sábado, 22 de maio de 2021

Bíblia Hebraica - O texto massorético

O texto hebraico do Antigo Testamento é denominado de texto massorético, pois se baseia na transmissão textual dos massoretas, eruditos judeus que na Idade Média se propuseram a formar a bíblia hebraica e transmitir o texto da forma mais exata possível. O texto massorético medieval é constituído de quatro elementos: texto consonantal, vocalização, organização textual e a massorá à margem.

O texto consonantal

a) Primeiro período (3º Século a.C.): texto consonantal bem conceituado, a partir do texto protomassorético. O que importava era o conteúdo do texto, e a exata reprodução das consonantes parecia algo secundário. Período que durou até a destruição do segundo Templo pelos romanos.

b) Segundo período (70 d.C. até o 7º século): maior unificação do texto massorético consonantal e sua preservação pelos rabinos.

c) Terceiro período (8º século d.C. até o final da Idade Média): estabelecimento da vocalização do texto consonantal, inicialmente com diferentes sistemas de pontuação. Período de continuada fixação do texto, com vistas a sua preservação.

A Escritura Sagrada do judaísmo precisa ser descrita como um corpus escalonado de textos autorizados: (1) Tanak, que é a revelação direta dada a Moisés no Monte Sinai e transmitida pela tradição; (2) livros proféticos; (3) Salmos. Essa divisão reflete o processo histórico de construção.

Os livros da terceira divisão do cânon hebraico passaram a integrar as Escrituras Sagradas após um longo processo de discussão entre o século 3º d.C. e 4º d.C. Tal processo foi atribuído à um suposto sínodo em Jâmnia, no qual o conselho superior dos judeus teria se reunido sob a liderança do rabino Gamaliel II, criando um cânone hebraico distinto do cristão. Entretanto, tal sínodo não ocorreu.

Transmissão e correções

O texto  consonantal transmitido pelos massorestas apresenta diversas peculiaridades, como letras estranhas e pontos extraordinários; observações na margem sobre a leitura das consonantes.

Sobre os pontos extraordinários (puncta extraordinaria), 15 passagens receberam pontos por cima de determinadas letras ou de palavras inteiras. Alguns desses pontos  indicam supressão, mas no geral se discute seu suposto uso para indicar a presença de supostos erros de cópia ou de variantes questionáveis.

Na BHS também ocorre  o nun invertido (nun inversum) em 9 oportunidades, acompanhado de um sinal diacrítico, e seu uso é comparado ao do sigma invertido em fontes alexandrinas do grego. Indicariam que o texto está entre colchetes, fora do seu lugar original. Alguns consideram como abreviação para nakud, onde o nun era invertido para não ser considerado como parte do texto.

O texto massorético também apresenta letras suspensas (Litterae suspensae) em 4 palavras, utilizados como forma de correção do texto, necessária por razões de natureza crítico-textual.

Também apresenta letras ampliadas (litterae maiusculae) nos manuscritos medievais, no início de uma seção ou livro, para diferentes finalidades.  Também podem ser utilizadas para indicar o meio de um livro.

Outro fenômeno é o Ketib-Qere, onde as observações marginais são feitas pelos copistas conectadas diretamente ao texto consonantal. Na margem é inserida uma palavra ou forma de palavra diferente da encontrada no texto, indicando a forma correta de ler em voz alta. Alguns dizem que se tratam de instrumento que visava a melhoria do texto.  Outra corrente alega serem variantes textuais extraídas de um ou mais manuscritos e inseridas na margem. 

Há também um tipo especial de Ketib-Qere, a ser lido sempre (Qere perpetuum), que ocorre sempre no nome de Deus, na pronúncia de Jerusalém e no uso do pronome pessoal da terceira pessoa do singular feminino.

O texto massorético também apresenta opiniões (Sebirin), passagens onde uma forma alternativa foi anotada à margem, com formas mais simples ou comuns de palavraas do texto que são consideradas difíceis ou complicadas.  Recebem o significado de simples opiniões ou sugestões.

Há também correções dos escribas (Tiqqune sopherim), segundo a tradição rabínica, em 18 lugares onde há evidência de que os escribas interferiram no texto consonantal, corrigindo-o. Correções que tem a ver principalmente com leituras ofensivas, ensejando alterações. 

Vocalização massorética

Haviam diferentes grupos de transmissores entre os massorestas, dependendo do tipo de trabalho que faziam: alguns copiavam exclusivamente o texto consonantal (soferim); outros eram responsáveis por adicionar os sinais vocálicos e acentos à estrutura consonantal (naqdanim); e aqueles que adicionavam observações nas margens e abaixo do texto, a fim de garantir e exercer controle sobre a forma do texto.

A vocalização dos massoretas foi precedida por outras tentativas de fixar a pronúncia e leitura do texto, como a transcrição do texto hebraico em caracteres gregos, uso de sinais vocálicos e de pontuação e pontos diacríticos.

Houveram 3 sistemas de vocalização: palestina, babilônica e tiberiense. As vocalizações babilônica e palestina são divergentes não apenas nos sinais vocálicos utilizados, como também na própria fixação da pronúncia.

Já quando falamos da vocalização tiberiense, 3 fatores determinantes são destacados: (1) a vocalização se baseia na tradição da leitura oral, sendo mais recente; (2)  a interação ou influência recíproca entre a pronúncia do hebraico e considerações de ordem gramatical; (3) decisões de natureza exegética.

A vocalização tiberiense se deu por duas famílias: Ben Asher e Ben Naftali, tendo suas diferenças listadas pelo Kitab al-Khilaf, um tratado que serve para apurar o grau de concordância dos manuscritos  medievais que trazem vocalização tiberiense.

Dianta de diversas possibilidades de vocalização, entende-se que a crítica textual não pode ter como ponto de partida o texto vocalizado, e sim o consonantal, sem qualquer vocalização.

Divisão do texto e sistema de acentuação

Nos rolos de Qumran aparecem sistemas de divisão de texto, em especial a divisão  prosaico  bivalente, que faz distinção entre seções principais e seções subordinadas dentro do texto que é copiado de forma contínua. Desta  forma, as  divisões não são fruto da atividade dos massoretas, que apenas as transmitiram.

A Torá foi dividida pelos massoretas em leituras semanais, que poderiam durar um ano (parashás) ou três (sedarim), respectivamente 54 ou 154/167 seções semanais.

Também se  aplica a divisão em versículos, que é a menor unidade significativa do texto e já pode ser identificada em alguns dos manuscritos  de Qumram.

No tocante à acentuação, cumprem 3 funções: (1) sinais de cantilação para declamação ou recitação do texto no culto; (2) revelam sílabas tônicas; (3) sinais de pontuação e organização de texto.

Entre os acentos também temos o Paseq, que é um sinal vertical colocados entre duas palavras para indicar que devem ser mantidas separadas, ou quando a consonante final da primeira palavra é idêntica à inicial da segunda; e o Meteg, que é um tracinho que aparece ao lado esquerdo da vogal, para dar sustentação ou apoio à vocalização.

Já a divisão em capítulos foi inserida na Vulgata Latina, sendo introduzida também na bíblia  hebraica por volta do século 14 d.C.

Massorá menor e massorá maior

Os massoretas desenvolveram um sistema de preservação do texto, denominado de massorá, consistente em notas marginais colocadas ao lado (massorá parva) ou abaixo (massorá marginal) do espaço em que se encontra o texto.

Tinham por objetivo principal impedir que surgissem formas de escrita  anômalas ou irregulares. Tratava-se de  uma forma de controle da qualidade do texto consonantal, que buscava também evitar erros e trazer dados estatísticos.

Temos a massorá menor indicando a aparição de uma palavra ou formulação, enquanto a massorá maior traz as referências ou passagens onde ocorrem essas palavras ou formulações.

- Impedir formas de escrita anômalas ou irregulares

- Evitar erros por desatenção ou acomodação

- Trazer dados estatísticos sobre uma palavra ou forma de palavra

- Controle da qualidade do texto consonantal

Manuscritos hebraicos da Idade Média

A bíblia completa em hebraico tem os manuscritos do início da Idade Média como textos fundamentais. São eles: PARA NATÁLIA DAR UM RESUMINHO

  • Códice do Cairo
  • Códice Aleppo
  • Códice Leningrado
  • Códice Oriental Ms.  4445
  • Códice Sassoon 1053
  • Códice Babilônico Petropolitano
  • Fragmentos de Guenizá
Edições impressas

As primeiras edições do texto bíblico hebraico foram preparadas por eruditos judeus, e traziam  comentários rabínicos e traduções aramaicas (targumim), dando origem à designação "Bíblia  Rabínica".  A "Primeira Bíblia Rabínica" (1516-1517) foi produzida em Veneza.

Já a Segunda Bíblia Rabínica (1524-1525), conhecida como Bombergiana, foi a primeira a trazer toda a massorá impressa, sendo considerada a mais significativa e normativa edição impressa, cujo texto acrescido da massorá  passou a ser visto como canônico. As coleções de variantes resultam da colação de manuscritos com o textus receptus.

Já as poliglotas trazem ao lado do texto original hebraico várias traduções dispostas em colunas paralelas.

Edições críticas

São edições que explicam o texto  e sua transmissão. Segue dois princípios: (1) Eclético, pelo qual se faz a escolha das melhores leituras que aparecem nos manuscritos disponíveis, e o resultado é publicado. Cada decisão é documentada, permitindo a leitura dos textos alternativos; (2) Diplomático, pelo qual se reproduz fielmente um documento usado como base.

Atualmente a base para o estudo e crítica textual do Antigo Testamento é a quarta edição da Bíblia Hebraixa, denominada Stuttgartensia (BHS). Reproduz o texto segundo o Códice Leningrado.

Outras edições críticas merecem ser listadas, como:

  • Bíblia Hebraica Quinta (BHQ)
  • Stuttgarter Elektronische Studienbibel (SESB Version 2.0)
  • Hebrew University Bible (HUB)
  • Oxford Hebrew Bible Project (OHB)

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