A superação do paradigma da civilização capitalista e a abertura ao do paradigma ecológico
Ruben Siqueira
O artigo
aborda a relação da CPT com o documento redigido pelo papa, denominado Laudato Si. O texto e conteúdo do
documento chamam a tenção por diversos motivos, os quais elencarei nos
parágrafos abaixo.
Em
primeiro lugar, destaco a grande possibilidade de cristãos protestantes
unirem-se a católicos, associações paraeclesiásticas e mesmo grupos gentílicos
que defesa e promoção do meio ambiente. Isto porque a Ecologia é um assunto de
trato comum, cujas obrigações humanas e mandato cultural estrapolam barreiras
dogmáticas.
Afinal,
o cuidar da terra foi um mandato dado à humanidade, que tomada pelo pecado,
exerce exploração dos recursos naturais de forma desenfreada. No texto em
questão, os efeitos do pecado recebem o nome de “paradigma da civilização
capitalista”, o qual entra em conflito com o paradigma ecológico.
Neste
sentido, a segunda consideração é a própria necessidade da quebra de
paradigmas. Ao estudar as interações do homem com o meio ambiente, deparei-me
com a visão mais atual de exploração ambiental consciente, a qual considera os
recursos não apenas ao tempo presente,
mas também para as próximas gerações. O dito paradigma ecológico é a mudança de
cosmovisão de um modelo predatório que visa o lucro máximo para um modelo de
consumo consciente de recursos.
Tal
sistema apresentado no texto e nas faculdades de Administração possuem respaldo
bíblico, caso o cristão deseje caminhar e encontrar um ponto de contato com os
demais habitantes do planeta que não comungam da mesma fé: é a ordem do Senhor
para governar sobre a criação e cuidar do Éden, conforme vemos no texto de
Gênesis.
Em
terceiro lugar, compreendendo a missão integral ensinada por Abraham Kuyper,
cuidar do ambiente também é cuidar do indivíduo em todos os seus aspectos. Isto
porque o homem é um ser social, cujas ações causam/sofrem conseqüências dos
demais indivíduos a sua volta, tanto em escala micro como em escala macro.
Neste sentido, o texto deixa bem claro que qualquer crise ambiental não ocorre
alheia à uma crise social, visto que afetam a todos.
Geralmente
se vincula a teologia de Kuyper à necessidade de cuidar dos hipossuficientes, e
nem esta visão entra em confronto com o texto. Afinal, qualquer impacto
ambiental é sentido primeiro pelas camadas mais baixas da sociedade. Geralmente
é o pobre que sente o impacto das calamidades ambientais, das doenças,
epidemias, catástrofes naturais, etc.
Ainda
sobre a missão integral, é interessante a visão do Reino de Deus presente
entre/através dos cristãos, de forma que somos responsáveis pelas coisas que
acontecem agora. É ruim uma teologia que ensine o homem a ter os olhos apenas
no reino escatológico, sem compreender que Cristo se faz presente hoje através da Sua igreja!
A missão
integral até recebe um nome específico no artigo: Ecologia Integral. Logo, a
construção de uma cultura e cosmovisão de proteção ao ambiente.
Por fim,
o artigo é de extrema necessidade, sendo necessário que façamos a leitura sem
qualquer preconceito. Isto porque o texto em si é proposto como uma crítica ao
capitalismo predatório. Repita-se: capitalismo PREDATÓRIO.
No país
polarizado no qual vivemos, e mesmo em contexto de idolatria política
(independente de espectro político), qualquer crítica ao capitalismo, ainda que
justa, é o suficiente para rechaçar todo um trabalho, “jogando fora o bebê
junto com a água”. As críticas do artigo
são corretas, e um capitalismo que explora o indivíduo e o ambiente de forma
predatória merece e precisa ser combatido!
Encerramos
com a final do artigo, contida na Laudato
Si:
“A cultura ecológica não pode
se reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão
surgindo à volta da degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais
e da poluição. Deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um
programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham
resistência ao avanço do paradigma tecnocrático”
(LS 111)
REFERÊNCIAS:
Revista Ecoteologia, 2ª Edição. Organização: Moema Miranda. Edição/diagramação: Osnilda Lima, fsp.
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