Hora de começar de novo. Tudo a minha volta vem desabando como fileira de dominós, na medida que descubro que nunca estive tão errado sobre mim, sobre tudo a minha volta.
É como se tudo de repente voltasse à estaca zero, e eu fosse novamente um rapaz deixado à própria sorte em um mundo ardil. A diferença é que eu baixei a guarda dessa vez. E o soco foi forte.
Então eis-me aqui renovado, mais forte. É preciso muito mais para me levar ao chão, pois agora eu espero diligentemente pelo próximo golpe.
É como se os Versos Íntimos de Augusto dos Anjos tivessem sido uma carta para mim. Pena que o correio demorou pra entregar. É como se Salomão pensasse em mim quando alertava sobre o beijo dos que odeiam.
Deixo para trás tudo que plantei. Não quero nem mesmo um pouco do trigo. Deixo meus frutos aos que ficam e sigo em jejum.
Vou recomeçar a vida em outro campo. Sou jovem, tenho bastante vigor parar arar a terra novamente, e não me falta nem semente e nem pão.
Mas essa viajem eu farei sozinho. Minha única bagagem será um livro e anotações sobre as lições que o passado me ensinou. Deixo para trás o homem que fui, desejoso que no campo outrora semeado, a lembrança deste lavrador se apague com as estações.
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