quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

As igrejas locais devem proceder na exclusão de membros?



INTRODUÇÃO

O objetivo do presente artigo é abordar se há na Palavra de Deus fundamentos para exclusão de membros nas igrejas. Ressalto não possuir qualquer interesse na abordagem do assunto com objetivo de criar polêmica e dissensões nas igrejas locais.

Busco, à contrario sensu, unificar o entendimento deste aspecto da doutrina da Igreja, demonstrando não só apenas a base bíblica e doutrinária da exclusão, como também os benefícios para saúde da igreja e do pecador excluído.


FUNDAMENTOS

1º A INAFASTABILIDADE DAS ESCRITURAS

"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" - 2 Timóteo 3:16-17

"... sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo." - 2 Pedro 1:20-21


Considerando que no momento em que o Evangelho adquire um saber amargo, exortando o povo, homens apelam para relativização das Escrituras, sob a alegação de que o teor de determinada passagem tem aplicação restrita ao período temporal ou contexto social do povo a quem foi declarada, é de se esperar que haja quem alegue que a exclusão de membros é algo que não se aplica mais nas igrejas.

Tal alegação é descabida, em razão dos atributos do Autor das Escrituras. Deus inspirou, influenciou, soprou toda e cada palavra das Escrituras que a nós foi entregue através do Espírito Santo, de tal modo que nada se deu pela vontade ou simples cognição humana.

O autor da Palavra é Deus, o qual não mente (Tito 1:2), e no qual não há mudança ou sombra de variação (Tiago 1:17), de forma que suas palavras registradas no cânon das Escrituras são divina revelação, infalível, verdadeira e de aplicação atemporal.

A autoria humana das Escrituras não a torna relativa, em razão da ação de Deus sobre seus escolhidos, seja no falar dos profetas  ou mesmo no trabalho de pesquisa que antecedeu a escrita dos evangelhos (Lucas 1:1-4).

Alegações de membros da igreja no sentido de não aplicar a Palavra no que diz respeito a qualquer parte, sob fundamento na autoria humana (por serem os homens falíveis) são pecado, e refletem falta de conhecimento (Oséias 4:6), carnalidade (1 Coríntios 3:1) ou indisposição de renovar o mundo sendo sal e luz (Mateus 5:13-16).

Ademais, olhando para Cristo, o Verbo, que foi plenamente homem, mas sem pecado, por ser Deus; é plenamente aceitável que os verbos de Deus sejam, independente da falibilidade dos autores humanos, inerrantes e dotados de todas as prerrogativas da autoria divina.

Desta forma, se há na Palavra princípios ou estatutos acerca da exclusão de membros, aspectos humanos como sociedade e história não são suficientes para afastar a aplicação da Palavra de Deus.

2º PRECEDENTES NAS ESCRITURAS

Podemos apontar a legitimidade da igreja para exclusão de membros na existência de precedente nas Escrituras.

Paulo escreve acerca da imoralidade da igreja de Corinto em sua primeira carta, no capítulo 5, citando a existência de um homem que estava vivendo uma relação incestuosa com a esposa do seu pai (vs. 1).

Paulo aponta o estado de soberba da igreja, que não se entristeceu pelo homem cometer tal ato não ter sido tirado de entre a igreja (vs. 2)! Desta forma, o apóstolo é claro não só quanto a possibilidade, mas também a necessidade da exclusão daqueles que não se apresentam regenerados.

A presença de tais pessoas tem que causar tristeza à igreja, o que pode ser considerado uma forma de avaliação da saúde espiritual da mesma, visto que a tolerância ao membro em pecado, sem arrependimento, denuncia a soberba da igreja, seu afastamento de Deus e sua condescendência ao pecado, pois uma igreja doente não realizará tratamento radical ao pecado da membresia.

É determinado que a igreja não se associe a tais pessoas, apontando não tratar-se dos gentios, sim dos que se dizem irmãos em Cristo (vs. 9 a 11).

Infelizmente algumas pessoas recusam-se a comer com os pecadores sem Jesus, mas não deixam de comer com o dito cristão, mas que no seu interior é devasso; ou, em uma atitude mais hipócrita, mostra-se em repulsa com os pecados exteriores, mas joga panos quentes sobre os pecados cometidos pela membresia, ainda que iguais (ou mesmo piores) que o de não convertidos.

Paulo é categórico ao fim do capítulo: "... Tirai pois dentre vós a esse iníquo." (vs. 13)

3º O ENSINO DE JESUS

É preciso ressaltar que todos pecamos, das mais variadas formas possíveis. A redação do presente artigo pode se tornar um pecado para mim, se a glória de Deus, o amor ao próximo e a edificação da igreja deixarem de ser meu objetivo; a sua leitura pode ser o seu pecado, se a faz não pelo crescimento na Palavra e amor à igreja, mas a fim de atacar alguém que você nutre uma inimizade. Logo, mesmo atividades ordinárias como a leitura e escrita podem ser instrumentos do pecado.

Se todos pecamos, qual o critério adotado para exclusão de membros, sem que se haja de maneira hipócrita ou intolerante, bem como evitar acusações nestes sentidos vindas daqueles à quem a medida é aplicada?

O critério a ser aplicado é a evidente obstinação e oposição à vontade de Deus no qual não há arreprendimento constatado pela comunidade de fé, visto que o Espírito Santo que habita na congregação não é de confusão (1 Coríntios 14:33).

A presença do Espírito Santo nos dando discernimento acerca da vontade do Pai é uma realidade que se molda ao ensino de Jesus em Mateus 18:15-17, que aponta para a igreja como bússola acerca da vontade divina.

Jesus nos ensina como tratar o irmão culpado. Caso ele peque, devemos levar a questão ao irmão, de forma personalíssima, sem exposição pública. Neste caso, ganha-se o irmão, que reconhece seu erro e corrige seus passos. Caso contrário, leve testemunhas que confirmem suas acusações do pecado.

Por último, o caso é levado à igreja, e não havendo arrependimento e retratação, esta o considera como gentio e publicano, ou seja, não é um cristão, ainda que tenha composto a membresia da igreja.

Logo, a exclusão de um membro da igreja não é uma atitude discriminatória e inconsistente com o amor ao próximo, pois só ocorre após todas as tentativas de convencer o pecador da perdição dos seus caminhos.

4º A AUTORIDADE DA IGREJA

Vemos em Mateus 18:18 Jesus dar autoridade à igreja para declarar, após todas as tentativas, que determinada pessoa não é cristã, desligando-a na terra, e consequentemente no céu.

Tal autoridade não procede dos homens que compõem a igreja local, e sim de Deus e Sua Palavra. Jesus é a fonte da autoridade da igreja (Mateus 28:18-20), de forma que, a exclusão de um membro não poderá ser considerada contrária à vontade de Deus, se observar aquilo que as Escrituras ensinam, e aquilo que o próprio Filho declarou.

A exclusão é permitida para a igreja, mediante autorização daquele que é o cabeça, não admitindo-se, entretanto, que se proceda de forma diversa dos ensinos da bíblia.


APLICAÇÕES

Apresentados os fundamentos, irei não só demonstrar a licitude da medida, como também os benefícios não só para igreja, como também para aquele que sofre a exclusão.

1º Se a igreja é um corpo com diversos membros funcionando em unidade, um membro da igreja local agindo doente pelo pecado pode comprometer a saúde espiritual da igreja, como uma célula cancerígena destrói o hospedeiro aos poucos. Isto pode ocorrer de diversas formas, desde o ensino enganoso, a adesão ao pecado ou o esmorecimento de alguns membros diante da sensação de omissão e relaxamento da igreja, que morre lentamente e afastasse cada vez mais da vontade de Deus.

Embora a salvação seja individual, a edificação na vida cristã é uma tarefa comunitária (1 Tessalonicenses 5:11 e Romanos 14:19), de forma que a comunhão com um membro da igreja local que não possa ser considerado um membro da igreja universal é misturar joio e trigo, luz e trevas.

Assim, a exclusão do membro não significa que a igreja seja insensível, e sim que tem a sensibilidade de compreender que o amar ao próximo não é ser condescendente com o pecado, e que o segundo grande mandamento (amar ao próximo) não pode se sobrepor ao primeiro (amar a Deus sobre todas as coisas), anulando-o pela aceitação pública e medo de esvaziamento dos bancos.

2º A exclusão de um membro não pode ser acusada como falta de misericórdia, visto que a mesma é um favor de Deus aos homens, àqueles que tomaram a cruz como justiça e Cristo como fiador.

A igreja deve ser composta por aqueles que produzem frutos de arrependimento e que demonstram a fé em Jesus pelo observar dos seus mandamentos. A exclusão não é falta de misericórdia e amor, mas a consciência de que, como representação visível da igreja invisível, assim como no porvir os pecadores obstinados não irão compor a nova Jerusalém, tais não devem compor as galerias e assembleias das igrejas.

3º A exclusão é sempre com o objetivo de preservar, seja a igreja, seja o pecador. Paulo declara que o adúltero seja entregue para destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus (1 Coríntios 5:5), o que aponta para o fato de que a medida buscava preservar a alma daquele homem.

Poderíamos trabalhar com a hipótese de que a exposição e exclusão fira o ego daquele homem, e mesmo que entregue ao mundo, ao sentir falta do amor do Pai, este reconheça seu pecado e retorne arrependido, como o filho pródigo (Lucas 15:11-32). Ficam os demais membros, portanto, com a responsabilidade de estar prontos a receber o pecador de volta, sem imputar à ele o pecado passado.

4º Se tal homem não retornar à Cristo, confirma-se a Palavra, e de fato aquele sempre foi gentio, não sendo ilícita a exclusão; se tal homem retornar, também confirma-se que as ovelhas de Cristo reconhecem sua voz, e nenhuma delas se perderá (João 10:28-29).

Desta forma, conclui-se que a exclusão de membros não é apenas prevista, mas necessária para a manutenção do corpo de Cristo.

Deus seja louvado acima de tudo!!!
Pedro Silva Drumond.

2 comentários:

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