preço por nossos pecados.

Portanto, nossa relação com Deus está restaurada. O véu que separava o homem de Deus foi rasgado, no Seu sangue Jesus efetuou a eterna redenção! (Hebreus 9:11). Quando cremos em Cristo somos feitos nova criação, sem a escravidão do pecado, restaurados à comunhão com Deus, mediante a fé em Cristo (II Coríntios 5:17). Que possamos descansar a cada dia na realidade de sermos portadores de uma liberdade, paz e vida que jamais mereceremos!

Pensando um pouco em Jesus no Antigo Testamento....


“Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Isaías 7:14)



O profeta Isaías havia profetizado ao Rei Acaz: um sinal seria dado pelo Senhor, diante da incredulidade de Judá e do temor aos Reinos da Síria e Rezim (Isaías 7:4).  Acaz se recusou a pedir qualquer sinal ao Senhor, para que não fosse considerado ainda mais culpado diante dEle por sua incredulidade. Deus decide então enviar o Seu Filho como sinal de juízo para os incrédulos, e esperança para o remanescente fiel.

Embora o evidente cumprimento da profecia tenha ocorrido em Jesus, sabemos que Isaías morreu centenas de anos, de forma que não a veria se concluir, o que poderia colocar em cheque a sua qualidade de profeta. Portanto, é aceitável crermos que o cumprimento temporal da profecia se deu com o nascimento de Rápido-Despojo-Presa-Segura (Isaías 8), o filho do profeta, e que a virgem denotava uma mulher com a qual estava comprometido a se casar.

O nome determinado pelo Senhor profetizava que Deus traria julgamento sobre a Síria, Israel e Judá, a qual seria devastada pelos assírios, que fariam isso como se fossem águas fortes e impetuosas (Isaías 8:7-8). Ainda que Judá tenha sido devastada, Deus a preservou da total aniquilação, confortando o seu povo para que guardasse nEle a sua esperança.

Portanto, Rápido-Despojo-Presa-Segura e sua mãe seriam pré-figurações de Jesus e Maria. O nascimento dessa criança, assim como o de Jesus, era o sinal da redenção do povo de Deus e julgamento contra a descrença.

Sabemos que a consumação desta promessa ocorreu em Mateus 1:18-25, quando a virgem Maria dá à luz ao menino Jesus, o Cristo, o Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz. Em Jesus a nossa esperança se consuma, a salvação nos é concedida, o juízo é remido na cruz. É o retorno de Cristo que irá exaurir a esperança daqueles que ainda vivem, transformando-a no louvor eterno; é o Seu retorno que marcará o juízo eterno sob a Ira de Deus para aqueles que se mantiveram incrédulos.  

Deus seja louvado por nós, Ele é fiel.

Daniel e Eclesiastes 11:9-10

 "Jovem, alegre-se em sua juventude! Aproveite cada momento. Faça tudo que desejar; não perca nada! Lembre-se, porém, que Deus lhe pedi...