terça-feira, 9 de abril de 2019

O mito grego da Hospitalidade: Comparações entre a ética grega e a ética judaico-cristã


O mito:

O Mito da Hospitalidade traz a história de Báucis e Filêmon, casal que residia na Frígia. Segundo o mito, Zeus decidiu testar a hospitalidade dos homens, e convida o seu filho Hermes para acompanhá-lo como viajante no mundo, disfarçados de pobres estrangeiros. Logo os deuses experimentam fadiga, frio e fome, visto que ninguém os oferecia abrigo e alimento.

Após milhares de tentativas, ao chegar em um local remoto na Frígia, batem a porta de uma cabana extremamente humilde, sendo recebidos por seus donos, Báucis e Filêmon, um casal de idosos extremamente humildes. Estes, ao recebê-los, preparam seu único ganso e oferecem a sua única garrafa de vinho, sem se envergonhar de sua pobreza. Ao perceber que a garrafa de vinho jamais ficava vazia, o casal percebe que seus convidados não eram simples estrangeiros e pedem perdão por não ter um banquete melhor para oferecer.

Zeus e Hermes revelam-se deuses, e acalmam o casal agradecendo por sua hospitalidade. Zeus, que havia se irado com os homens, ordena que os idosos os sigam ao alto de um monte, pois destruiria toda a cidade, o que de fato realiza com a inundação do vale onde residiam. O casal chora por todos os mortos, bem como por sua humilde residência ter sido destruída na inundação.

Entretanto, ao recuar das águas, sua residência havia sido transformada em um templo de mármore com teto de ouro. Ato contínuo, os deuses concedem dois desejos para o casal. O casal pediu autorização para servirem aos deuses como sacerdotes no novo templo, bem como, por terem passado toda a vida juntos, que pudessem morrer juntos.
Zeus concede longevidade para o casal servir e viver juntos no templo, e, chegada a hora, Hermes concede o desejo de morrerem juntos, transformando-os em duas árvores cujos galhos e troncos se entrelaçam no último abraço dado pelo casal.

O relato bíblico

O livro de Gênesis relata no capítulo 19 a chegada de dois anjos à cidade de Sodoma, a qual havia sido condenada pelo Senhor em razão do seu alto grau de impiedade. Os homens são recebidos por Ló e sua família, que oferecem abrigo e alimento.

No meio da noite, todos os homens da cidade reúnem-se em volta da casa de Ló, ordenando que o mesmo entregue os dois estrangeiros. Estes homens pretendiam estuprar os anjos, razão pela qual Ló oferece suas duas filhas virgens, a fim de proteger seus hóspedes. Assim sendo, Ló é atacado pelos homens da cidade, e resgatado pelos anjos, que causam cegueira em todos, e ordena que Ló e sua família abandonem a cidade. Após se dirigirem para Zoar, Sodoma e as cidades vizinhas são destruídas por uma chuva de fogo e enxofre.

Comparações

O mito da hospitalidade e o relato de Gênesis 19 partilham alguns elementos comparativos: o divino despindo-se de sua glória, a preocupação com o cuidado do pobre e do estrangeiro, a recompensa pela fidelidade e obediência e a destruição como consequência da desobediência.

No que diz respeito ao divino despir-se de sua glória, podemos comparar a ordem de Zeus à Hermes, que deveria deixar suas asas no Monte Olimpo, a fim de não parecer com um deus, com Cristo despindo-se de sua majestade e glória, assumindo a imagem do servo sofredor (Filipenses 2:5-8).  O que difere o relato bíblico do mito é que o objetivo de Zeus e Hermes era simplesmente testar a bondade e obediência dos homens, enquanto Cristo assumiu a forma de servo para ser o substituto perfeito dos homens na imputação do pecado, bem como para deixar-nos o exemplo de serviço como forma de amor.

A ética grega traz a hospitalidade como uma lei, no que se denomina Xênios, cujo objetivo é garantir o cuidado do estrangeiro e do pobre, bem como assegurar a paz. Assim sendo, um cidadão grego deveria oferecer comida e hospedagem ao estrangeiro que o procurasse. 

Da mesma forma, a Palavra de Deus revela seu cuidado com os hipossuficientes sociais, quais sejam, o pobre, o órfão, o estrangeiro e a viúva, no que hoje é denominado de ética judaico-cristã. Toda a bíblia traz ordens para que se cuide do estrangeiro, seja dando abrigo ou permitindo que este recolhesse as espigas à beira da estrada. A ordem de Deus acerca da hospitalidade era considerada com tanta seriedade que Ló oferece suas duas filhas aos homens da cidade, pois ao dar abrigo para alguém, o anfitrião era responsável por manter seus hóspedes seguros.

 No Novo Testamento a hospitalidade é apresentada como uma das prerrogativas dos presbíteros, responsáveis por cuidar da igreja (1 Timóteo 3), assim como Báucis e Filêmon, por sua hospitalidade tornaram-se sacerdote do templo dos deuses.

Tanto o mito quanto o relato bíblico trazem a figura da punição pela desobediência, bem como a recompensa pela fidelidade. Em ambos os casos, embora a hospitalidade seja um dever oriundo do Xênios ou da ética judaico-cristã, ambas são apresentadas como virtudes, e sua ocorrência não se dá por temor da punição, mas por filantropia e amor. A recompensa material, em ambos os casos, é graciosa, visto não ser esperada.

BIBLIOGRAFIA

O mito da hospitalidade - Baucis e Filemon, disponível em: https://mitologiagrega.net.br/o-mito-da-hospitalidade-baucis-e-filemon/


Zeus - O Protetor dos Deveres da Hospitalidade, disponível em: http://pitonisadefebo.blogspot.com/2009/08/zeus-o-protetor-dos-deveres-da.html


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