sábado, 4 de fevereiro de 2023

Tu és este homem - 2 Samuel 12:1-14

A história de Davi é a prova clara da honestidade do Evangelho sobre a verdadeira condição dos homens. Ela nos mostra a benção de Deus ao escolher para si o menor da casa e exaltá-lo sobremaneira; ela nos mostra um simples pastor de ovelhas se tornar um líder militar e rei de toda uma nação. Davi nos é apresentado como o homem segundo o coração de Deus.

Ao mesmo tempo, a mesma Palavra que apresenta todos os méritos de Davi e as bençãos do Senhor na sua vida, nos apresenta também o seu pior. Por ser Davi um homem segundo o coração do Deus, e pelo próprio Senhor escolhido para reinar Israel, não vemos Deus esconder de nós nenhuma das sua falhas. A bíblia nos apresenta sua desobediência ao fazer o censo do povo de Israel, e também o seu adultério e assassinato cometido para encobrir o seu pecado. O homem segundo o coração de Deus nos é apresentado como alguém que violou dois dos dez mandamentos.

No capítulo 11 de 2 Samuel nós vemos que Davi cobiçou e tomou para si a mulher de um dos seus soldados. Seu pecado não poderia permanecer encoberto, visto que a esposa de Urias havia ficado grávida do relacionamento com Davi, num período no qual o seu marido estava fora de casa, guerreando com os amonitas. Nós vemos Davi tentar fugir da responsabilidade e do escândalo público ordenando que Urias retorna-se para casa, e tivesse a oportunidade de deitar-se com a esposa em tempo hábil de ser considerado o pai de eventual criança que viesse a conceber.

Urias, compadecido da situação dos demais soldados que permaneciam acampados e distantes das suas famílias, decide não voltar para casa, e permanecer nas tendas dos guerreiros. A resposta de Urias, embora correta e nobre, não era a desejada por Davi, que precisava esconder os seus erros. Davi então decide dividir a mesa num banquete com o soldado, para ter a oportunidade de embriagá-lo e induzi-lo a voltar para casa. Esse plano também não dá certo.

Vendo o tempo passar sem qualquer sucesso, Davi toma uma decisão extremamente cruel: ele ordena o assassinato de Urias, enviando-o para o campo de batalha num combate sem perspectiva de retorno. O homem segundo o coração de Deus sacrifica centenas de soldados com o intuito de que um deles em específico não retornasse para casa e descobrisse o seu erro. Neste plano Davi teve sucesso.

A bíblia, portanto, ensina para nós tanto o potencial para o bem através da ação do Espírito Santo no coração do homem; como também a luta constante contra o pecado, que em determinados momentos da vida nós iremos perder. A Palavra nos ensina tanto as virtudes que devemos alcançar, como também nos apresenta os erros que devemos evitar, através da narrativa dos pecados e consequências na vida dos santos que nos antecederam.

No texto bíblico de hoje vemos que o sucesso do plano de Davi não havia passado despercebido pelos olhos de Deus, que enviou um profeta para repreender o rei e apresentar a sentença pelo crime cometido. O homem que era responsável pela morte de outro homem poderia pagar com a própria vida. Um homem e uma mulher que adulterassem poderiam ser apedrejados até a morte segundo a lei  mosaica. O plano de Davi objetivava proteger o rei das consequências do seu pecado, o que jamais seria aceito pelo Senhor. O homem que conduzia o povo de Deus na terra não poderia ser um transgressor da Lei do Senhor e permanecer impune. 

A repreensão de Davi através do profeta Natã é uma lição maravilhosa para a vida de todos nós. A frase ríspida e direta do profeta ao rei ecoa através dos tempos e chega a nós com a mesma acusação. Olhar para a forma que nos portamos em relação ao pecado próprio e do outro é nos depararmos com a Palavra do Senhor dizendo para nós: "Tu és este homem".



O texto bíblico nos ensina algumas lições muito práticas.

1º Nós somos extremamente cruéis com o pecado do nosso irmão, esquecendo que cometemos pecados semelhantes ou até mesmo mais escandalosos.

A Palavra nos mostra que enquanto ouvia o relato do rico que havia lesado ao pobre tomando o que era seu deixou Davi extremamente irado. Enquanto o profeta relatava o crime cometido Davi ficava cada vez mais enfurecido com a grande injustiça que estavam relatando para ele. E em nome de Deus ele declara que aquele homem era digno de morte. Ele exige a reparação quatro vezes maior pelo prejuízo financeiro causado ao pobre, como única forma de compensar o sofrimento da vítima e punir o transgressor. A fúria de Davi seria extremamente pertinente e verdadeira, se não fosse ele mesmo o acusado pelos crimes narrados.

Davi que antes estava inflamado pelo sentimento de justiça agora se encontrava diante do profeta tendo que confessar que pecou contra o Senhor. Neste momento todo sentimento de justiça necessária é substituído pela constatação do próprio pecado e do fato de ser ele mesmo repreensível e passível de morte. O próprio Deus enviara para ele o profeta, para que expusesse o crime cometido e ouvisse do rei a sentença a ser aplicada. Neste momento, Davi havia condenado a si próprio.

Nós, da mesma forma, temos muita facilidade para apontar e condenar o pecado das pessoas a nossa volta. Nós ficamos extremamente irados quando descobrimos o pecado de alguém, e questionamos como é possível que alguém que se diga "filho de Deus" seja capaz de cometer tal erro. O problema é que geralmente nós estamos cometendo pecados semelhantes ou mesmo mais escandalosos que o do nosso irmão, com a diferença de que os nossos erros sempre tem uma justificativa. Somos capazes de nos arrepender verdadeiramente e seguir em frente tentando lançar nossos pecados no esquecimento, enquanto olhamos para nosso irmão pecador e desejamos a maior exposição, confrontação e consequência possível para ele. Em termos simples: o pecado do outro é sempre mais grave.

2º O pecado precisa ser confrontado para que o nome de Deus não seja blasfemado

O texto bíblico nos mostra que mesmo que o plano de Davi tenha dado certo, ele precisaria confrontar o seu pecado e ser responsabilizado por ele. O próprio Deus envia um profeta com a Sua exortação para o rei, para que não houvesse dúvida de que a vontade do Senhor prevaleceria. Ser o rei de Israel não traria a Davi um tratamento mais benéfico em relação ao seu pecado. Até mesmo pelo fato de ser o rei, todos os olhos estavam voltados para ele.

O pecado do rei não permaneceu em oculto, e o que ele havia feito com Urias atravessou o campo de batalha, de forma que Natã declara que as ações de Davi faziam com que o nome do Senhor fosse blasfemado pelos amonitas. O grande líder do povo de Deus na terra era um assassino e adúltero, enquanto a Lei do Senhor condenava ambas as coisas. O testemunho do rei entrava em contradição com aquilo que Israel deveria representar para os povos a sua volta. Davi precisava ser confrontado.

Conosco também não é diferente. Tirando os pecados que cometemos em pensamento, aqueles que praticamos através das nossas ações sempre serão pedra de tropeço para o nosso próximo, e para todas as pessoas a nossa volta. Quando as pessoas nos percebem impunes pelos erros que cometemos, não é apenas o nosso nome que é jogado na lama, mas o testemunho do evangelho nas nossas vidas que é colocado em xeque. Estamos vivendo tempos complicados, onde parte da igreja se entregou à idolatria política e outros pecados, e o nome do Senhor tem sido menosprezado por isso. 

Sem entrar no mérito de se uma pessoa é verdadeiramente cristã ou não, a verdade é uma só: quando o nome de Jesus é proclamado por lábios impuros e de cristãos repreensíveis, a nossa pregação perde força, e ser cristão deixa de ser visto como um sinônimo de virtude e passa a ser visto como sinônimo de hipocrisia. O povo de Deus passa a ser tratado como aquele que condena tudo o que pratica em secreto.

3º Diferente de nós, quando Deus se ira com o nosso pecado ele estende a mão para levantar e não para agredir.

Davi é exortado pelo profeta, uma sentença é proferida, e o pecado teria consequências, como todas as ações necessariamente tem. Davi havia tentado esconder o seu pecado, e Deus decidiu que ele seria repreendido, e punido publicamente. O filho oriundo do adultério faleceria, e posteriormente o  seu leito e concubinas seriam violadas publicamente, para que Davi fosse envergonhado perante todas as pessoas.

Ainda assim, Deus envia suas palavras através de Natã: Também o Senhor perdoou o seu pecado; não morrerás.

Deus não pune por punir, ele não fere por ferir. Ele não se compraz sadicamente da dor dos Seus filhos. Pelo contrário, o seu jugo é suave, e a sua repreensão é sempre justa e com vistas a edificar o pecador. Se Davi, como rei, havia decretado a morte do homem que cometesse um pecado semelhante ao dele, Deus por outro lado havia decidido misericordiosamente ao seu favor.

Deus deseja que você confronte e confesse os seus pecados para que possa caminhar junto com ele.

E semelhante ao nosso Senhor Jesus, precisamos aprender a olhar para o pecado do outro com misericórdia.

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