quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Abordagem do artigo "A Comissão Pastoral da Terra e a Laudato Si"

A superação do paradigma da civilização capitalista e a abertura ao do paradigma ecológico

Ruben Siqueira

 


O artigo aborda a relação da CPT com o documento redigido pelo papa, denominado Laudato Si. O texto e conteúdo do documento chamam a tenção por diversos motivos, os quais elencarei nos parágrafos abaixo.

Em primeiro lugar, destaco a grande possibilidade de cristãos protestantes unirem-se a católicos, associações paraeclesiásticas e mesmo grupos gentílicos que defesa e promoção do meio ambiente. Isto porque a Ecologia é um assunto de trato comum, cujas obrigações humanas e mandato cultural estrapolam barreiras dogmáticas.

Afinal, o cuidar da terra foi um mandato dado à humanidade, que tomada pelo pecado, exerce exploração dos recursos naturais de forma desenfreada. No texto em questão, os efeitos do pecado recebem o nome de “paradigma da civilização capitalista”, o qual entra em conflito com o paradigma ecológico.

Neste sentido, a segunda consideração é a própria necessidade da quebra de paradigmas. Ao estudar as interações do homem com o meio ambiente, deparei-me com a visão mais atual de exploração ambiental consciente, a qual considera os recursos não apenas ao tempo  presente, mas também para as próximas gerações. O dito paradigma ecológico é a mudança de cosmovisão de um modelo predatório que visa o lucro máximo para um modelo de consumo consciente de recursos.

Tal sistema apresentado no texto e nas faculdades de Administração possuem respaldo bíblico, caso o cristão deseje caminhar e encontrar um ponto de contato com os demais habitantes do planeta que não comungam da mesma fé: é a ordem do Senhor para governar sobre a criação e cuidar do Éden, conforme vemos no texto de Gênesis.

Em terceiro lugar, compreendendo a missão integral ensinada por Abraham Kuyper, cuidar do ambiente também é cuidar do indivíduo em todos os seus aspectos. Isto porque o homem é um ser social, cujas ações causam/sofrem conseqüências dos demais indivíduos a sua volta, tanto em escala micro como em escala macro. Neste sentido, o texto deixa bem claro que qualquer crise ambiental não ocorre alheia à uma crise social, visto que afetam a todos.

Geralmente se vincula a teologia de Kuyper à necessidade de cuidar dos hipossuficientes, e nem esta visão entra em confronto com o texto. Afinal, qualquer impacto ambiental é sentido primeiro pelas camadas mais baixas da sociedade. Geralmente é o pobre que sente o impacto das calamidades ambientais, das doenças, epidemias, catástrofes naturais, etc.

Ainda sobre a missão integral, é interessante a visão do Reino de Deus presente entre/através dos cristãos, de forma que somos responsáveis pelas coisas que acontecem agora. É ruim uma teologia que ensine o homem a ter os olhos apenas no reino escatológico, sem compreender que Cristo se faz presente  hoje através da Sua igreja!

A missão integral até recebe um nome específico no artigo: Ecologia Integral. Logo, a construção de uma cultura e cosmovisão de proteção ao ambiente.

Por fim, o artigo é de extrema necessidade, sendo necessário que façamos a leitura sem qualquer preconceito. Isto porque o texto em si é proposto como uma crítica ao capitalismo predatório. Repita-se: capitalismo PREDATÓRIO.

No país polarizado no qual vivemos, e mesmo em contexto de idolatria política (independente de espectro político), qualquer crítica ao capitalismo, ainda que justa, é o suficiente para rechaçar todo um trabalho, “jogando fora o bebê junto com a água”.  As críticas do artigo são corretas, e um capitalismo que explora o indivíduo e o ambiente de forma predatória merece e precisa ser combatido!

Encerramos com a final do artigo, contida na Laudato Si:

 

“A cultura ecológica não pode se reduzir a uma série de respostas urgentes e parciais para os problemas que vão surgindo à volta da degradação ambiental, do esgotamento das reservas naturais e da poluição. Deveria ser um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático”

 (LS 111)


REFERÊNCIAS:

Revista Ecoteologia, 2ª Edição. Organização: Moema Miranda. Edição/diagramação: Osnilda Lima, fsp.

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