terça-feira, 30 de outubro de 2018

Alguns pontos sobre as eleições

1 - Tenho acompanhado muitos conflitos e questionamentos acerca do resultado das eleições para presidência no Brasil. Filhos brigando com pais, amigos rompendo laços, pessoas que até então eu considerava sensatas perdendo o decoro e coerência.

2 - Diante do estado caótico do nosso país, no tocante aos escândalos de corrupção que geraram rombos bilionários nos cofres públicos, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e prisão de Luíz Inácio Lula da Silva, parte da população brasileira entrou em estado de repulsa ao Partido dos Trabalhadores (PT). Este sentimento é um dos pilares dos conflitos que iniciaram no período de eleições.

3 - A fim de satisfazer os anseios desta parcela da população, Jair Messias Bolsonaro inicia a sua campanha em direção a presidência do Brasil. Entretanto, visto que o referido candidato é responsável por diversas frases ofensivas, que, admitamos, inflamou um discurso de ódio num grupo de brasileiros que já estavam com raiva. Parcela da população passa a adotar um discurso ríspido e com certos tons de intolerância, enquanto a outra parcela o acusa de ser homofóbico, racista, facista, estrategista, massagista e tantos outros"istas" possíveis. Este fator é o segundo pilar dos conflitos eleitorais de 2018.

4 - Em meio a fake news, brigas e acusações de que o candidato Bolsonaro pretende instaurar a ditadura militar, enquanto os seus eleitores acusam Haddad de querer transformar o Brasil na nova Venezuela, ou mesmo uma ditadura do proletariado; civis começam a trocar ofensas pesadas e mesmo descabidas. O estudante que teme uma ditadura e cessação de direitos humanos é taxado de comunista e libertino; o autônomo e pequeno empresário que deseja uma abertura de mercado maior com menores impostos é taxado de opressor e burguês explorador. Este é o terceiro pilar dos conflitos. Os dois candidatos vão para o segundo turno, com a vitória de Jair Messias Bolsonaro.

5 - No meio desta sociedade caótica, divididos nos dois grupos estão os cristãos. A falta de cosmovisão cristã por parte da igreja como um todo levou a ilusão de que o mundo é preto e branco, de forma que adotar pontos de vista de um dos dois lados da disputa é automaticamente adotar a pauta inteira. Pior ainda, os cristãos de cada grupo adotaram a postura de que os seus opositores políticos afastaram-se da sã doutrina e venderam sua alma para Baal. Este é o motivo do presente texto, razão pela qual declaro que:

6 - Em primeiro lugar, dizer que quem votou em Bolsonaro ou Haddad não pode ser cristão é tolice. Cristão é quem imita Cristo e crê nEle, e não quem optou por um ou outro candidato. Não há outro requisito para ser filho de Deus que não seja a fé em Cristo. A maior acusação que poderia ser feita com certa coerência seria de que o eleitor do candidato A ou B peca por desconhecimento da Palavra ao adotar a pauta de um ou do outro.

7 - Em segundo lugar, nenhum dos candidatos tem uma pauta 100% cristã, até porque eles presidirão o país como um todo, e não apenas os cristãos. Coube a cada cristão analisar as pautas, propostas e buscar aquele candidato que lhe passou mais segurança nas propostas de governo. Ademais, naquilo em que Deus e Sua Palavra é ofendido, o cristão tem meios de intervenção direta na política.

8 - Ao cristão cabe a tarefa de pregar o evangelho de Cristo para todas as pessoas, e não de apontar quem de fato são os eleitos. Lembre-se: a onisciência é um atributo de Deus!

9 - Nenhum líder religioso tem autoridade para impor sua vontade política para o rebanho sob seu pastoreio. Basta uma leitura de Romanos 13 para entender que todas as pessoas devem respeitar as autoridades civis. A mesma autoridade civil brasileira que instituiu que o voto é pessoal, direto e secreto, o que deslegitimiza qualquer intervenção no sufrágio alheio.

10 - O púlpito não deve ser utilizado com qualquer outra finalidade que não seja a proclamação do evangelho. Promoção pessoal ou de grupos e partidos, cuja finalidade é beneficiar um determinado grupo devem ser desestimulada, e o líder eclesiástico responsável deve ser repreendido e disciplinado.

11 - Boa parte dos conflitos foi gerado por falta de conhecimento da Palavra, que ensejou a aparente contradição entre as pautas e eleitores. Ratifico: votar em um candidato não determina se você é cristão ou não.

12 - Devemos compreender, por exemplo, os que votaram no Bolsonaro em busca do direito de autodefesa, baseando-se em Êxodo 22:2; mas também compreender os que repudiam tal posição sob a alegação de que devemos ser mansos e pacíficos, tutelando sua posição em Mateus 5:38-48. Entender os que escolheram Bolsonaro pensando na livre iniciativa com base em Salmo 128:2; mas também entender os que votaram em Haddad em busca de uma justiça generosa que contemple a moral de Deus e dever social de cuidar dos hipossuficientes, usando para tal, passagens como Tiago 1:27. Interessante é que nenhuma das passagens se contradizem!

13 - Desta forma, as eleições de 2018 não dividiram a igreja por separar o joio do trigo, e sim por deixar evidente para toda a sociedade brasileira que não sabemos aplicar a Palavra que dizemos defender. A igreja brasileira está dividida por falta de conhecimento, e principalmente de amor.

14 - Neste ponto, vale informar que nenhum líder religioso tem prerrogativa para declarar que todos os outros não são cristãos, simplesmente porque não adotam a sua pauta e cosmovisão. Ninguém deve se apresentar como a única luz que não ficou sob o candeeiro, nem mesmo referir-se aos cristãos que votaram no candidato ao qual se opõem como "ossos secos".

15 - Temos a grande responsabilidade de consertar esses erros. Acho que não é preciso dizer muito sobre esse ponto. 

16 - Quanto ao resultado, rogo que tenhamos em mente que, seja lá qual fosse o resultado, é o Senhor quem estabelece reinos e governos, seja pra exaltação ou juízo do povo. Isto deve ser para nós razão de descanso, pois sabemos que o nosso Pai está no controle, e que, mesmo se um mal governo vigorar, a justiça do Senhor para a vida dos responsáveis será consumada ao tempo certo.

17 - No tocante aos resultados, devemos ponderar:

18 - Primeiro, que diferente do que alguns vêm dizendo, não houve violação à democracia, visto que o presidente foi eleito por voto direto. Os 43 milhões que votaram contra não tem legitimidade para se opor ao resultado proveniente da escolha dos outros mais de 50 milhões de eleitores.

19 - Entretanto, esses números nos demonstram que a dita "minoria" é uma parcela considerável da nossa nação. Nosso presidente tem a responsabilidade de governar para eles também. Diante do resultado, o Brasil deve derrubar essa barreira criada entre a dita direita e esquerda, e trabalhar juntos para restaurar o país. Até porque esse espectro político é bem confuso no nosso país.

20 - Devemos ser sensíveis para entender a oposição. Por detrás de cada "comunista" há um trabalhador que teme seus direitos serem restringidos; por detrás da "facista" há uma senhora que foi vítima do crime sem ter sido amparada pelo Estado. Lutamos contra um inimigo invisível que projetamos no outro. Lembre-se que o ditador que você está combatendo é o seu filho, seu pai, vizinho, avó, pastor. Pessoas com as quais você sempre conviveu e que agora decidiu atacar.

21 - Aos que estão torcendo para que o presidente faça um governo ruim, é necessário uma auto-avaliação, e alguns cultos sem ceia. Devemos orar por aqueles que nos governam, para que façam o melhor, e não desejar que piorem algo que já está ruim, porque seu ego é maior que sua vontade de ver o bem de todos.

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