Como se identifica um
chamado pastoral? É empolgação? Uma revelação extraordinária, como uma voz
grave na sua cabeça dizendo que está sendo chamado naquele momento, ao qual
você responde “Eis-me aqui”, por exemplo?
Pode até ser isso. Mas pode ser muito mais.
O chamado pastoral
começa com o amor a Deus e a igreja. Então seu chamado nem sempre será algo
instantâneo, com data certa, mas sim a construção de toda uma vida ao Senhor,
onde cada detalhe aponta para o que deve ser feito.
Seu chamado pastoral
pode começar com a indignação de ver a Palavra de Deus ser negligenciada,
colocada de lado; por ver as heresias e maldades realizadas por uma má
interpretação. Isso mexe com você de forma que só consegue pensar “Eu tenho que
tentar mudar isso”. E acredita que deverá se tornar um pastor bíblico para
denunciar e combater esse quadro.
Às vezes você é
tomado pela tristeza de ver almas perdidas e filhos de Deus sendo enganados.
Você passa semanas cabisbaixo, sentindo que não tem voz para ajudar a todos. A
dor deles é a sua, e você quer a possibilidade de mudar tudo isso. E acredita que deverá se tornar um pastor
piedoso, e pregar a Palavra, cuidar das
ovelhas feridas e buscar as perdidas.
Às vezes é algo mais
sutil. Você olha pro seu pastor no púlpito dominicalmente, e ama o que ele está
fazendo, e fica pensando consigo mesmo “É isso que eu quero fazer!”. Você pensa
na bondade de Cristo na cruz, na justiça de Deus, e na sua própria miséria! Você pensa em tudo
que você era, e no fato de ter sido resgatado mesmo sem pedir, mesmo sem
merecer, mesmo sem ser pesado na balança pelos erros que cometeu. E pensa: “Que
mais eu posso querer da vida que não pregar as mesmas palavras que me tiraram
da miséria?” Você acredita que deve se tornar pastor porque tudo que você mais
quer é oferecer toda a vida a Cristo, e ainda ser pouco diante de tudo que
passou!
Então você olha pra
igreja. E pensa no voto de confiança que eles te deram quando você chegou.
Pensa que com tantos motivos para te virar as costas, que mesmo sabendo quem
você era, mesmo pérfido, devasso, iracundo ou descrente, também não te mediram
pelo peso dos teus erros, e abraçaram você. Você aprende piedade e perdão
observando o quanto eles foram piedosos te perdoando. E acredita que deverá se
tornar um pastor para cuidar da igreja que um dia cuidou de você.
E as pessoas a sua
volta começam a apontar para você a possibilidade dessa vocação. E ao invés
disso te gerar uma ansiedade ou preocupação, você sorri e se sente lisonjeado.
Na verdade, você pensa no quanto será feliz se elas estiverem certas. Você não
olha pros prós e contras; não pensa em anos de faculdade jogados fora, na
possibilidade de não ser um mega empresário, um funcionário público estável ou
um doutor renomado. Você só pensa “Essa vida me faria feliz”. Com todas as
dificuldades e “inseguranças” de viver peregrinando e proclamando o Evangelho
seja lá onde for. E acredita que deverá
se tornar um pastor porque simplesmente não consegue cogitar outro futuro como
o melhor.
Quando isso acontece,
é o Espírito Santo te amadurecendo diariamente. Deus de fato não escolhe os
capacitados; capacita os escolhidos. Um chamado pastoral vai além do que se
sente, e engloba todas as áreas da sua vida. Chamado pastoral é o que se sente,
é o que se vive, é o que se anseia. E enquanto você não compreender que a causa
final de toda a sua vida é a proclamação do Evangelho e cuidado do povo de
Deus, você não está pronto ou não está atento ao que o Senhor tem para você.