sábado, 20 de maio de 2023

A humanidade de Cristo (João 1:14)

 "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade."

João 1:14


O Evangelho de João inicia com a declaração de que no princípio era o Verbo, apresentando para nós a divindade de Jesus Cristo, como o Criador e Mantenedor de todas as coisas. Os versículos 1 a 13 tem por objetivo afirmar a divindade de Cristo, o nosso Deus. Já o versículo 14 é uma adição às informações anteriores. Jesus não apenas era o Verbo, Deus da Eternidade, como também se fez homem e habitou entre nós. É portanto uma afirmação da humanidade de Cristo.

Jesus não era um receptáculo que foi possuído pelo Espírito de Deus para realizar uma obra na terra, pois assim fosse, a ação de salvar teria sido realizada pelo Espírito Santo, e não pelo Filho. Também não era uma espécie de holograma espiritual que as pessoas poderiam ver, porém não poderiam tocar, caso assim fosse, a mulher com fluxo de sangue não teria tocado as Suas vestes e sido curada. Jesus também não era dotado de dupla personalidade, como se em seu corpo houvesse um homem chamado Jesus e o Filho de Deus como duas personalidades diferentes que se alternavam conforme o momento. Todos esses exemplos acima dizem respeito à heresias que já foram combatidas na história da Igreja.

O que João está nos ensinando, e que diversos outros textos corroboram, é que Jesus Cristo era plenamente Deus (1-13) e plenamente homem (14). Não havia divisão entre sua humanidade e divindade, e nem uma porção maior em detrimento da outra. A humanidade e divindade de Jesus Cristo eram plenas, e para isso, João nos apresenta algumas informações.

Em primeiro lugar, o Verbo se fez carne. A humanidade de Jesus era necessária para cumprir o plano da salvação. O homem pecou contra Deus, e era incapaz de pagar o preço do próprio pecado. Desde Adão e Eva nunca houve um homem capaz de expiar o preço dos próprios pecados de maneira permanente, de forma que o homem jamais poderia se apresentar diante de Deus santo. A mancha do pecado nos torna incapazes de nos apresentar diante de Deus. Seria como o culpado de um assassinato se apresentar diante do seu próprio juiz segurando a arma do crime, com as roupas ainda sujas do sangue da sua vítima.

A pena de um crime é proporcional ao dano causado, para que haja efetiva justiça e reparação do bem jurídico em questão, e, no caso do pecado, o bem jurídico a ser considerado é a glória do próprio Deus, que é Eterno e Perfeito. Portanto, como seríamos capazes de reparar um crime cuja vítima e glória são eternos e perfeitos? Sendo nós imperfeitos e finitos, a nossa vida como um todo seria incapaz de pagar a dívida que temos com Deus, assim como vemos na parábola do súdito incapaz de perdoar o seu servo (Mateus 18:21-35), cuja dívida não poderia ser paga nem com a totalidade dos seus dias e dos seus filhos. 

Por outro lado, não haveria justiça se um anjo pagasse o preço do pecado dos homens, sendo certo que fora a humanidade quem pecou, e não qualquer das legiões celestiais, as quais ainda conseguem estar próximas do Senhor, mesmo que cubram a própria face com suas asas.  Ninguém pode ser condenado pelo pecado dos outros, de forma que se o homem pecou, o homem deveria pagar o preço do seu próprio pecado.

Assim, Jesus assume a forma de homem, nascendo da virgem Maria e pagando o preço do nosso pecado. Por ser plenamente homem, Ele poderia oferecer a Si mesmo como o Réu pelo crime cometido contra Deus, pois em nada era diferente de Adão, sendo inclusive chamado de segundo Adão, pelo qual veio a justificação. Ao mesmo tempo, sendo plenamente Deus, Ele tinha a totalidade da glória e majestade necessária para perdoar o pecado cometido contra o Rei Glorioso e Eterno.

Em segundo lugar, Jesus habitou entre nós. Ele não apenas assumiu a forma de homem como também viveu como um. Ele sentiu na própria pele tudo aquilo que nós sentimos. Ele teve momentos de alegria e comunhão com seus discípulos, tinha uma rotina e vida de oração, ia para as sinagogas ensinar o verdadeiro significado da Palavra de Deus. Ele teve fome e sede, ele sentiu compaixão, e até mesmo precisou aprender a andar e falar, como qualquer um de nós precisou um dia.

Por outro lado, ele também experimentou a dor, sofrimento e angústia. Ele chorou durante o luto de Lázaro, Seu amigo. O Senhor foi alvo de injustiça e em tudo foi tentado, assim como cada um de nós. Ele não foi homem apenas na sua biologia, como também em toda a experiência de ter uma vida social, sentimental e religiosa. O nosso Senhor Jesus não passou pela terra alheio a tudo que estava acontecendo, pelo contrário, ele se importou com as necessidades das pessoas a Sua volta, alimentando os que tinham fome, curando os que estavam doentes e libertando os que estavam cativos de demônios. 

Em terceiro lugar, a humanidade pode finalmente contemplar a glória do Filho de Deus, o Unigênito do Pai. Mesmo sendo um homem como todos os demais, a glória de Deus finalmente pode ser contemplada pelos homens através da figura do próprio Filho. Havia mais na Sua presença e Suas palavras, pois todas as suas ações e pronunciamentos demonstravam a todos os homens a Sua autoridade divina. João nos afirma a superioridade de Jesus Cristo, incomparável a qualquer criatura nos céus e na terra. Isso porque Jesus é a exata expressão do Ser de Deus, mesmo tendo se esvaziado para viver como todos nós.

Sua glória se manifestava quando o Senhor falava, e Suas palavras paravam tempestades e expulsavam demônios de pessoas cativas. Quando Ele manifestava Sua vontade dizendo "Quero que seja curado", e de fato a pessoa era curada. Quando Ele proferia parábolas que faziam as escamas dos olhos das pessoas caírem e elas finalmente poderem contemplar a vontade verdadeira de Deus para vida delas. Seus sermões e ensinos eram gloriosos, e levavam as pessoas ao arrependimento e conversão genuína, tirando-as das trevas da iniquidade e dos ensinos de homens.

Sua glória se manifestou na vida de perfeita conformidade com a vontade do Pai. Desde a eternidade todos os aspectos da vida de Jesus Cristo foram proféticos, pois foram profetizados na Palavra de Deus do Antigo Testamento. Desde a profecia de que a salvação dos homens nasceria de uma virgem (Isaías 7:14), até mesmo as suas últimas palavras na cruz (Salmos 22:1) foram para cumprir integralmente a Palavra de Deus. Sabemos que nosso Senhor Jesus em tudo foi tentado, mas diferente de nós, Ele nunca pecou. Cristo foi o homem perfeito, o único que existiu, o único capaz de pagar o preço dos nossos pecados, pois era o único que poderia se apresentar diante de Deus sem qualquer pecado. Ele foi obediente até a morte de cruz para ser o Cordeiro sem manchas que aplacaria a ira do Senhor. Jesus foi o sacrifício perfeito.

Em quarto lugar, Jesus foi cheio de graça e verdade. A Palavra de Deus registra diversos milagres e demonstrações do poder de Jesus como Deus, e ainda assim, o que João destaca são suas expressões de misericórdia e verdade. Isso porque a vontade de Deus é que sejamos a imagem e semelhança do nosso Senhor, agindo na nossa vida da forma que o próprio Jesus agiu.

Cristo enquanto homem é gracioso, e todas as suas ações enquanto caminhou conosco foram expressões da Sua misericórdia. Ele jamais curou um enfermo ou libertou um endemoninhado com vistas a ganhar fama, tendo até mesmo em alguns casos se ocultado no meio da multidão ou se afastado de milhares de seguidores de barco, para que as pessoas não o pudessem seguir. Jesus repreendeu aqueles que acreditavam que Ele  havia se manifestado para combater o império romano com seu poder divino e seguidores.

Enquanto esteve na terra Jesus se preocupou em levar misericórdia para todos os homens, por mais odiáveis que eles pudessem ser. Ele cuidou de judeus, samaritanos, publicanos, soldados, mulheres marginalizadas, deficientes, pobres e viúvas. Ele foi cheio de graça, pois não escolhia a quem agir com misericórdia, mas vendo todos os homens como pecadores e ignorantes acerca da vontade de Deus. O nosso Senhor Jesus foi tão misericordioso que no momento da sua morte olhou para todos os homens furiosos que o haviam crucificado e escarneciam deles e pediu ao Pai que tivesse misericórdia, pois não sabiam o que estavam fazendo (Lucas 23:34)!

Cristo também foi extremamente verdadeiro, afinal, Ele é o caminho, a verdade e a própria vida. Jesus tratou a todos com verdade e sinceridade, e não proferiu qualquer mentira, mesmo quando sob risco de morte. A Sua verdade não diz respeito apenas ao fato de que nunca mentiu, mas também por ter ensinado para as pessoas a verdadeira vontade de Deus. Quando Ele ensinava e dizia "em verdade vos digo", Ele estava dizendo às pessoas o que de fato as palavras da Lei de Deus significavam. Ele não destruiu a Lei com um novo ensino, Ele apenas ensinou o que de fato a Lei ensinava. Não era a nova Palavra de Deus, mas sim a Palavra de Deus que estava ocultada pelo pecado e ignorância de líderes religiosos que só se importavam consigo mesmos e achavam que a justiça da sua vida dependia deles mesmos.

Isso nos ensina que:

Você não precisa fazer mais nada, pois o próprio Filho de Deus já fez tudo por você. A vida, ministério,  morte e ressurreição de Jesus cumpriram todos os requisitos para perdoar todos os seus pecados e garantir a sua salvação. Hoje você pode orar para o próprio Deus e falar diretamente com Ele, sabendo que Ele pode (e vai) te escutar. Tudo que você precisa para se apresentar diante de Deus é acreditar no que Jesus fez por você.

Jesus compreende e intercede por você junto ao Pai. Por ter vivido como cada um de nós, Jesus sabe de todas as suas limitações e tentações, e sabe muito bem que você é incapaz de não cometer mais pecados sem a ação do Espírito Santo. Quando você ora, Ele pode consolar o seu coração ferido e angustiado, porque um dia Ele também experimentou dor e angústia. Não há nada que você possa sentir ou sofrer que o próprio Jesus já não tenha sentido ou sofrido. Até mesmo o peso do pecado Ele sentiu, no momento em que carregou os seus na cruz do calvário, mesmo não tendo Ele pecado algum.

Precisamos ser verdadeiros e misericordiosos, assim como nosso próprio Senhor Jesus foi durante toda a Sua vida. O cristão precisa ser imitador do Senhor, guardando o bom testemunho da verdade, misericórdia e santidade em sua vida. Não podemos pregar o que não vivemos, do contrário seremos mentirosos e hipócritas. Não podemos mentir ou agir com dolo, com vistas a ter algum benefício. Pelo contrário, em todas as coisas devemos glorificar ao Senhor.

Por fim, é muito importante compreender que Jesus é totalmente Deus e totalmente homem, porque apenas dessa forma seria capaz de pagar o preço pelos nossos pecados. Negar a humanidade total e divindade total de Deus é colocar em dúvida a sua própria salvação e proclamar uma heresia que foi combatida por centenas de anos. Cristo foi totalmente homem para assumir a nossa culpa, e totalmente Deus para pagar a nossa dívida eterna.

Que Deus abençoe a sua vida!




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