domingo, 14 de agosto de 2022

Olhar para trás e dar um passo a frente - 167 anos de Congregacionalismo Brasileiro

Em 19 de agosto de 2022 comemoramos os 167 anos do Congregacionalismo Brasileiro, e como faço em todas as demais datas comemorativas, aproveito para fazer uma retrospectiva da história e avaliar tanto se tenho motivos para estar comemorando, quanto qual a lição que os meus irmãos deixaram para mim, que eu possa aplicar hoje.

Acredito que essa análise é extremamente necessária, e quando olhamos para trás, podemos claramente  vê-la na própria razão de ser congregacional. Foi a análise feita por parte de um grupo de puritanos inseridos na Igreja Anglicana sobre si e sobre a estrutura da Igreja, compelindo-os a lutar pelo direito de ter igrejas autônomas e independentes. No fim, ser congregacional sempre será a liberdade de olhar para sua igreja, associação ou União de Igrejas e tentar mudar a história ativamente através da sua voz e voto.

A data que comemoramos não é a do surgimento das primeiras igrejas evangélicas congregacionais no mundo, e sim o início do congregacionalismo no Brasil. Não é uma história que inicia com uma grande igreja e um templo chamativo: ela começa com um casal, uma pequena escola dominical e serviços de culto doméstico, oração e estudos bíblicos. A nossa história começa em 19 de agosto de 1855, com a fundação de uma escola dominical em Petrópolis, sob a direção de Robert Kalley e Sara Kalley.

Assim como foi no começo, precisa ser hoje. A sua história e contribuição para nossa denominação começa no seu pequeno grupo de influência, nas pessoas a sua volta que você consegue alcançar através do seu ensino, e principalmente do seu exemplo. Antes de formar uma igreja estruturada, o casal Kalley estruturou pessoas para fazerem parte do Corpo de Cristo, dando a elas o ensino da Palavra, e meios para acessá-la.

A primeira igreja congregacional só vai surgir quase três anos depois, em 11/07/1858, no Rio de Janeiro, chamada de Igreja Evangélica Fluminense, onde ocorreu o primeiro batismo de um brasileiro: Pedro Nolasco de Andrade. 

Não sei se você sabe, mas o nome "Congregacional" estava com a imagem um tanto manchada naquela época, razão pela qual tanto a Igreja Evangélica Fluminense, quanto a Igreja Evangélica Pernambucana, fundada em  19/10/1873 não receberam essa palavra no nome! Ainda assim, foram as duas primeiras igrejas congregacionais. Isto porque ser congregacional nunca foi sobre a palavra que aparece na placa da sua igreja, mas sobre a forma como nós vivemos como comunidade de fé. Ser congregacional é acreditar que Deus é soberano nas decisões locais e diárias de cada igreja, de maneira igual, não havendo hierarquia entre elas, mas uma abençoada relação de colaboração e comunhão.

Entretanto, não basta ter um modelo congregacional na organização da igreja. É preciso partilhar a mesma fé e doutrinas fundamentais do Cristianismo, que podem ser resumidas no documento oficial adotado pela nossa denominação: os 28 Artigos da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo, lançados em 02/07/1876. Os artigos são realmente curtos, mas nem por isso são rasos no seu conteúdo. A base de uma vida cristã e conhecimento saudável sobre Deus e Sua igreja estão contidas ali.

O número de igrejas foi crescendo, crescendo e cresceu mais um pouco, tanto no Brasil quanto em Portugal, razão pela qual, em 06/07/1913, igrejas brasileiras e portuguesas formaram a Aliança das Igrejas Evangélicas Indenominacionais (até agora o nome continua sendo evitado). Aquelas igrejas compreenderam que ser autônomas e independentes não as tornavam o foco exclusivo de comunhão e adoração ao Senhor. Em um exercício de humildade, tais igrejas se uniram em uma união de igrejas que visava buscar uniformidade na sua prática da fé e colaboração mútua, afinal, adoravam ao mesmo Senhor! Elas entendiam que deveriam honrar e glorificar ao nome do Senhor juntas, colaborando umas com as outras em benefício do Reino de Deus! 

Nós também precisamos viver essa comunhão que extrapola os limites geográficos da igreja local, e buscar estar juntos em nossas associações de igrejas e na UIECB. Falando diretamente a você que é jovem, tem UMEC, FEMEC e COMEC, em nível local, regional e nacional, respectivamente! Queremos seu envolvimento conosco na UICEB, junto com outros milhares de jovens que partilham a sua fé! Você não está sozinho, e você pode edificar e ser edificado por outros irmãos espalhados por todo o país! Você pode (e deve hein!) fazer a diferença na vida dos seus irmãos em Cristo, dentro da sua denominação! 

E não se deixe enganar por palavras e relatos pessimistas de que não há conformidade entre as igrejas na UIECB, que há muita discordância e brigas nas nossas assembleias deliberativas, e que por vezes pastores se afastam de colegas de ministério em decorrência desses problemas. Afinal, se você olhar para história da nossa denominação vai perceber que ser congregacional não é pensar igual em tudo, mas permanecer unido, apesar das diferenças, mesmo que por um breve período de tempo a relação com seu irmão pareça rompida. É entender que somos todos parte do mesmo Reino, e um Reino no qual não há divisão.

É por isso nossa história e composta de uniões, separações e reaproximações. Em 1942, por exemplo, nós nos unimos com a Igreja Cristã Evangélica do Brasil e formamos a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais e Cristãs do Brasil (UIECCB). Por discordância nas práticas de batismo, questões acerca da segurança da salvação e modo de governo, um grupo de 51 igrejas se separou 1960 e formou a União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB). Mas calma, que essa ainda não é a nossa!

Em 1968 as igrejas que permaneceram na UIECCB desfizeram a união de igrejas e ficaram sendo representadas pela Igreja Evangélica Congregacional do Brasil. No fim de tudo, os dois grupos se uniram novamente, em 1969 e formaram a nossa UIECB!

E esse é um breve resumo da nossa história! Uma história de altos e baixos, onde pessoas foram perseguidas por sua fé, direitos precisaram ser conquistados e igrejas se uniram e separam. Por outro lado, o nome do Senhor foi pregado com amor e zelo, e mais e mais igrejas continuaram a surgir. Essa não é apenas a história da nossa denominação. É a história da sua igreja, e também a sua história.

Rogo ao meu Senhor Jesus Cristo que você possa desenvolver a atitude e coragem necessária para viver a sua história conosco, exercendo os dons e talentos que o Senhor te deu, em benefício da sua igreja, em primeiro lugar, mas também da sua Associação Regional e União de Igrejas.

Que Deus nos abençoe em mais um ano!



Daniel e Eclesiastes 11:9-10

 "Jovem, alegre-se em sua juventude! Aproveite cada momento. Faça tudo que desejar; não perca nada! Lembre-se, porém, que Deus lhe pedi...