segunda-feira, 30 de abril de 2018

Inspector Akane Tsunemori - Volume 02

Fala aí, você que está lendo! Beleza? Depois de passar semanas reclamando nas minhas redes sociais sobre a demora da Panini para abastecer as bancas, acabou que eu demorei pra escrever o artigo, mesmo tendo lido o mangá no dia que eu comprei! Antes tarde do que nunca né?

Não, não é a Akane haha


O primeiro volume terminou com os nossos investigadores dentro de uma fábrica de robôs, sem rede, o que impossibilitava o uso de comunicação e das próprias Dominators. Bem, conforme eu tenho visto no mangá, o sistema Sybil é mais falho do que nós esperávamos, pois, não bastasse a Akane demonstrar que é possível diminuir o stress psicológico a ponto de fazer uma Dominator alterar o eliminação para paralisante, descobrimos mais dois problemas.

O primeiro deles é que é possível diminuir o stress psicológico sendo violento. Isso fica claro na parte 02 de "Como criar animais". Aliás, já deveria ter atentado pra isso na parte 01, durante a cena do bullying coletivo; o que tem continuidade com a descoberta do funcionário que vinha cometendo os homicídios na fábrica, que era nada mais nada menos que o alvo das piadas e perseguição. 

Esse episódio em si já demonstra a fragilidade do Sistema Sybil! Se você já leu o mangá, gostaria que refletisse na postura do diretor da fábrica... CARA, ELE CONSEGUE BURLAR O SISTEMA!!! Ele mantém o Psycho-Pass dos funcionários em níveis regulares apenas permitindo que estes tenham episódios de violência coletiva, deslocando o alvo da violência para outro setor com a finalidade de diminuir o stress da vítima também! 

Perceba que o fato da violência do bullying ser comum para o grupo, isso não gera stress, pelo contrário, alivia as tensões que o próprio trabalho na fábrica causava! Então o Sybil trabalha com uma análise social para apurar seus resultados? Isso é uma possibilidade, se formos pensar no próprio conceito de crime: um fato previsto em lei como crime. Quem determina o que é crime é a sociedade que cria a lei. Então tudo que está fora da aceitação da sociedade é crime, de forma que não seria incorreto considerarmos que o sistema analisa de forma coletiva em busca da anomalia no padrão. Se a sociedade (no caso os funcionários da fábrica) considera aceitável o assédio à um funcionário, o Sybil não é capaz de identificar a anomalia!

E vamos analisar o criminoso! O diretor da fábrica achava que o Psycho-Pass do funcionário assediado normalizava por causa da transferência de setor, quando na verdade descobrimos que eram os homicídios que faziam isso! Então por mais este episódio vemos que a Akane estava correta em não atirar, porque o julgamento do sistema é precário, e pode ser alterado não só por tranquilizar o alvo, como também quando o próprio desejo de crime é satisfeito! Quantas pessoas passíveis de reabilitação morreram no julgamento? Fica a reflexão pra gente!



O segundo problema também ficou solto no comecinho do Volume 01, mas que agora veio como um tapa na cara do Departamento de Investigação Criminal da Agência de Segurança Pública e Ministério da Saúde e Bem-Estar, e é o fato do sistema não ser universal, e haver locais e rotas pelos quais é possível transitar sem ser detectado pelo scan da Sybil. Essa foi a forma pela qual o assassino de "A mascara que ninguém conhece" não foi detectado, mesmo sendo o tipo de  cara que esquartejava as vítimas com bisturis, em pedaços tão pequenos que eram descartados pelo ralo!

Não sei se vocês já perceberam, mas eu pouco falarei da história do mangá. Minha análise será sempre quanto a história pessoal dos personagens, o funcionamento do sistema e a reflexão sobre o crime que podemos tirar na obra.

A sociedade é aparentemente estável e bem sucedida, de forma que a ideia de uma pessoa desempregada ser abordada como algo anormal. Neste ponto o Sybil parece muito eficiente, ao fazer a logística de distribuição das funções e empregos de acordo com a valiação realizada após o período escolar, de forma que não há quase nenhum desempregado. A mesma avaliação que mostrou que Akane não só tinha qualificação para qualquer departamento, como também ser a única apta ao D.I.C.A.S.P.

Caraca, os únicos desempregados no mangá seriam os YouTubers e os Players, considerados como aqueles que vivem de patrocínio para ficar online nas redes sociais, como é o caso das vítimas dos crimes em "A mascara que ninguém conhece"! E detalhe: são considerados todos como criminosos em potencial, visto que num evento cheio deles, a Dominator dos investigadores e executores entrou em modo paralisante para todos os presentes, impedindo que o assassino fosse pego. Isso só reforça minha tese sobre os fatores de análise do Sistema Sybil, visto que as pessoas que ficam muito tempo em jogos onlines e redes têm poucas interassões sociais e dificuldade para socializar. Vemos uma sociedade de ferro que caminha sobre uma estrada de cristal. O estresse é uma preocupação tão intensa que as adolescentes são enviadas para colégios de meninas para serem protegidas do mundo numa fase da vida onde são consideradas suscetíveis.

A história do Kougami e do Ginoza também se desenvolve melhor, trabalhando duas hipóteses interessantes. A primeira está ligada à história do Executor Kougami, visto que Akane começou a ter dificuldades para lidar com o seu subordinado após o plano para descobrir o assassino da fábrica. Pela primeira vez Akane se sentiu insegura em estar próxima do seu cão de caça, ao perceber o seu olhar e expressões durante a caça. Ela então procura Kagari após uma conversa com Ginoza, em busca de informações, descobrindo que Kougami já foi um Investigador, como ela, e tornou-se um criminoso em potencial após o assassinato de um dos seus executores, episódio após o qual mergulhou na investigação criminal até desenvolver a mentalidade de um criminoso. Descobriu, ainda, ser o único crime que o departamento não solucionou e que Kougami continua investigando por conta própria.

Tendo isso em mente, fica fácil compreender as razões para Ginoza manter uma distância considerável dos executores, aos quais confia a tarefa de investigar o crime enquanto ele apenas os mantém sob controle. Aparentemente o tratamento rude direcionado a Kougami se dá pelo remorso de ver o amigo ter se tornado um criminoso potencial e ser rebaixado! Logo, o Psycho-Hazzard é um risco mais sério do que a jovem investigadora tem realmente considerado.

E já que falamos sobre Ginoza, o mangá deixa uma questão interessante no ar: O coeficiente criminal é um fator hereditário? É revelado que o pai de Ginoza é um criminoso, e por tal razão o mesmo está em constante observação, mesmo sendo ele um Investigador! Creio que a resposta para essa questão seja negativa, visto que até o presente momento podemos considerar que o coeficiente criminal é analisado levando em consideração a fatores sociais.

Ginoza tem ganhado um pouco mais de respeito da minha parte, mesmo agindo como um asno antissocial. Enquanto Akane tem feito um ótimo trabalho em ganhar o respeito dos executores, e tornar todos uma equipe de verdade, Ginoza tem amarrado as pontas soltas, descobrindo que tanto no crime da fábrica quanto no do roubo de avatares havia alguém por detrás, com inteligência e recursos suficientes para criar um protocolo capaz de hackear um robô do departamento, ou mesmo todos os avatares de uma rede social ao mesmo tempo.

E esse alguém tão inteligente finalmente deu as caras! Makishima aparece já na metade do mangá, como alguém que apoia o criminoso em sua empreitada, dando os recursos necessários para realização dos crimes. Estou extremamente ansioso para saber quais são os planos dele, visto que até o presente momento ele sempre agiu no anonimato, mas no final desse volume toma um passo um tanto arriscado: passa a apoiar uma nova assassina que tem amor pela arte, e passa a usar  corpos humanos para criar suas obras, usando um método de preenchimento do corpo com resina!

O verdadeiro vilão finalmente apareceu!

Fico perplexo com o que ele possa ter em mente, visto que está usando o mesmo método utilizado no assassinato do amigo do Kougami, o que despertou a sua atenção imediata para o caso! Esquece aquela história do executor de poder ser novamente um policial! Vemos agora o verdadeiro executor farejando o criminoso pelo crime! A caça vai começar!!!

domingo, 22 de abril de 2018

Considerações sobre o livro "Contra a Idolatria do Estado"

Oi, tudo bem? O livro que tive o prazer de ler nos últimos dias para trazer uma análise neste blog foi o "Contra a Idolatria do Estado", escrito por Franklin Ferreira, e lançado pela Edições Vida Nova! Pra quem não conhece o autor da obra, ele é bacharel em Teologia pela Universidade Mackenzie e mestre em Teologia pelo Seminário Batista do Sul (RJ). Ele também é diretor do Seminário Martin Bucer e consultor acadêmico da Edições Vida Nova. O livro é realmente bom! Sério!



O livro aborda a questão da idolatria do Estado de forma fundamentada tanto na Palavra quanto nos dados científicos e sociais acerca da política e sociedade brasileira. É certo que a crítica do autor é visivelmente direcionada aos indivíduos que habitualmente denominamos "de esquerda". Para o autor, tais indivíduos idolatram o Estado, numa espécie de adoração ao dinheiro e poder estatal.

No tocante ao dinheiro, é interessante como o autor aborda o amor à riqueza dentro de um Estado, que, independente da inclinação política para o socialismo, é na verdade capitalista. Franklin Ferreira aborda o fato de que o socialismo vive de forma capitalista, com a diferença que ama e almeja a riqueza, desde que esta pertença ao Estado. Isso me lembrou muito uma postagem que eu vi, onde estava escrito que o capitalismo de verdade deixa a esquerda erguer sua voz, enquanto vende camisa do Che Guevara aos seus adeptos.

É interessante como o autor, antes de entrar no mérito da Idolatria do Estado já nos apresenta a postura correta a ser tomada por um cristão que atua na política, usando o livro de Ester como exemplo para as seguintes posturas que posso resumir: (1) compreender que a própria salvação e do povo depende de Deus, e não do Estado, mesmo quando a corrupção e o mal aparentam prevalecer; (2) o cristão deve lutar pela justiça segundo a Palavra, ainda que despojada da linguagem da fé; (3) incentivar os grupos nos quais esteja inserido a agir e dar suporte àqueles que atuam diretamente na política.

O ponto 2 me chamou muito a atenção, porque de fato o livro de Ester não tem aquela linguagem da fé, qual seja, alusão expressa à Palavra de Deus na fala e justificativa de posicionamentos e atitudes. Ester e seu tio vivem segundo a Palavra, mas diante do rei a fala não é teológica, embora totalmente centralizada naquilo que o Senhor ensina! 

É possível, portanto, ser um jurista ou qualquer outra função, propor e executar políticas públicas dentro da Lei de Deus, mas com fundamentos nos princípios e leis seculares. Exemplo: Ao invés de dizer que matar é crime em razão do mandamento do Senhor,  defender tal posição no direito fundamental a vida!

Isso é possível, em razão da lei moral inerente a todos os homens, cuja revelação natural aponta a irregularidade de tais condutas, mesmo sem a revelação especial. 

Como bem justificado pelo autor, tal posição permite de maneira eficaz a inserção do cristão no mundo, visto que podemos nos unir a movimentos e grupos em defesa daquilo que a Palavra ensina, ainda que não seja a motivação do referido grupo.

Após essa primeira reflexão o autor entra de fato no tema da idolatria do Estado, usando como base o primeiro capítulo da carta de Paulo aos Romanos, na qual ele apresenta a recusa da revelação geral em conjunto com a idolatria do Estado, na medida em que a troca do Deus incorruptível pela imagem de aves, quadrúpedes e répteis seria alusão aos estandartes dos exércitos romanos e a figura do imperador. Vendo desta forma, a mensagem de Paulo seria subversiva, direcionada ao povo que negava a revelação geral e depositava a sua fé no imperador e seu poder político.

Apresenta também os limites de obediência ao Estado, usando como base os textos de Romanos 13:1-7 e Atos 5: 14-36, a fim de provar que o cristão deve se submeter às autoridades legítimas, definidas como aquelas que punem o mal e recompensam o bem com serviço público e proteção. Quando houver colisão entre a lei o a Palavra, o cristão é livre para se opor à lei.

O autor separa um momento para trazer alguns conceitos como direita, esquerda e afins, alegando que o Brasil não possui partidos de direita, e que a maior parte dos partidos políticos atuais tem sua cartilha pautada nos ideias da esquerda e extrema esquerda. Acusa-os, portanto, de ludibriar a sociedade, ao taxar de direita os partidos de centro, de extrema direita os de direita, como se a cartilha da esquerda no Brasil fosse de centro, e a extrema esquerda fosse a esquerda.

Ele também critica a prática de alguns socialistas na defesa dos ideais da esquerda, por sempre compararem os ideais socialistas com o pior do capitalismo, a fim de apresentar este como um vilão; quando na verdade deveriam comparar a esquerda e direita como ocorrem na realidade, usando como exemplo Alemanha Oriental e Ocidental, ou Coréia do Sul e Norte, pois apresentaram os dois espectros políticos dentro da mesma sociedade ao mesmo tempo.

Embora ele faça esta crítica, que não deixa de ser instigante, acaba de certa forma dando uma bola fora, e faz a mesma coisa quando vai conceituar esquerda e direita, apresentando esta última como o espectro político que privilegia as liberdades pessoais e econômicas, garantias de direitos e afins; enquanto apresenta a esquerda como um modelo de pouca ou nenhuma liberdade pessoal e econômica, e faz uso de termos como "domínio" do Estado sobre todas as esferas da sociedade. Quem está acostumado a ler e escrever sabe que a escolha de palavras é uma chave mestra pra conduzir opiniões. O autor apresenta um segundo conceito para cada um dos dois espectros, e faz a mesma coisa, quando apresenta a direita como igualdade e liberdade, e a esquerda como um sacrifício da liberdade em prol da igualdade de poder. Ora, tanto a esquerda quanto a direita trabalham com o sacrifício da liberdade, visto que ambas trabalham com o conceito de contrato social do Estado.

Após apresentar estes conceitos, o autor apresenta a visão reformada sobre a relação do cristão com o mundo, de forma que família, indivíduo, igreja, trabalho, artes e escola são esferas independentes do Estado, que coexistem e extraem sua autoridade somente de Deus. O Estado tem o papel mediador, intervindo quando as diferentes esferas entram em conflito, ou para defender os fracos contra o abuso dos demais.

O cristão deve ter em mente que ética e governo sob a vontade de Deus não passam obrigatoriamente pela conversão de todas as pessoas, nem em colocar cristãos professos em cargos políticos (o que não é afirmar que um cristão não deve exercer um), mas sim em contribuir para que a lei de Deus seja reconhecida por todos. Cristãos e incrédulos podem se unir na luta contra males comuns aos dois grupos: o primeiro grupo o fará por amor ao Senhor, o segundo, pelo senso de moralidade.

O autor aponta a república como o melhor sistema político, pois somente Deus é capaz de concentrar em si todo o poder. A república é uma necessidade, em razão da inclinação do homem ao pecado e ao abuso; e é uma possibilidade, visto que a graça de Deus habilita os homens à justiça. Devemos considerar, por estas afirmações, que o Estado não é a solução para a sociedade, e o melhor que ele pode fazer é refrear a injustiça causada pelo pecado.

Nos últimos tópicos o autor faz uma afirmação com a qual tive que discordar, e justifico minhas razões. Ele afirma que o Estado não se preocupa com a segurança pública, porque está muito ocupado na busca por privilégios para os que cometeram crimes. Ora, tal afirmação é um tanto descuidada, pelos seguintes motivos:

  1. Primeiro que a afirmação fica confusa, dentro de um estado com tripartição de poderes. Quem executa as medidas penais é o Poder Judiciário, dentro do Princípio da Legalidade, ou seja, mediante a aplicação daquilo que a lei (Código Penal, Código Processual Penal...) determina. Logo, o Estado, na figura da Espada, faz aquilo que a lei já prevê;
  2. Essa afirmação entra em conflito com informações trazidas pelo próprio autor, como a superlotação dos presídios e principalmente o dever do Estado de garantir a dignidade da pessoa humana. A preocupação do Estado com a política penitenciária não é "dar privilégios aos presos", mas sim de garantir que estes cumpram suas penas dentro de parâmetros que assegurem a sua dignidade, como salubridade e exercício do poder de família.
Também aborda a luta da igreja alemã no período da Segunda Guerra Mundial, e encerra o livro com algumas dicas para os cristãos elegerem seus políticos com mais consciência e segurança. 

Recomendo muito mesmo a leitura do livro que, salvo as pequenas ponderações já faladas, foi capaz de satisfazer as minhas expectativas. Peço a maturidade do leitor durante a leitura, visto que se tratam das minhas ponderações sobre o livro, e sei que há aqueles que discordarão, e também aqueles que farão a leitura com a mão na espada, numa típica postura de idolatria ao teólogo. Sério, isso acontece mesmo no meio reformado! São as minhas considerações do livro, julgue-as e retenha o que for bom!

Melhor Jair começando a leitura hein...


Até a próxima postagem!!!

OBS: A FOTO DO CANDIDATO ACIMA NÃO CARACTERIZA APOIO POLÍTICO, E FOI USADA APENAS PELO TROCADILHO COM O NOME E POR SER O ÚNICO QUE EU VI COM A OBRA EM MÃOS! PARA SER JUSTO, COLOCAREI UMA FOTO DE OUTRO CANDIDATO REALIZANDO UMA LEITURA:

Paulo Coelho? Dá pra ler até de cabeça pra baixo!

EU ME RECUSO A DIZER EM QUEM VOTAREI. PODE NÃO SER EM NENHUM DOS DOIS! O VOTO É SECRETO!

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Paradoxo da minha insônia

Como te explicar essa vontade de amar você pra vida toda, todo dia;
Todo o dia, diariamente?
E dessa forma, te amar infinitamente;
Te amar infinitamente, até o fim;
fim da vida, do dia ou do amor.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Posso/Devo beber? O cristão e o álcool.

E aí gente, beleza? Pra quem acompanhou meus dois artigos sobre os presbíteros, devem saber que deixei a questão do consumo de bebida alcoólica para um artigo individual. A razão disto é porque o assunto tem muita discussão, e, se por um lado não é uma questão fundamental do Cristianismo, por outro lado, não merece o tratamento leviano e as ponderações descuidadas e por vezes sem fundamentos com as quais o tema é abordado.



Correntes

Quando um cristão é questionado acerca do consumo de bebidas alcoólicas a resposta não é unânime. é bem capaz de encontrarmos numa roda de amigos da igreja ao menos um que defenda uma das três posições abaixo:

Proibitivo: um cristão de posicionamento proibitivo vai defender não apenas a abstenção do vinho, como também a proibição nas Escrituras.

Abstêmios: um cristão abstêmio (eu por exemplo) reconhece que não há um imperativo proibitivo para o consumo de bebida, mas desencoraja o consumo. Um abstêmio jamais afirmará que a bíblia proíbe o consumo de bebidas alcoólicas, mas nem por isso ele irá beber, em consideração ao potencial negativo do consumo de bebidas.

Moderado: um cristão moderado é aquele que não só afirma que a Palavra não proíbe o consumo de bebidas alcoólicas, como também consome.

Logo, há três possíveis resposta no seio da igreja. Qual será a correta? Há uma correta?

Onde a bebida alcoólica aparece na bíblia?

A bebida alcoólica aparece na bíblia  em diversas passagens que informam o consumo do vinho. E, caso analisemos as palavras originais traduzidas para vinho (seguindo um estudo do tema proposto por John MacArthur), todas elas dizem respeito à bebidas fermentadas, de teor alcoólico.

No Antigo Testamento, temos a ocorrência do termo yayin, o qual não diferencia nem o vinho velho, nem o novo, nem o suco de uva. Ou seja, embora alguns aleguem tratar-se de tradução para suco ou extrato não fermentado de uva (como em Jeremias 48:33), isto não estará correto em todos os casos. Por exemplo, em Gênesis 9:21, Noé bebeu vinho a ponto de embriagar-se e ficar nu. 

Há também a ocorrência do termo shekar, que pode ser traduzido como "bebida forte", e é oriundo do verbo shakar, que significa "embebedar-se". Ora, se o vinho não possui teor alcoólico, por que a raiz da palavra é o termo referente ao consumo de bebida capaz de embriagar um homem? O que seria "bebida forte", senão a bebida com teor alcoólico?

Há também o uso da palavra tirôsh, referente a sucos doces e mostos, sendo associado ao suco de uva não fermentado. Ora, se há uma palavra no Antigo Testamento que especificamente aborda o suco de uva não fermentado, seria hipocrisia ou tolice afirmar que todas dizem respeito a suco de uva sem teor alcoólico.

A discussão sobre o consumo de bebida alcoólica no Antigo Testamento tem fim no uso de yayin e shekar no mesmo versículo, hipótese na qual referem-se à vinho totalmente fermentado, como em Isaías 28:7. Ora, até o presente momento eu nunca vi um homem cambalear tomando suco de uva!

Já no Novo Testamento, o termo original em grego seria oinos, que  não faz distinção entre o vinho no início da fermentação (Marcos 2:22 - o vinho recém produzido é posto nos odres), o vinho fermentando (Marcos 2:22 - o início da fermentação faz os odres se romperem) ou já fermentado (Lucas 1:15). 

Também há o termo sikera, que diz respeito a "bebida forte", correspondente ao hebraico shekar.

E o que podemos dizer sobre o vinho na Palavra?

Antes de mais nada, é importante dizer que mesmo o dito "vinho novo" pode ter teor alcoólico, visto que a fermentação é um processo quase que imediato. Ocorre que para os homens, o "vinho velho" era considerado bom, em razão da elevada fermentação (Lucas 5:39). Há quem diga, neste sentido, que o vinho que Jesus produziu em seu milagre nas bodas seria fermentado!  Seria costume dar o vinho mais fermentado no começo (o bom!) e quando todo mundo já estava embriagado, davam o vinho novo, pouco fermentado. É certo inclusive afirmar que o vinho que é muito diluído nem mesmo é elogiado, conforme podemos inferir em Isaías 1:22. 

Fica difícil para os que dizem que o vinho da bíblia não possui teor alcoólico sustentar essa posição quando nos deparamos com passagens como Salmos 104:15, que faz alusão ao efeito de contentamento do consumo de bebida alcoólica, ou Provérbios 31:6, que recomenda vinho aos amargurados de espírito.

O vinho é vinculado também à tratamentos médicos (1 Timóteo 5:23), como antisséptico ou lenitivo para dores estomacais.

E, para os que dizem que o vinho é algo proibido, abordando a bebida como uma espécie de coisa impura e do diabo, tal posição carece de fundamento quando vemos a bebida ser oferecida nas ofertas ao Senhor, como em Êxodo 29:40 e Números 15:5.

E qual o erro dos proibidores?

Das três posições, eu consideraria a dos Proibidores a única incorreta. Afirmar que a Palavra proíbe o consumo de bebidas, diante de todas as informações acima é ir além do que a Palavra nos ensina. A Palavra de Deus é: inerrante, autoritativa e condena expressamente o abuso do álcool.

Se a Palavra de Deus não proíbe o consumo de bebidas alcoólicas, ao afirmar o contrário, o cristão coloca em xeque a inerrância das Escrituras, visto que dispensa tratamento diverso ao assunto, como se Deus houvesse errado ou se omitido ao não proibir o consumo. Também afronta a autoridade das Escrituras, ao impor a própria autoridade sobre a de Deus, impondo uma regra de fé e prática que a Palavra não exige, em semelhança aos líderes judeus que impunham a tradição.

Em passagem alguma vemos uma ordem para que o cristão em nenhuma hipótese beba vinho! A Palavra não condena o uso, e sim o abuso do consumo de bebidas. 

Como argumento, peguemos os versículos de I Timóteo 3 e Tito 1, que traz como requisito que o candidato "não seja dado ao vinho". Essa expressão vem da palavra paroinos, que pode ser traduzida como "colocar-se ao lado", ou seja, dizia respeito ao homem que sentava-se junto ao odre pra beber, de forma que seu copo estava sempre cheio e sua tendência era embriagar-se. 

O abuso do álcool usurpa a consciência e discernimento do homem, que precisa estar no controle de suas faculdades. Um bêbado se entrega às paixões e não discerne sequer a própria vontade! Quem dirá a de Cristo então? Falta-lhe lucidez e domínio próprio! Por esses e outros motivos, a embriaguez é condenada por Deus!

Ah, Pedro, mas o vinho era misturado com água!

De fato era! Pisado no lagar e desidratado até virar uma pasta, que era diluída em água para o consumo! Isso é verdade! Mas quem disse que isso tira o teor alcoólico de uma bebida?

A verdade é que TODA BEBIDA É MISTURADA COM ÁGUA! Toda bebida alcoólica leva água na composição, o que muda é a concentração de álcool!

A Escala Gay Lussac é responsável por determinar o teor alcoólico de uma bebida, medindo-se a razão de mililitros de álcool por 100ml da composição.

Só a título de exemplo, a cada 100ml de água na cerveja, há entre 5% a 9% de álcool! A aguardente tem entre 38% a 54%; a cachaça tem 38% a 48%, e por aí vai!

Mas e o vinho? O vinho tem entre 11% a 14% de álcool! Sobre a alegação da pasta ser diluída em água, cumpre ressaltar que dependendo do grau de diluição, as vezes o vinho não chegava nem a 3% de teor alcoólico! Mas mesmo assim, não dá pra dizer que não tinha álcool! Daí se entende a expressão "dado ao vinho" com mais clareza! Pro cara se embriagar com um vinho bem diluído, ele tinha que beber muito, ou seja, sentava-se junto ao vinho!

Caso semelhante no nosso tempo, quando a Ambev foi multada por dizer que sua cerveja Kronenbier era sem álcool, só por estar abaixo do percentual adotado para considerar uma bebida como alcoólica, mas havia uma porcentagem de álcool ainda menor que a deste vinho muito diluído!

E qual o dilema dos Moderados?

Eu não posso afirmar que os moderados erram, mas posso afirmar que eles vivem em grande dilema, de forma que ainda creio que a abstenção é o melhor caminho. Primeiro pela facilidade de se embriagar que nós temos hoje em dia, pois, como vimos acima, a bebida alcoólica que a Palavra apresenta é bem diferente da que temos hoje em dia! São bebidas com até o triplo do teor alcoólico dos vinhos e licores. A lógica é que bebidas mais fortes embriagam mais rápido!

Fica muito difícil apurar o momento em que a embriaguez torna-se um problema, visto que não há um parâmetro objetivo para dizer "Eu estou embriagado", bem como haver fatores externos que dificultam o impulso de parar, como por exemplo, o sabor da bebida; e fatores que facilitam a embriaguez, como consumir a bebida em jejum; e fatores biológicos como sexo (as mulheres ficam bêbadas mais rápido), idade ou ser obeso ou estar acima do peso.

Ainda tem o dilema jurídico! Quando a embriaguez é pecado, se, juridicamente falando, os efeitos do álcool como contentamento e relaxamento citados alguns parágrafos acima podem pressupor o primeiro estágio da embriaguez?  Nas aulas de Direito Penal, a fim de trabalhar a embriaguez como excludente de culpabilidade, minha querida professora me apresentou uma comparação antiga, onde três estágios da embriaguez são representados por três animais!

Segundo a comparação, o primeiro estágio é a euforia, representada pelo macaco, em razão de ser um animal saltitante e hiperativo, que representa o homem no início da embriaguez, quando fica eufórico, alegre e brincalhão! Neste estado, ele ainda conserva a sua consciência, mas já está sob os efeitos do álcool! Nossa tendência é considerar a embriaguez apenas a partir do segundo estágio, representado pelo leão, para retratar as mudanças temperamentais geradas pela bebida, por ser a fase, por exemplo, onde, já não tendo domínio de suas faculdades, o homem torna-se agressivo e suscetível. O terceiro estágio então nem se fala! Representado pelo porco, o homem já está na lama! Diz respeito ao ápice da embriaguez, caracterizada pela inconsciência e perda total das faculdades!

Ora, se para medicina legal e para o Direito os efeitos do álcool na primeira fase da embriaguez e antes dela são os mesmos, como posso saber se já não estou embriagado, ainda que consciente?

Outro dilema seria o escândalo, hipótese na qual Paulo apresenta o princípio da abstenção para não contaminar a consciência de irmãos considerados mais fracos. Ao abordar o consumo de carne sacrificada a ídolos, Paulo informa para os irmãos que têm consciência de que comer ou não não fará diferença, mas, se um irmão fraco ver o consciente comendo e isso lhe for razão de escândalo, isso se torna um pecado contra Cristo (I Coríntios 8). Assim como a carne, se a bebida escandalizar meu irmão, o correto é que eu não beba mais.

Uma forma apresentada pelos moderados de evitar essa abstenção é o consumo de bebidas em casa, sozinho ou com outros irmãos também moderados, para não haver o risco de um irmão fraco passar e ver!



O que seria a potencialidade negativa para um Abstêmio?

Como um abstêmio, além da questão do escândalo, eu, Pedro Silva Drumond, peco contra minha consciência se consumo álcool, pois, embora saiba que não é proibido, não me sinto bem, por ligar a bebida ao meu velho homem. Logo, se não peco contra a consciência de outrem, peco contra a minha.

Além disso, o consumo alcoólico é potencialmente lesivo, se considerarmos o risco de alcoolismo, e do ponto de vista médico legal, o aumento das possibilidades de cometer-se um ilícito penal sob efeito da bebida.

Outrossim, fica muito complicado você mostrar para um homem que a vida toda foi alcoólico, e que quer lutar por amor a Cristo e renovação de vida, que o consumo de álcool é lícito. É como colocar um hipocondríaco perto de uma bula de remédio e pedir para ele não ler! Esse homem precisa encontrar na igreja o que não encontrou no mundo, e não o contrário!

E por incrível que pareça, ainda temos que lidar com a ideia de falsa aceitação e tolerância ao mundo que o consumo de álcool propõe, quando na verdade este mundo e seus ideais não tem conformidade com os nossos! Só como exemplo, minha maravilhosa e incomparável mãe (os elogios são porque sei que ela vai ler e depois reclamar que falei dela) que, ao receber uma garrafa de cerveja artesanal que comprei para ela experimentar, pois sabia que ela gostava, quis logo postar nas redes sociais da seguinte forma: "Presente do meu filho crente", no sentido de que as pessoas me vissem como um cara tolerante, mas que também poderia ser mal interpretado como um cara anuente! Para mim foi uma lição de que eu não sou apenas filho, ou estudante, ou homem simplesmente; eu sou cristão! Filho cristão, estudante cristão, trabalhador cristão, homem cristão. Tudo que eu fizer, por mais inocente que seja aos meus olhos, vai refletir na forma como o mundo verá o cristianismo!

Além disso, eu também vejo um padrão no qual homens separados para Deus deveriam se abster do vinho, ainda que em caráter temporário! É o caso dos nazireus (Nm 6:2-6), sacerdotes em exercício (Lv 10:8-11), reis (Pv 31:4-5) e mesmo o caso de João Batista (Lc 1:15), Estes homens não deveriam consumir bebida alcoólica, e eu, como embaixador de Cristo, separado para Deus, missionário em tempo integral (tudo fora da igreja é um campo missionário), tenho essa regra para mim não como um peso da lei, mas como uma decisão de amor à Deus e ao meu próximo.

Conclusão

O consumo de bebidas alcoólicas não tem proibição na bíblia, recomendando-se moderação caso opte por beber. Há, ainda, recomendações para não consumir, se isso for escandalizar seu irmão e ser causa de tropeço para ele! Considerando todos os contras do consumo de bebidas, opto pela postura de abstenção.

Observação:

Consumir bebidas alcoólicas aumenta as chances de ouvir Pablo, Maiara e Maraísa ou Wesley Safadão, e, por mais esta razão, não recomendo o consumo de bebida alcoólica!

Eeeeeeh sofrência!!!


sábado, 7 de abril de 2018

Algumas considerações em João 1

Lendo João -  capítulo 1 é possível identificar três questões centrais:

1 - Jesus Cristo (Jo 1:1-5 e 32-34):

O Evangelho começa falando de Jesus, não só como aquele que inicia a vida cristã do homem, mas como aquele que é o princípio de todas as coisas, e sem o qual nada teria sido feito!

O Evangelho de João centraliza sua mensagem em Cristo, e não só no ministério de João, trazendo o foco inicial para a realidade de que Jesus é o Verbo.

Neste caminho, João busca esclarecer não apenas que Jesus estava presente no princípio, como também era Deus.

Informa que Jesus é aquele que dá vida ao homem, vida eterna. E essa vida eterna é a nossa luz, e sobre ela as trevas não prevalecerão.

Portanto, o Evangelho é pregar sobre Jesus! Ele tem que ser o centro da nossa mensagem pregada a vivida! O centro de tudo é Jesus Cristo!

2 - O testemunho de João Batista (Jo 1:6-34):

João dá seu testemunho sobre Cristo quatro vezes só no primeiro capítulo, abordando Jesus como o Verbo que se fez carne.

Apresenta Jesus como aquele a quem o mundo não conheceu, ainda que tivesse sido criado por Ele. Como o unigênito do Pai, que dá ao homem que crer o poder de ser filho de Deus. Como aquele que dispensa graça aos homens!

João testifica que batiza com água para o arrependimento, mas que o Cristo viria após ele, e que diante de Jesus ele era indigno de desamarrar suas sandálias.

Testifica também que Jesus é aquele que tira o pecado do mundo! Apresentando-o como o Cordeiro de Deus, anuncia a expiação do pecado na carne de Cristo.

João não se ensoberbece, e nem perde o foco. Ele não toma para si a figura de importância. Embora tivesse um grande ministério de preparar o caminho pra vinda de Cristo, não fez disso razão de exaltação própria. Pelo contrário, se coloca como pior que o mais baixo dos homens, que na época, eram os servos cuja função era tirar as sandálias dos seus senhores. Era a função mais humilhante existente.

João portanto não não eleva sua imagem aos céus, mas reduz a si mesmo como um servo que sequer seria digno de estar curvado diante do Filho, junto ao pó, tirando-lhe as sandálias! Assim como ele, não devemos nos encher de amor próprio por aquilo que fazemos, e sim reconhecer que nosso melhor ainda assim não é nada diante de Deus! Nada que o homem possa fazer tira-o da humilhação natural de ser eternamente dependente de Deus!

3 - O Chamado pra Deus

Cristo nos chama de formas diferentes. André pela pregação de João; a Felipe ordenou que o seguisse; para Natanael demonstrou seu poder. Cristo chamará aos seus, não importa a forma que usará. 

Isso nos alivia, pois sabemos que nossas falhas jamais serão razão para que um filho de Deus não encontre seu Pai (o que não significa dizer que não podemos causar embaraço na caminhada de alguém, muito menos que não prestaremos contas disso)! A eficácia do Evangelho não vem de nossa capacidade de pregação, da nossa logística, carisma e afins. Depende unicamente do chamado de Jesus, que abre olhos e ouvidos que são feitos para o ouvir!


Daniel e Eclesiastes 11:9-10

 "Jovem, alegre-se em sua juventude! Aproveite cada momento. Faça tudo que desejar; não perca nada! Lembre-se, porém, que Deus lhe pedi...