sábado, 19 de agosto de 2023

Leve a sério - Êxodo 4:24-26

 E aconteceu no caminho, numa estalagem, que o Senhor o encontrou, e o quis matar.

Então Zípora tomou uma pedra aguda, e circuncidou o prepúcio de seu filho, e lançou-o a seus pés, e disse: Certamente me és um esposo sanguinário.

E desviou-se dele. Então ela disse: Esposo sanguinário, por causa da circuncisão.

Êxodo 4:24-26

Moisés havia acabado de receber uma missão do Senhor: retornar ao Egito como libertador do povo hebreu que estava vivendo em escravidão. Ele deveria fazer diante do Faraó todas as maravilhas do Senhor estava fazendo, e dizer ao povo que Deus havia atentado para sua aflição.

E nos deparamos com um dos relatos mais emblemáticos acerca das ações de Deus: O Senhor que acabara de ordenar à Moisés que retornasse ao Egito, no caminho, deseja matá-lo. É aparentemente incoerente que Deus tenha dado ao líder israelita uma missão, e em seguida tenha o sentenciado a morte sem dar a oportunidade dele exercer o seu chamado. Entretanto, não estamos diante de qualquer contradição ou incoerência da parte do Senhor, e sim da parte do próprio Moisés, conforme abordaremos nos tópicos a seguir.

1º Moisés não estava levando Deus a sério

Precisamos compreender que Moisés ainda não tinha noção do peso das suas palavras e decisões. Ele já havia irado ao Senhor por ter se recusado a ser o porta-voz de Deus ao povo, conforme os versículos 14 e 15. É compreensível que Deus demonstrasse Sua ira e poder ao patriarca, a fim de que este acordasse à realidade de que não poderia se opor e questionar ao Senhor constantemente.

Deus em Sua misericórdia já havia usado de benevolência com Moisés diante da sua recusa de ser porta-voz, e diante das suas constantes reclamações acerca de não ser capaz de convencer o povo. Deus manda Moisés, e ele reclama que o povo não iria crer nele e dar atenção. Então Deus concede à ele um bordão através do qual poderia operar milagres. 

Em seguida Moisés reclama de não ser eloquente, e Deus age de misericórdia e assegura à Moisés que ele mesmo ensinaria o que deveria ser dito! Ante a incapacidade de Moisés, o próprio Deus o ensinaria, com a mesma proximidade e relação que Adão teria nas visitações no Éden caso não tivesse caído.

Mesmo assim Moisés reclama novamente, a ponto do Senhor se irar contra ele.

Moisés não havia compreendido que estava falando com o Deus Todo Poderoso, e que era pequeno, e mesmo que Deus se dispusesse a falar diretamente com ele, isso não fazia que ele fosse mais do que poeira na eternidade. Moisés por diversas vezes questiona a escolha e sabedoria de Deus, olhando não para Deus, e sim para si mesmo e suas limitações.

E a gota d'água acaba sendo a incircuncisão de Gérson, o seu filho. A circuncisão era o sinal da aliança de Deus com Israel, e também uma Lei de Deus dada à Abraão, associada às promessas. Ao não circuncidar seu filho, Moisés estava novamente descumprindo uma ordem de Deus. Ele precisava ser confrontado com a sua desobediência e rebeldia. Como homem, era normal ter dúvidas, e Deus compreende isso. Só que as dúvidas não podem ser justificativas para desobediência à ordens expressas dadas por Deus.

E o que isso nos ensina? Não podemos viver com Deus pela metade, apenas naquilo que é vantajoso.

2º Moisés não estava levando seu chamado a sério

Deus separou Moisés para ser o libertador e líder do povo hebreu após o cativeiro egípcio. Ele seria, portanto, o porta-voz de Deus para os homens, aquele que seria responsável por ensinar a vontade de Deus ao povo recém liberto e que precisava ser conduzido.  Moisés havia sido chamado por Deus para erguer novamente a nação de Israel.

Moisés estava a caminho do Egito para se apresentar como libertador de um povo, e era evidente que ele não agia de acordo com seu chamado. Ele iria lembrar para o povo aflito sobre as promessas de Deus, e a aliança com Israel, e ele mesmo não vivia de acordo com a aliança. Ele mesmo não estava considerando a hipocrisia de não circuncidar o próprio filho. 

O patriarca não estava considerando a seriedade e comprometimento necessário para cumprir a ordem dada por Deus, e se dispôs a ser simplesmente um porta-voz, e não um verdadeiro israelita. Ele ensinaria sobre um comprometimento que ele não era capaz de ter. Ele falaria de uma aliança que ele mesmo não praticava em sua família. Ele não estava levando seu chamado a sério, e para ele se tratava simplesmente de ir levar uma mensagem, e não de comprometer a si mesmo e sua família em um compromisso definitivo com Deus. É possível que Moisés achasse que seu chamado seria temporário e breve, de forma que sequer se preocupava em se apresentar irrepreensível.

E o que isso nos ensina? O mensageiro não está acima da sua mensagem. É preciso ser coerente com aquilo que se prega e se vive.

3º Moisés não estava levando a sua família a sério

A aliança com o povo de Israel era uma aliança de sangue. Fazer parte da promessa de Deus consistia, em primeiro lugar, fazer parte do povo de Israel. Ao não circuncidar Gérson, ele estava privando seu filho das promessas de Deus para sua vida. Moisés estava deixando a sua família de fora da sua missão.

E nessa disposição de compreender que a missão de Moisés tinha impacto direto na vida da família, Zípora circuncida Gérson, dando cumprimento ao mandamento do Senhor para vida do menino. E não apenas isso! O ocorrido traz a própria Zípora para a família de Israel, e é por isso que ela chama Moisés de marido sanguinário.

Ela não estava criticando Moisés pelo derramamento de sangue, mas dizendo que se antes o parentesco deles se dava pela aliança com a família da esposa no momento em que foi acolhido, agora eles estavam unidos também pela aliança de Deus para aquela família. Daquele momento em diante a família de Moisés fazia parte da aliança do Senhor, e eram família, e família em Cristo.

E o que isso nos ensina? Não afaste sua família do Senhor, mesmo sob o argumento de estar fazendo a vontade dEle.

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