Introdução
Na última aula ministrada na
disciplina de História das Missões estudamos sobre a história do missionário
Adoniram Judson, e nos deparamos com o seguinte questionamento: Adoniram
aparentemente não obteve êxito na sua função de missionário, pois só depois de
6 anos conseguiu batizar seu primeiro convertido.
O que nos deixou intrigado, é que o
missionário estava enfadado com o seu ministério. Ele se punha a pregar na
praça para birmaneses budistas sem muito êxito, entretanto, em 1.831 ele
percebeu que um grande avivamento havia começado!
Adoniram Judson decidiu dedicar-se à
tradução da bíblia para o birmanês, sem saber que esta seria a base para este
grande movimento de Deus. Aliás, um movimento que começou centenas de anos
antes, gerações e gerações antes da chegada do missionário.
O Deus do livro perdido
O avivamento da Birmânia é a prova
definitiva da misericórdia de Deus e da sua busca pelos seus filhos. Nos
deparamos com dez povos diferentes numa região do sudeste da Ásia que
partilhavam a fé num Deus Todo-Poderoso, cujos ensinos foram perdidos por seus
ancestrais.
A tribo Karen, por exemplo,
acreditavam que um dia o “irmão branco” levaria de volta pra eles o livro de Y’wa,
perdido por seus ancestrais em tempos remotos. Em mais de mil aldeias karen da
Birmãnia, Bukhos (um tipo de mestre,
profetas de Y’wa) mantinham os karen conscientes dos caminhos de Y’wa, para o
qual precisavam voltar seus olhos.
Já os kachin criam em Karai Kasang, um ser sobrenatural e
benigno que excede a compreensão do homem. Esse grande Ser também era
denominado Hpan Wa Ningsang – O Glorioso
que Cria, e Che Wa Ningchang – Aquele
que sabe.
Os lahu mantiveram a tradição de que Gui’Sha – Criador de Todas as Coisas –
dera a lei aos seus ancentras em bolos de arroz, que durante um período de
grande forme foram consumidos. Assim, afirmavam que a sua lei estaria no seu
interior.
O povo wa tinha profetas que surgiam
de tempos em tempos, em nome de Siyeh,
exortando o povo a abandonar práticas que afrontavam o Deus verdadeiro. As
tribos shan e palaung esperavam o cumprimento das profecias de Are-Metaya, o Senhor da Misericórdia.
Os kui esperavam o dia em que um
mensageiro de Deus chegaria com o livro perdido, e da mesma forma, o povo lisu
também aguardava. As tribos naga aguardavam que Gwang – o Deus que tudo
sustenta, traria novamente as palavras que deu ao Seu povo em peles de animais,
que por não terem sido bem cuidadas, foram devoradas por cães.
Por fim, os mizo da Índia acreditavam
em Pathian – que significa Pai Santo –
era o Criador de todas as coisas, o Bondoso que deu seu livro aos ancestrais do
povo, que infelizmente o perderam. Esse é o contexto que Adoniram Judson e os
demais missionários da Birmânia encontraram na sua vida.
Entretanto, pode-se dizer que Judson
preparou o caminho para o grande missionário que iniciou o seu trabalho junto
da tribo karen, e logo eclodiu por todas as demais tribos que aguardavam
sedentas pelo “irmão branco” portador do livro. Seu nome é Ko Thah Byu.
Ko Thah Byu – O apóstolo
dos karen
Podemos concluir que o grande
avivamento da Birmânia começou com a obra de tradução da bíblia por Adoniram
Judson, mas o missionário responsável pelo boom
evangelístico foi Ko Thah Byu, um membro da tribo karen,violento, cruel, e
que teria matado mais de 30 homens antes da sua conversão. Em razão dos seus
crimes, Ko Thah Byu foi preso pelo governo de Burman e vendido como escravo,
tendo sido comprado e liberto por Adoniran Judson.
Ko Thah começou a trabalhar para
Judson, e aos poucos foi aprendendo acerca do evangelho de Jesus Cristo.
Começou a questionar sobre os missionários brancos e o livro que traziam do
Ocidente, até que foi iluminado pelo Espírito Santo, e toda a sua tradição
karen passou a fazer sentido na sua experiência de conversão.
Um casal de missionários chegou a
Rangum para ajudar Adoniram. George e Sarah Boardman iniciaram uma escola para
os convertidos analfabetos, e imediatamente Ko Thah Byu se matriculou, pois
estava decidido a aprender a ler a bíblia birmanesa. Ciente de que era o
primeiro karen a ter conhecimento da chegada do “irmão branco” com a Palavra,
assumiu a responsabilidade de proclamar as boas-novas para o seu povo.
George e Sarah Boardman tinham planos
para iniciar uma nova missão na cidade de Tavoy, no sul da Birmânia, ao que Ko
Thah Byu se voluntariou para ir junto. Chegando ao destino, pediu que fosse
batizado por George, e após o sacramento partiu imediatamente para as montanhas
ao sul, pregando a Palavra em cada tribo karen que encontrava.
Ko Thah Byu enfrentou os perigos da
selva e assassinos pelo caminho, e, em pouco tempo, centenas de ouvintes
começaram a aparecer em Tavoy para ver o “irmão branco”. Boardman começou a
receber dezenas de convites para visitar as aldeias que aguardavam a sua
chegada, para completar o ministério de Ko Thah Byu e levar os ensinamentos de
Y’wa, aguardado por gerações.
Uma dessas tribos guardava um exemplar
dos salmos e hinos, dado por um muçulmano que a visitou, sem ensiná-lo ou traduzi-lo
ao povo. Este exemplar era cultuado liturgicamente, até que Boardman ensinou o
verdadeiro evangelho, e a forma de usar aquela Palavra.
Muitos karen das tribos mais distantes
vinham diariamente conhecer o mestre branco e ouvir as verdades que ensinava.
Sarah Boardman relatou em seus diários que Ko Thah Byu passava dias e noites
lendo e explicando a Palavra para as aldeias que encontrava.
O ministério do apóstolo dos karen deu
origem à um movimento missionário dentro das tribos. Na mesma medida em que iam
sendo batizados, saiam a ensinar a verdade aprendida, conforme Jonathan Wade
pode testemunhar a 320km ao norte de
Tavoy. Esses missionários se deslocaram 420km a noroeste, de forma que quando
os missionários americanos chegaram a Bassein, encontraram 5.000 karens convertidos
e prontos para o batismo!
Ko Thah Byu deixou Tavoy e se dirigiu
para região central da Birmânia. Por quase não descansar, e em razão das
dificuldades da sua empreitada, assim como Judson, o apóstolo dos karen morreu
em poucos anos de tanto trabalhar.
Ko Thah Byu morreu de tuberculose, em
09 de setembro de 1840, e no final da sua correira missionária era carregado no
leito de vila para vila, pregando a Palavra até o fim da vida. Sua história chega
até nós através da biografia escrita por Francis Mason.
Os frutos do ministério
de Ko Thah Byu
A morte do grande missionário karen
não pôs fim ao avivamento. Os karen haviam recuperado o livro perdido, e agora
estavam cientes que os outros povos precisavam receber as boas-novas também.
Assim, aquelas tribos isoladas e menosprezadas pelo povo da Birmânia deu início
às missões transculturais entre as outras nove tribos.
Ainda que fossem consideradas
intelectualmente inferiores pelos povos de tradição budista e taoísta, a
Palavra foi compreendida por eles, que era tão numerosos que alcançavam a marca
de centenas de milhares de pessoas espalhadas pelas selvas da Ásia menor.
Assim, em 1858 os karen pregaram para
os kachin acerca da chegada do livro perdido de Karai-Kasang, de forma que nos anos 90 haviam cerca de 250.000
membros do povo kachin convertidos.
Em 1890, Willian Marcus Young pregou
para os lahu e para os ha acerca da Palavra de Gwi’sha. Seus filhos, Harold e
Vincent atuaram como professores de escola bíblica, e este último foi
responsável pela primeira tradução do Novo Testamento para as línguas lahu e
wa.
Conclusão
O cenário e contexto, bem como o
trabalho de Ko Thah Byu traz diversas reflexões. Em primeiro lugar, a eficácia
da missão não se mede por números, mas por fidelidade à Palavra e vontade de
Deus. Adoniram Judson poderia ser considerado fracassado por qualquer cristão
com uma visão triunfalista do evangelho. Entretanto, vemos que cabia a ele a
tradução da bíblia para o birmanês, a fim de que um dos poucos convertidos do seu
ministério pudesse atuar.
Também resta evidente que a missão é
da igreja, não do missionário. O que começou com Adoniram ganhou força quando
cada cristão assumiu a sua tarefa. Judson traduziu a bíblia, o casal Boardman
preparou o obreiro e ensinou os novos convertidos, e Ko Thah Byu foi de cidade
em cidade pregando-a para todas as tribos karen.
O mais importante! É Deus quem manda o
missionário; é Deus quem prepara o caminho! Judson, os Boardman e demais
missionários birmaneses encontraram corações preparados para receber a mensagem
do evangelho de Cristo! O mesmo Deus que os enviou, suplantou a fé no coração
dos ancentrais daquela tribo, para aguardarem da redenção do seu povo!
Ademais, o evangelho eleva o homem das
trevas e da ignorância. As tribos karen eram nômades, isoladas pelas selvas, e
após o contato com Cristo, foram alfabetizadas pelos missionários a fim de
poderem ler a Palavra. Um povo inculto e nômade, em 1995, haviam fundado uma
escola para seus filhos, como a Nichols'
Sgaw Karen High School, em Bassein, com aproximadamente 1.400 alunos, cujo
diretor e professores não eram missionários estrangeiros, mas cristãos karen.
Há outras escolas em Henzada, Tharrawaddy, Toungoo, Moulmein e Rangum.
Por fim, é belo admirar a obra redentora
de Cristo na vida de um homem. Ko Thah Byu, assim como Paulo, foi um homicida,
um assassino que no tempo certo foi encontrado por Cristo e conheceu a graça de
Deus. Não há extensão de pecado maior do que a abundância da misericórdia de
Deus e do seu amor para/com os Seus filhos!
Que Deus seja louvado neste trabalho.
Pedro Silva Drumond.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Richardson,
Don. O fator Melquisedeque: o testemunho de Deus nas culturas por todo o mundo/
Don Richarson ; tradução Neide Siqueira. – 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Ko Tha Byu Leads “Stupid Wild Buffalos” to Enlightenment (Ko Tha Byu lidera “búfalos selvagens e estúpidos” para Iluminação), disponível em:
Elder Tha Byu, illiterate but
effective evangelist (Ancião Tha Byu,
evangelista iletrado, mas eficaz), disponível em:
Ko Thah Byu:
Murderer and Apostle to the Karen (Ko Thah Byu: Assassino e
Apóstolo de Karen), disponível em:
Burma and the Karens (Burma e os Karens), disponível em: