A obra dos autores Ed Stetzer e
Sérgio Queiroz busca analisar diversos fatores e características das igrejas
consideradas saudáveis, e que trazem mudanças não apenas para os seus próprios
membros, como para toda a sociedade dentro de sua área de atuação. Para isto,
os autores salientam a necessidade de haver equilíbrio de doutrina e
proclamação do amor de Deus.
O objetivo dos autores é desenvolver
um conceito de igreja que vai além das quatro paredes de seus próprios templos,
mediante a análise de diversas igrejas locais por todo o Brasil, sem acepção de
denominação. Essa abordagem não apenas apresenta todas as igrejas locais como
integrantes de uma única igreja, como também deixa evidente que há determinadas
características das comunidades de fé que podem apontar realidades globais.
Outro grande ponto positivo desta abordagem é que analisa o tema na perspectiva
brasileira. No geral importamos material estrangeiro acerca do assunto, que por
vezes destoam da nossa realidade social.
Logo no primeiro capítulo um
conceito base nos é apresentado: A igreja como o instrumento de Deus para os
propósitos do Reino. Isto faz de cada cristão um instrumento de Deus para
edificação da igreja e pregação para o mundo. Fica evidente que para os autores
esta visão acerca do papel da igreja e do cristão é o marco inicial para as
igrejas brasileiras comecem a causar impacto na sociedade. Em sentido
contrário, o fato da igreja brasileira ter esquecido do seu papel de querigma e
limitado-se, em sua grande maioria, a promover as reuniões para aqueles que já
integram o seu quadro de membros e a razão pela qual a atual contribuição cristã evangélica para o Brasil
é quase nula.
Assim, os autores desenvolvem o
conceito de igreja transformacional, definida como “aquela que se concentra
tenazmente na capacidade do evangelho de mudar a vida das pessoas” (página 32);
o que é definido e exaustivamente abordado por Mark Dever como igreja
intencional. Essa diferença terminológica justifica-se pela vinculação da
intencionalidade não à igreja, mas aos relacionamentos. Os relacionamentos
intencionais são um meio para que a igreja se torne transformacional, operando
o primeiro conceito no rol de objetivos, enquanto este último encontra-se na
eficácia. Mudanças externas só ocorrerão quando a igreja retomar seus
objetivos.
Os autores levam em consideração que
a eficácia de uma igreja tem sido medida por um velho padrão americano que
considera o número de pessoas que frequentam as atividades da igreja (cabeças),
o orçamento e capital da igreja (conta bancária), e o tamanho da estrutura
física da igreja (construções).
O problema se dá pois a importação
de modelos avaliativos estrangeiros esbarra na realidade brasileira, o que
novamente é apontado pelos autores. Em seguida, apresentam um novo modelo de
medida da eficácia da igreja, que considera não a quantidade, mas a qualidade
de determinados aspectos da igreja. Não basta igrejas repletas de pessoas que
não podem ser consideradas discípulas de Cristo. Assim, o novo modelo leva em
consideração o quão bem-sucedidas as igrejas tem sido em fazer discípulos.
Não apenas os números, como também a
capacidade da igreja oferecer oportunidades dos membros desenvolverem
relacionamentos de longa duração, práticas espirituais baseadas na Palavra e o
uso das mesmas para produzir transformação. Isto é denominado pelos autores
como Ciclo Transformacional, o qual considera: (1) o discernimento da igreja,
mediante uma mentalidade missionária; (2) a capacidade da igreja abraçar,
caracterizada pela liderança apaixonada, relacionamentos estáveis e principalmente
na ênfase em oração; (3) o envolvimento na adoração, vida comunitária e missão
da igreja.
Conceitos como uma liderança
dinâmica, que independe de cargo eclesiástico ou título, bem como a percepção
do evangelismo como um estilo de vida, e não um programa ou mera atividade são
conceitos destacáveis nestes pontos.
A partir do terceiro capítulo da
obra os autores se dedicam a trabalhar cada um dos tópicos do ciclo
transformacional, iniciando pela mentalidade missionária. Para eles um grande
problema tem sido um foco excessivo das igrejas em si mesmas, fazendo com que
as mesmas sejam irrelevantes para o local onde estão inseridas. Para que uma
igreja seja transformacional ela deve compreender que se foi inserida em uma
determinada comunidade, e para transformá-la. É comum ver igrejas e
congregações totalmente destoantes e mesmo alienadas em relação ao seu contexto
geográfico, como se estivessem se escondendo ou evitando as pessoas a sua
volta.
Alguns relatos de igrejas
consideradas transformacionais trazem exemplos de como agir em prol e de acordo
com as pessoas que circunvizinham a igreja, como por exemplo, a regionalização
dos ritmos, consulta às autoridades locais acerca da igreja e sua atuação,
entre outras medidas.
É importante ressaltar, assim como
apontado pelos autores, que esta dimensão mais pessoal da igreja não exclui seu
dever de enviar missionários em caráter global. A igreja deve cuidar de si, da
comunidade a sua volta, mas também de pessoas e grupos espalhados por todo o
planeta.
Em seguida, os autores trabalham o
conceito de liderança vibrante, caracterizada pela valorização dos dons e
talentos daqueles que são liderados. Ensinam que um verdadeiro líder não
concentra em si o foco e atividades da igreja. Liderar é conduzir o outro na
descoberta do seu lugar no Corpo, preparando-o para preparar aqueles que virão
depois dele. Líderes transformacionais investem na formação de outros líderes e
desejam que cada vez mais pessoas se engajem na obra, sempre salientando o
sacerdócio universal de todos os crentes dentro e fora das atividades da
igreja. Neste tópico, o capítulo é encerrado com exemplos de liderança
transformacional pelo próprio Senhor Jesus Cristo, que deve ser o modelo a ser
seguido por todo cristão.
Já no quinto capítulo o conceito de
intencionalidade vem a ser trabalhado na esfera das construções de
relacionamento. Uma igreja que transforma o Brasil é apresentada como aquela na
qual as pessoas investem em relacionamentos, e fazem isso de forma planejada.
Há intenção de amar e valorizar as pessoas em sua caminhada com Cristo. Ser
relacional e intencional são coisas diferentes, pois o cristão relacional
investe em construir relações, enquanto o intencional constrói relações para
glória de Deus, visando a edificação do outro. Fica claro que a iniciativa de
aproximar-se não deve ser daquele que está chegando, mas daquele que já está
dentro.
Concordo com os Autores acerca da
necessidade dos pequenos grupos, pois são eficazes mecanismos nas construções
de relacionamentos, o que acabou sendo posto de lado em território brasileiro
pelo trauma das experiências com G12, M12 e afins.
Também apontam a necessidade da
igreja dar ênfase a oração, visto ser o que constrói uma relação estreita entre
Deus e o homem. Assim, igrejas transformacionais são aquelas que investem seu
tempo e incentivam seus membros a orarem. Não o fazem de forma meramente
litúrgica, mas de forma espontânea, por diversas vezes, em busca de compreensão
e afeição por parte do Senhor. Líderes de uma igreja transformacional precisam
ter uma vida de oração, a fim de dar o exemplo aos demais. Os autores são
claros: “Onde as pessoas oram, Deus opera. Onde Deus opera, a transformação
acontece.”
A adoração também é apontada como
uma marca de uma igreja transformacional. Uma igreja disposta a transformar o
Brasil deve render-se e adorar ao Senhor diante da revelação de Cristo e poder
do Espírito Santo. A adoração conecta as pessoas com Cristo, equipando-as para
o ministério. Não se confunde com o estilo do louvor ou meramente a liturgia, mas
engloba a resposta da congregação à obra de Cristo na cruz. Aliás, o estilo e
planejamento do culto não devem levar em consideração as preferências pessoais
do pastor, e sim a comunidade, de forma contextualizada. Os autores são
exaustivos na tentativa de diferenciar adoração de louvor, dedicando muito
tempo a abordagem sobre o tema. Ao final do capítulo adoração é trabalhada
exclusivamente na figura do louvor, com diversos conselhos para escolha dos
mesmos de forma contextualizada, porém adequada a Palavra de Deus.
Já o conceito de vida comunitária
trazido pelos autores de certa forma trabalha pontos já abordados nos
relacionamentos intencionais, inclusive no que diz respeito ao incentivo à
pequenos grupos, que na verdade acabou sendo o foco do capítulo, pela ênfase na
máxima participação de todos os membros.
O último tópico do livro encerra o
Ciclo Transformacional. A missão é definida como a razão de existência da
igreja e o evangelismo como parte natural da vida. Não se fala de momentos de
missão da igreja, mas de missão a todo o momento, por ser parte crucial da
igreja. A missão deve estar comprometida em levar a igreja para a cidade, mesmo
que a cidade não procure a igreja. Neste sentido, podemos entender que a igreja
não apenas prega o Reino, mas insere o Reino invisível na realidade visível das
pessoas, através da justiça social e envolvimento com a sua comunidade e
contexto.
A igreja deve definir um objetivo,
preparar-se para o evangelismo, e obviamente para a oposição. O líder deve
liderar a igreja, ao mesmo tempo que lidera as pessoas mediante discipulado e
acompanhamento pessoal.
Podemos concluir que o livro traz
uma boa proposta, com informações baseadas em uma pesquisa de mais de cinco
anos. Entretanto, cabe a ressalva ao método utilizado pelos autores, uma vez
que, ainda que a pesquisa seja plural no tocante as igrejas, as respostas foram
dadas pelos próprios pastores e membros das igrejas entrevistas.
Há de se considerar a possibilidade
de que parte destes irmãos possam ter superestimado a sua igreja. É comum que
tenhamos dificuldades de nos posicionarmos de maneira contrária ou negativa às
nossas próprias comunidades de fé. Não há como os autores apurarem a veracidade
das informações coletadas, tornando a pesquisa, de certa forma, uma questão de
confiança. Desta forma, torna-se arriscado atribuir às igrejas entrevistadas o
título de transformacionais, uma vez que a despeito das respostas dadas pelos
membros, poder-se-ia descobrir sérios problemas na igreja que chamariam a
atenção e gerariam escândalos.
Por fim, a obra funciona como um
manual prático para as igrejas, com diversos conselhos, exemplos e casos
concretos. O livro é pragmático, no melhor dos sentidos, sem abrir mão da
fundamentação bíblica, de forma que concilia teoria e prática de uma forma
extremamente natural. A igreja transformacional precisa estar atenta à todos os
aspectos do Ciclo Transformacional, sempre buscando se lapidar naqueles em que
estiver em falta.
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