sábado, 20 de maio de 2023

O testemunho de João Batista (João 1:15-18)

 "João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou."

João 1:15-18


A partir do momento que João nos apresenta a dupla natureza de Cristo e seus aspectos mais marcantes de vida e ministério, ele passa a escrever a história do ministério de Jesus. Nosso Senhor é apresentado como plenamente Deus (1.1-13), plenamente homem (1.14), e agora nos é apresentado como o Messias esperado (1.15). João Batista é o último profeta, pois ele é o último a profetizar a vinda do Messias (Mateus 11:11-13), sendo seguido pelo próprio Senhor Jesus pregando acerca de Si e do Reino de Deus.

A vida e ministério de João Batista tiveram como objetivo testificar acerca da vinda do Messias,  sendo ele a voz que clama do deserto e que endireitaria o caminho para chegada do salvador. João portanto nos é apresentado nesse texto como aquele que pregou e proclamou abertamente a vinda de Jesus, que iniciou seu ministério de ensino, pregação e martírio depois de seu primo. É por essa razão que o profeta declara que Jesus veio após ele, reconhecendo que mesmo sendo considerado um grande homem, sua vida e objetivo nada mais era do que preparar as pessoas para a vinda de Jesus.

Ainda que fosse alguns meses mais velho que nosso Senhor Jesus, João declara que Cristo foi primeiro do que ele. Isto porque o ministério de Jesus e sua obra de salvação não apenas estão decretadas desde o início dos tempos, como também desde o início todas as coisas foram feitas por meio dEle, e sem Ele nada existiria. No tocante ao ministério de salvação, o do nosso Senhor Jesus não inicia aos 33 anos de idade, após o seu primo, e sim já no seu nascimento, fazendo-se homem como nós, para ser capaz de nos representar na cruz.

Em seguida o autor bíblico afirma que todos nós recebemos da plenitude e graça por graça do nosso Senhor Jesus. Esse conceito de plenitude passa a ser o aspecto de destaque de todas as afirmações seguintes, conforme veremos a seguir.

Em primeiro lugar, recebemos da plenitude do nosso próprio Senhor Jesus. Isso significa que Jesus Cristo deu a si mesmo por completo para nós e em nosso benefício. Jesus foi plenamente verdadeiro acerca de Si mesmo e do Seu ministério, não tendo deixado nada oculto ou restrito para um determinado grupo, como os gnósticos gostavam de afirmar haver um conhecimento secreto de Jesus passado para um grupo restrito de cristãos mais elevados. Todas as coisas acerca de Jesus que os homens precisavam conhecer foram graciosamente reveladas a todos os homens.

Cristo não apenas se deu a conhecer plenamente a todos os homens, como também entregou a Si mesmo de forma integral, sofrendo a morte em nosso lugar. Ele não apenas compartilhou os seus ensinos, como também deu a Si mesmo para sofrer em nosso lugar. Nosso Senhor se entregou ao martírio, sendo torturado e sacrificado por nós.

Em segundo lugar, João declara que recebemos a plenitude e graça de Jesus por graça. É importante deixar claro essa informação, de que Jesus entregou a Si mesmo, completamente, não pelos nossos méritos e merecimento, tendo em vista que nada tínhamos para oferecer a Ele. Jesus se entregou por nós pela sua exclusiva misericórdia e bondade. A graça da nossa salvação nos foi concedida gratuitamente e sem merecimento algum. Mesmo a nossa obediência à Palavra não nos torna merecedores dessa salvação, pois a nossa carne é pecaminosa, e mesmo nossas boas ações podem esconder más desígnios e motivações.

Quando Adão pecou no Éden não havia qualquer mérito nas suas ações e palavras, e já naquele momento o Senhor determinou que enviaria o Seu Filho para reparar o erro do primeiro casal. Deus gratuitamente oferece a salvação para a humanidade condenada por Adão.

Em terceiro lugar, em Cristo está a plenitude da revelação. Os judeus justificavam a si mesmos nas obras com base na Lei. Moisés era estimado e considerado extremamente importante na religião judaica, por ser aquele a quem o próprio Deus revelou a Sua Lei para toda humanidade. Ao criar uma comparação entre Moisés e Jesus, João não está criando uma divisão entre Lei e Graça e Verdade, como se o próprio Moisés e demais pessoas antes da vinda de Jesus tivessem vivido uma mentira.

A Lei em si mesma já possui aspectos de graça, como a possibilidade de expiar por pecados através de um sistema sacrificial, determinações morais, civis e religiosas que demonstram o aspecto cuidadoso do Senhor em relação ao Seu próprio povo escolhido e até mesmo por demonstrar a necessidade de se apresentar santo diante do Senhor. A Lei dada por intermédio de Moisés era verdadeira, pois Deus não é homem para mentir, e nem conduziria Seu povo em engano. Ela servia não para salvar o homem, mas para mostrar ao homem sua necessidade de ser salvo. 

O que João está nos ensinando é que a plenitude da graça e verdade vieram através do Senhor Jesus Cristo. Se no Antigo Testamento era possível expiar cada pecado individualmente através do sacrifício determinado, em Cristo há o sacrifício definitivo para a expiação de não apenas um, mas sim de todos os pecados de todos os indivíduos a quem desejou salvar. A Lei de Moisés é verdadeira ao profetizar a vinda do Messias, sendo Jesus Cristo a própria verdade da Salvação. Jesus não revoga o Antigo Testamento, sendo na verdade Ele mesmo a plenitude da vontade de Deus profetizada.

Antigo e Novo Testamento são igualmente a revelação de Deus para os homens, sendo certo que no AT Deus promete a redenção dos homens e revela Seu plano de salvar a humanidade através do Seu Filho. Em alguns momentos o próprio Jesus aparece aos homens, mas a revelação de fato ocorre com o nascimento o ministério do Filho. O AT revela uma parcela do caráter de Deus, enquanto o próprio Jesus nos permite conhecê-lo por completo.

Nisto consiste o último ponto: Cristo é a plenitude de Deus. João nos declara que ninguém viu a Deus, tendo sido Jesus a revelar quem o Senhor era. É por isso que Ele declara a Felipe que quem vê a Ele, vê ao Pai (João 14:9). Jesus possui a mesma majestade, glória, autoridade e poder que o Pai e o Espírito Santo, sendo consubstancial com os demais membros da Trindade.

E como isso se aplica a nós?

Primeiro, precisamos ter a mesma humildade e discernimento de João Batista e compreender que nossas vidas e ministérios, por mais grandiosos e frutíferos que sejam, não são o mais importante. É preciso proclamar ao Senhor Jesus com todas as nossas forças, fazendo com que Ele cresça e nós sejamos cada vez mais irrelevantes diante da verdade do Evangelho. Se nossas carreiras religiosas e seculares colocam a pessoa de Jesus em segundo plano, elas estão nos conduzindo por caminhos de perdição e engano.

Segundo, não há uma verdade secreta do evangelho escondida para nenhum grupo de pessoas especiais. Todos somos igualmente pecadores, e necessitados do Senhor Jesus. A verdade de Deus não está escondida, mas plenamente revelada na Palavra e na pessoa de Jesus. Nosso Senhor não apenas se deu a conhecer por completo, como também Se deu por completo em nosso benefício, sem ocultar esse fato de ninguém. 

Terceiro, precisamos tomar cuidado com o erro dos fariseus e nos tornarmos legalistas, tomando nossas ações como a nossa própria justiça. A Lei nos mostra que somos pecadores, e se nos atermos simplesmente ao que se deve ou não fazer podemos cair no erro de justificar nossas próprias ações e nos considerarmos justos pelas nossas obras. Além disso, corremos o risco de perder o olhar misericordioso em relação ao próximo, que é igualmente pecador, embora aos nossos olhos nossos pecados são sempre justificáveis. Ao ler a Palavra também precisamos aprender a misericórdia e amor do Senhor Jesus diante da nossa incapacidade de ser perfeitos.

Quarto, se Jesus é a plenitude de Deus não precisamos buscar ao Senhor em rituais, visões e atos proféticos. Se queremos conhecer a vontade de Deus não precisamos buscar novas revelações fora da Palavra: basta aprender com o próprio Jesus Cristo. Deus não se comprometeu a trazer novas revelações, e nem estabeleceu oráculos para atualizar constantemente os homens acerca do que é agradável a Ele. O Senhor nos deixou Sua Palavra, para meditarmos nela e encontrarmos todas as respostas que precisamos.



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