quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Resenha do Livro: Reino de Deus e Desenvolvimento Social: Uma perspectiva Latino Americana


Depois de meses sem postar nada, eis-me aqui! A razão é que, embora eu esteja lendo mais e produzindo mais textos do que nunca, todos eles são para o seminário. Eu sequer tenho tempo de publicá-los aqui! Pra piorar, tentei mudar a plataforma do blog, e acabei perdendo tempo na Wordpress.
Para mim é um grande prazer (e também uma grande responsabilidade) escrever o presente artigo! O Fábio foi meu mentor durante o tempo que trabalhei num projeto chamado "Papo Alternativo", mas isso não me impede de colocar um olhar crítico de estudante na obra dele!
A questão é... O LIVRO É BOM DEMAIS! O Reverendo Fábio explica de forma clara acerca do seu tema, muito pertinente para nós. Afinal, hoje em dia qualquer proclamação de justiça social é chamada de pauta de esquerda. O problema é que tem gente de má-fé que de fato alega que o evangelho tem espectro político, só pra atrair essa nova geração que graças a Deus começou a olhar com mais carinho para os hipossuficientes do nosso tempo!
A definição acerca do que vem a ser o Reino de Deus pode variar bastante de cristão para cristão, de forma que a obra do autor Fábio Macedo visa estudar as implicações presentes e futuras deste reino. Entre pontos de vista extremamente futuristas ou de aplicação exclusivamente histórica, o autor busca expor o quanto esse Reino é presente, histórico e experimental, sem perder seu caráter espiritual e mesmo escatológico.
O autor traz as concepções bíblicas acerco do tema, desde o Antigo Testamento, elucidando que a própria criação do cosmos aponta para o reinado de Deus, na medida em que Ele não apenas criou todas as coisas como as sustém pela eternidade. Toda a criação sempre estará sujeita ao Seu poder. Deus é considerado como o Rei acima de todos os reis e deuses, como o governador do mundo. Quanto às expectativas messiânicas, o autor aborda exemplos em todo o Antigo Testamento de ações e personagens que prefiguraram a obra que Cristo haveria de realizar.
Quando o autor declara que as expectativas do Reino de Deus cumprem-se na Pessoa de Jesus, do Seu ensino, sinas e prodígios, deixa claro que o reino messiânico vai além do Reino eterno que aguardamos no fim dos tempos. Isso porque o Reino de Deus apontado nos evangelhos, conforme comprovado pelo autor, demonstra não apenas uma realidade escatológica, como também uma realidade presente.
Há diversas passagens que evidenciam um reino futuro, e outras tantas que o apresentam como parte da realidade do povo cristão. O autor esclarece de forma brilhante que, quando declaramos que o reino de Deus está em nós/entre nós, declaramos que Cristo Reina em nossas vidas. Reinando entre sua igreja perseverante, o reino de Deus não deixa de existir de forma invisível e intangível; mas também não deixa de mudar a realidade visível e se manifestar em coisas tangíveis. Para ressaltar que o Reino de Deus é tanto uma realidade quanto uma expectativa, o autor nos lembra que o conceito de eternidade não apenas como algo que não tem fim, mas também como uma realidade sem começo, sempre existente.
Portanto, quando dizemos que o Reino de Deus é eterno, declaramos que Cristo não se tornará o Rei apenas no fim dos tempos, mas que Ele reina sobre todas as coisas no tempo presente. Não apenas sobre a vida de todos que nEle crêem, como também daqueles que negam-lhe a fé, por ter recebido o nome sobre todo nome. Entretanto, sendo a realização da vontade de Deus, o Reino não está perfeitamente realizado nesta era, visto que parte da vontade de Deus está reservada para o fim dos tempos.
É certo que no curso da história essa visão de Reino foi desconsiderada. A teologia do século XIX, com o seu Jesus histórico, tornou irrelevantes quaisquer referências a um Reino futuro. A idéia do evangelho social era estabelecer o reino presente, que consiste em fazer a vontade de Deus na terra.
O autor também destaca a forma como a visão do Reino de Deus afeta a missão da igreja. Trazer o Reino de Deus como uma perspectiva presente e futura nos incita a praticar o bem e a justiça social, mas também nos dá esperança e forças para seguir a caminhada. A autoridade do Rei se manifesta para a igreja, seu poder transforma a realidade humana, a igreja revela e aponta para o Rei, realizando a sua missão. Um ponto de destaque se dá pelo esclarecimento do autor de que a vida eterna não é outra vida, mas a vida presente, ressurreta na vida de Cristo. A vida eterna é a nossa vida projetada para a eternidade, sem descontinuidade desta existência para a que está por vir.
Assim, o terceiro capítulo da obra é dedicado a demonstrar como o Reino de Deus transforma a sociedade. O Reino gera uma consciência transformadora e histórica, que nas palavras do autor “revela uma práxis que afeta diretamente nossa postura social, política e religiosa” sem deixar de ser uma realidade transcendente e eterna. Vemos esta visão refletir na Teologia da Libertação e suas influências na América-latina, na qual a realidade do Reino está diretamente ligada à transformação social, com respostas práticas à questões concretas como fome, justiça, racismo e outros temas.
As reflexões acerca da transformação social culminaram na Teologia da Missão Integral, pela qual o evangelho deve ser levado a todos os homens, e ao homem todo. Com isto, define-se que tanto os aspectos físicos quanto os espirituais do homem devem ser levados em consideração. O homem passa a ser considerado em sua integralidade, de forma que o autor defende a necessidade de se fazer teologia que leve em consideração a população Latino-Americana e suas demandas. Também ratifica a necessidade de compreender nossa cultura para realizar a missão de forma mais eficaz.
Isso é fato! É falta de senso só orar pelo que tem fome, se você tem comida para oferecer! Não to falando de dar o que vai lhe faltar, mas de ter condições de atender a demanda do outro e não fazer! Não adianta só pregar que o homem deve deixar seus vícios, se ao menos não tentarmos ensiná-lo como fazer isso! No mínimo encaminhar as pessoas em direção a quem possa efetivamente ajudar!
O autor conclui a obra abordando a relação da Igreja com o Reino de Deus, ressaltando que no Novo Testamento a igreja é compreendida como comunidade do Reino, sem, entretanto, ser confundida com o mesmo. Ela é agente e testemunha do Reino celestial.
Desejo tudo de bom ao Reverendo Fábio Macedo! Se a igreja dele aplicar tudo que o livro ensina, poderei descansar que há uma igreja séria cuidando das pessoas!


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